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Projeto de lei quer adotar quarto ano do ensino médio em Minas

Redação18 de junho de 20206min0
ProfessorAulaEscola13242
Um projeto de lei apresentado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) quer instituir um quarto ano do ensino médio no Estado em 2021.

A proposta, do deputado Dalmo Ribeiro (PSDB), prevê que o ano extra seria opcional, disponível a estudantes que cursam o terceiro ano do ensino médio em 2020 e se sentirem prejudicados devido às condições de aula impostas pela pandemia de coronavírus.

Sendo aprovado, o Projeto de Lei 2.046 de 2020 obrigaria realização de mudanças no Plano Estadual de Educação, que estabelece as diretrizes do ensino em Minas até 2027. O presidente do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais (CEE/MG), Hélvio de Avelar, explica que alterações no plano precisariam ser avaliadas pelo conselho e diz não considerar a ideia de um quarto ano positiva neste momento. “É como se jogasse este ano fora e fizesse outro para compensar o que não foi feito neste. Todas as escolas, inclusive o sistema estadual, têm algum sistema de ensino remoto. Um quarto ano traria um impacto gigante, porque precisaria ser feito treinamento de professores e disponibilização de espaço físico ou seria algo sem muita qualidade ou sentido. Botar um ano por botar, sem saber o que o aluno vai fazer, o que e como vai ser recuperado e se existem professores o suficiente para isso é bem complicado”, diz.

Ele lembra, porém, que já existe a possibilidade de escolas oferecerem atividades optativas após o terceiro ano do ensino médio aos estudantes. Membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, o professor Chico Soares pontua que a reforma do ensino médio — que ainda não foi completamente adotada na prática — amplia ainda mais essas possibilidades. “Um quarto ano não é nada de outro mundo. Não podemos impedir o aluno de terminar o ensino médio neste ano, mesmo se for de forma precária, porque é direito dele. Mas, se a ideia é fazer nossa parte oferecendo mais a ele, sem tirar esse direito, me parece razoável”.

Ao mesmo tempo em que permitiria que alunos passassem mais tempo estudando, a opção do quarto ano poderia “atrasar” outros aspectos da vida dele, pondera Soares. A professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do Observatório da Juventude, Shirlei Sales, concorda. Ela pontua que a formação no ensino médio é pré-requisito para muitos jovens brasileiros conseguirem empregos mais qualificados e também coloca em dúvida se todos seriam capazes de equilibrar mais um ano de estudo com necessidade urgente de renda.

“Seria ótimo que toda a juventude tivesse condições econômicas de se debruçar por mais um ano no ensino médio. Mas, infelizmente, essa não é a situação da nossa população brasileira. A estimativa é de empobrecimento dramático no país, o que vai levar a população de jovens a posições ainda mais precárias de trabalho, o que dificulta que equilibre esse trabalho com a escola”, diz.

Por outro lado, Sales reflete que oferecer a possibilidade de mais um ano no ensino médio seria uma forma de mitigar danos ao direito de aprender dos estudantes, que ela defende ter sido abalado durante a pandemia. “Mesmo os alunos da rede privada estão com o terceiro ano bastante comprometido, porque a educação a distância é algo completamente diferente do que tem sido desenvolvido até pela rede particular, que é quase um faz de conta. O que está sendo desenvolvido hoje é apenas transferência mecânica do que se fazia na sala de aula presencial para telas”, critica.

A estudante Fernanda Ferreira, 17, cursa o terceiro ano do ensino médio na rede estadual e, apesar de ver com bons olhos a possibilidade de um quarto ano para quem desejar, diz que não escolheria a opção. “Se tudo isso não tivesse acontecido, eu teria mais chances de passar no vestibular neste ano, mas estou me esforçando bastante para tentar ser o melhor que eu conseguir”, diz — o objetivo é passar no vestibular para Arquitetura na UFMG ainda em 2020. Já Breno Marques, 17, que completa o ensino médio na rede privada, cogita cursar o quarto ano, se ele for implementado: “Não me adaptei direito ao ensino remoto, porque foi uma mudança muito brusca. Talvez eu fizesse o quarto ano, mas não onde faço hoje, porque a mensalidade é cara”.

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG) afirma que, por respeito à autonomia entre os poderes, não comenta projetos de lei ainda em tramitação. “É importante destacar que, no retorno às atividades presenciais, a rede aplicará uma avaliação diagnóstica que servirá para traçar o plano de revisão de conteúdo individualizado para cada estudante. Assim, será possível traçar estratégias de reforço escolar, por exemplo”, finaliza.

Fonte: O Tempo

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