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Atendimento precário mata mais do que a falta de acesso a médicos, diz estudo

Julia Toledo6 de setembro de 20188min0
Sem Título-4
No Brasil, são 153 mil mortes por ano por causa de atendimento médico de má qualidade. Estudo foi feito em 137 países de baixa e média renda.

Estima-se que 5 milhões de mortes por ano em países de média e baixa renda sejam resultado de atendimento médico precário, de acordo com o primeiro estudo para quantificar o impacto de sistemas de saúde de má qualidade em todo o mundo. O número ultrapassa as mortes por falta de acesso aos sistemas de saúde (3,6 milhões).

Os resultados foram publicados pelo jornal científico “The Lancet”. Ela foi conduzida pela Comissão de Saúde Global de Alta Qualidade, um projeto do próprio jornal científico que tem duração prevista de dois anos. Financiada pela Fundação Bill e Melina Gates, ela reúne 30 acadêmicos, formuladores de políticas e especialistas em sistemas de saúde de 18 países que estudaram como medir e melhorar a qualidade dos sistemas de saúde em todo o mundo.

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Embora muitos dos países de baixa e média renda tenham feito progressos significativos na melhoria do acesso aos serviços de saúde, o estudo mostra que o atendimento precário no sistema de saúde é agora responsável por um número maior de mortes do que a falta de acesso.

Falta de respeito, consultas rápidas e falhas, e preconceito estão entre principais problemas listados pelos pesquisadores.

Estima-se que o número total de mortes por cuidados de baixa qualidade por ano seja cinco vezes maior do que as mortes globais anuais por HIV/AIDS (cerca de um milhão) e mais de três vezes maior que as mortes por diabetes (1,4 milhão).

“O cuidado de qualidade não deve ser um privilégio da elite ou uma aspiração para um futuro distante. Deve ser o DNA de todos os sistemas de saúde”, disse a presidente da Comissão, Dra. Margaret E Kruk, da Universidade de Harvard.
“O direito humano à saúde não tem sentido sem um atendimento de boa qualidade. Sistemas de saúde de alta qualidade colocam as pessoas em primeiro lugar. Elas geram saúde, conquistam a confiança do público e podem se adaptar quando as necessidades de saúde mudam. Os países saberão que estão a caminho de sistemas de saúde de alta qualidade ​​quando os profissionais de saúde e os formuladores de políticas escolhem receber cuidados de saúde em suas próprias instituições públicas.”

O Brasil neste cenário
Segundo a estimativa do estudo, no Brasil, 153 mil mortes por ano sejam causadas pelo atendimento de má qualidade e 51 mil por falta de acesso a atendimento de saúde.

Na Índia, estima-se que 1,6 milhões de mortes por ano sejam por causa do atendimento de má qualidade (e mais 838 mil mortes devido ao acesso insuficiente ao atendimento); na China, 630 mil mortes por ano foram devidas a cuidados de má qualidade (e 653 mil mortes devido a acesso precário). Na Nigéria, 123 mil mortes por ano foram devidas a cuidados de má qualidade e 253 mil devido a acesso insuficiente.

Estes são valores conservadores após a subtração de casos de doença que deveriam ter sido evitados por fortes medidas de saúde pública.

“O impacto de cuidados de má qualidade vai muito além da mortalidade, mas pode levar a sofrimento desnecessário, sintomas persistentes, perda de função e falta de confiança no sistema de saúde. Outros efeitos colaterais são recursos desperdiçados e gastos catastróficos com a saúde. Dado as nossas descobertas, não é de surpreender que apenas um quarto das pessoas em países de baixa e média renda acreditem que seus sistemas de saúde funcionam bem”, acrescenta Dr. Kruk.

Os impactos do atendimento precário
A Comissão encontrou problemas sistemáticos na qualidade do atendimento médico em vários países, em uma variedade de condições de saúde e nos cuidados primários e hospitalares. Dentre os problemas encontrados destacam-se:

Aproximadamente 1 milhão de mortes por doenças neonatais e tuberculose ocorreram em pessoas que usaram o sistema de saúde, mas receberam cuidados precários.

A baixa qualidade é um grande fator de mortalidade para os serviços de saúde em todas as condições nos países periféricos, incluindo 84% das mortes por doenças cardiovasculares, 81% das doenças evitáveis ​​por vacinação, 61% das condições neonatais e metade das lesões maternas, acidentes em estrada, tuberculose, HIV e outras mortes por doenças infecciosas.

O acesso insuficiente aos cuidados foi um contribuinte proporcionalmente maior para as mortes por câncer (89%), condições mentais e neurológicas (85%) e condições respiratórias crônicas (76%), destacando a necessidade de aumentar o acesso a essas condições juntamente com a melhoria da qualidade.

Dados de mais de 81 mil consultas em 18 países descobriram que, em média, mães e crianças recebem menos da metade das ações clínicas recomendadas em uma visita típica, incluindo falhas no check-up no pós-parto, manejo incorreto da diarréia ou tuberculose e falhas ao monitorar a pressão arterial durante o trabalho de parto.

Um terço (34%) das pessoas em países de baixa e média renda relatam experiência ruim de usuários, citando falta de respeito, longos tempos de espera e consultas curtas. Da mesma forma, a confiança nos sistemas de saúde são baixas.

O atendimento de baixa qualidade é mais comum entre os vulneráveis ​​da sociedade. As mulheres mais ricas que recebem cuidados pré-natais têm quatro vezes mais probabilidade de relatar medições de pressão arterial e exames de urina e sangue em comparação com as mulheres mais pobres;

mães adolescentes são menos propensas a receber cuidados baseados em evidências; e as crianças de famílias mais ricas são mais propensas a receber antibióticos.

Pessoas com condições de saúde estigmatizadas, como HIV/AIDS, saúde mental e transtornos de abuso de substâncias, bem como outros grupos vulneráveis, como refugiados, prisioneiros e migrantes, são menos propensos a receber cuidados de alta qualidade.

 

Fonte: G1.com.br

Julia Toledo


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