Cachorros ganham cama e comida enquanto aguardam adoção em rodoviária de MG
Animais de rua são cuidados por taxistas — Foto: Camilla Resende/G1
A taxista Mariângela Marques de Oliveira é uma das principais responsáveis pelo projeto. Apaixonada por animais desde que era pequena, ela conta que cresceu vendo cachorros de rua na rodoviária.
“Eu sou taxista só há 10 anos, mas cresci aqui porque meu pai também é taxista. A gente castrava, doava, apareciam mais e a gente resgatava. Muitas pessoas acham que o animal está na rua porque quer, mas não é assim. A maioria já teve um lar e foi abandonado e outros já nasceram ali e não tem como sair dessa situação”, diz.
Ainda segundo ela, a ideia do projeto surgiu depois que alguns frequentadores do local se mostraram incomodados com a presença dos cães. O assunto tomou maiores proporções quando fizeram uma postagem nas redes sociais sobre o tema.
“Uma moça escreveu que estava incomodada com os cachorros na rodoviária. Aquilo revoltou um monte de gente, porque eles não fazem nada, são cachorros tranquilos. O pessoal das ONGs se mobilizou e foi até o secretário de Serviços Públicos. Tivemos algumas conversas conseguimos que deixassem os cachorros ficarem lá para adoção “, lembra.
Placa colocada por taxistas e pelas ONGs pede respeito aos animais — Foto: Camilla Resende/G1
Um cachorro em especial, apelidado pelos taxistas como Negão, é o verdadeiro xodó de Mariângela. O animal nasceu nas ruas e sempre foi cuidado por ela.
“A mãe, o pai e os filhotes deram cria ali por perto e ele veio filhotinho e foi crescendo junto com a gente. Alguns foram atropelados, outros o CCZ levou e sobrou só ele e ele acabou ficando e a gente cuidando dele. Hoje é o nosso patrimônio”, brinca.
Mariângela cuida de ‘Negão’ desde que ele era filhote — Foto: Camilla Resende/G1
Apoio de voluntários
Para manter os animais foi preciso ajuda de voluntários e apoio da prefeitura e da administração da rodoviária. Além disso, 10 dos 20 taxistas que trabalham diariamente na rodoviária tomam conta dos cachorros, que são vacinados, vermifugados e passam por consultas com veterinários sempre que precisam.
Mariângela conta que todos os serviços e a alimentação são custeados por meio de vaquinhas e rifas.
“É um trabalho conjunto, tanto dos taxistas, quanto do pessoal das ONGs. A gente também recebe muitas doações. Recebemos medicamentos, casinhas, um pet shop dá as rações para eles e tem duas veterinárias que atendem. A gente tem um suporte para tentar o máximo possível minimizar a situação deles. Não dá para levar todos para a casa, mas a gente consegue minimizar aquela situação de abandono”, afirma.
Gastos com alimentação e exames são custeados por meio de vaquinhas e rifas — Foto: Camilla Resende/G1
Animais de rua
De acordo com a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2018, a população animal de Poços de Caldas é superior a 22,4 mil. O número representa tanto cães e gatos que têm donos quanto aqueles que ficam nas ruas.
Muitos deles são cuidados por ONGs de proteção aos animais, que se encarregam de resgatá-los, salvá-los e até conseguir um lar temporário ou fixo. Uma delas é a União Movimento Animal, antiga Ação Movimento Anima (AMA), que surgiu em 2012. Com uma média de 20 voluntários ativos, o grupo ajuda em divulgação nas redes sociais, resgates de animais abandonados e vítimas de maus-tratos e alguns até oferecem a própria casa como lar temporário.
Ação em Poços de Caldas (MG) teve início no último mês de dezembro. — Foto: Camilla Resende/G1
Thaís Leca, uma das voluntárias do movimento, conta que a página nas redes sociais recebe muitos pedidos de resgate. “Recebemos mais ou menos 5 pedidos de ajuda por dia, desde animais abandonados até vítimas de maus-tratos. A maior dificuldade é conseguir lar temporário para todos e dinheiro para pagar as contas”, diz.
Por isso, ela ressalta que as doações são importantes, pois muitos animais têm exames veterinários e até cirurgias e tratamentos custeados com dinheiro que vem de rifas. “Normalmente, as doações e o valor arrecadado com as rifas não vem para a ONG, é destinado para o lar temporário que está com o caso x”, explica.
Adoção
Desde que a campanha começou, dois cachorros foram adotados por pessoas que passaram pelo local. De acordo com Mariângela, as adoções são seguras e os animais recebem acompanhamento no período de adaptação.
“Depois que a pessoa vem e adota, tem todo um acompanhamento. A gente vai fazer algumas visitas e sempre mantém contato. No início é um pouco difícil, porque eles sempre foram acostumados com as ruas e acabam se sentindo meio presos, mas logo se adaptam. Um dos que já foi adotado já está adaptado e sai para passear na coleira”, explica.
Adoções são acompanhadas pelos taxistas e pelas ONGs — Foto: Camilla Resende/G1
Para ela, a ideia é mais do que oferecer um espaço seguro para animais de rua, passa também por gerar empatia e respeito.
“Queria que as pessoas tivessem um pouco mais de respeito pelo próximo, não só pelos animais, mas pelas pessoas também. Hoje não sei o que está acontecendo, as pessoas não estão tendo mais amor ao próximo. “, conclui.
Atualmente, dois cães aguardam por adoção na rodoviária de Poços de Caldas (MG) — Foto: Camilla Resende/G1
Fonte: G1 Sul de Minas – EPTV