Cuidadores devem ser vistos como mão-de-obra prioritária
Se há um mercado que não para de se ampliar é aquele voltado para atender às demandas do envelhecimento da população. De acordo com estimativa da PHI, organização norte-americana sem fins lucrativos que milita pela valorização dos cuidadores, com o lema “Quality care through quality jobs” (“Cuidado de qualidade através de empregos de qualidade”), até 2024 haverá um incremento de mais de 600 mil postos para esses trabalhadores nos EUA – uma expansão maior do que a de qualquer outra ocupação. Ainda assim, o déficit dessa mão-de-obra alcançará a marca de 5 milhões nesse período. O desafio também se aplica ao Brasil e poderá se transformar numa bola de neve, obrigando algum membro da família a abandonar o mercado para assumir essa função, com reflexo negativo para a economia do país.
A grande questão é como treinar adequadamente uma mão-de-obra cujo trabalho se tornará cada vez mais complexo. Esse era o tema do seminário que acompanhei pela web ministrado por Angelina Del Rio Drake, diretora-executiva da PHI. “É preciso ampliar as habilidades de um cuidador, porque assistimos ao crescimento do número de idosos com comorbidades que vivem em suas comunidades”, ela enfatizou, acrescentando que esse profissional tem que entender as condições de saúde do idoso e os riscos das enfermidades; conhecer seu plano de saúde; e, principalmente, engajar-se na manutenção de hábitos saudáveis da pessoa que está sob seus cuidados: “assim conseguiremos reduzir o número de admissões hospitalares”.
No capítulo hábitos saudáveis, há dois pontos cruciais relegados a segundo plano: o primeiro é sobre as ferramentas que o cuidador tem para administrar seu próprio estresse no dia a dia. O segundo é ainda mais difícil: qual é o papel desse profissional para estimular o idoso e evitar seu isolamento? Sobre o estresse a que é submetido quem desempenha essa função, coleciono reclamações de cuidadoras (quase sempre são mulheres) sobre grosserias e até xingamentos. Como evitar que isso envenene a relação? Sejamos realistas: no Brasil, uma situação bastante comum é a empregada doméstica ser “alçada” à nova condição sem treinamento prévio – e isso para quem tem condições de bancar esse custo.
Ano passado, a PHI elaborou uma lista com 60 iniciativas que ajudariam a diminuir o impacto do déficit dessa mão-de-obra, sugerindo que imigrantes, homens e idosos jovens fossem incorporados ao contingente de cuidadores, formado majoritariamente por mulheres negras. Com treinamento de qualidade e maior qualificação, a remuneração se tornaria atraente. No Brasil, a proposta que regulamenta a profissão continua parada no Congresso, depois de ter sido aprovada, em fevereiro, pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. De acordo com o projeto (PLC 11/2016), os profissionais devem ter Ensino Fundamental e curso de qualificação na área, além de bons antecedentes criminais e atestados de aptidão física e mental. É possível que, quando entre em vigor, já esteja defasada em relação às demandas do mundo real.
Fonte: G1.com.br