Vacina russa contra o coronavírus: o que se sabe até agora
O mundo foi surpreendido pelo anúncio do presidente da Rússia, Vladmir Putin, na manhã dessa terça-feira (11/8) de que o país registrou a primeira vacina contra COVID-19.
A promessa é que o imunizador seja distribuído em larga escala já a partir de janeiro de 2021. Mas, segundo o Ministério da Saúde do país, a aplicação em grupos específicos deve começar já em outubro deste ano.
Como funciona
O desenvolvimento da imunização está a cargo do Ministério da Defesa do país junto ao Centro Nacional de Investigação de Epidemiologia e Microbiologia (Gamaleya). A vacina foi batizada de “Sputnik V”, em homenagem ao satélite soviético lançado nos anos 1950 em órbita da terra com acréscimo de “V” em referência à vacina.
A substância fabricada em Moscou é feita a partir da técnica “vetor viral não replicante”. O método consiste em usar um vírus que não pode se reproduzir para carregar o RNA, material genético do coronavírus. Assim, o corpo do paciente produz os anticorpos necessários para enfrentar uma infecção antes do contato real com a doença.
Incertezas
Diversos cientistas ao redor do mundo questionaram a rapidez do anúncio, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) que recomendou “prudência”. O porta-voz da entidade, Tarik Jasarevic, declarou em videoconferência que a organização acompanha o desenvolvimento dos estudos russos. “Estamos em contato estreito com os russos e as discussões continuam. A pré-qualificação de qualquer vacina passa por procedimentos rigorosos”, afirmou.
Os testes da vacina russa começaram em junho e usaram apenas 32 voluntários. Pelas informações disponíveis até então, o produto do Gamaleya estaria apenas na primeira fase de testes, que consiste em uma avaliação preliminar sobre efeito e segurança.
Ainda seria necessária uma segunda etapa com ampliação do número de voluntários para verificar a dosagem necessária em determinada população e uma terceira, feita em escala de milhares de pacientes, para que a eficácia e segurança sejam certificadas em pessoas com perfis diferentes. A busca por uma resposta rápida à pandemia do coronavírus gera dilemas éticos para cientistas ao redor do mundo.
Sem esses dados, não é possível saber ao certo aspectos importantes sobre o fármaco, como por exemplo, quanto tempo dura a resposta imune provocada por ele no organismo.
Segurança
Apesar das incertezas sobre a vacina, que incluem também a falta de publicação de artigos científicos com os resultados dos testes feitos até agora, o presidente Vladmir Putin segue afirmando que a substância é segura. Ele declarou inclusive que uma das filhas participou da etapa de testes e já foi imunizada.
Em entrevista coletiva nesta terça, o diretor assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, afirmou que é preciso que a OMS tenha acesso aos dados das pesquisas para validá-las, entretanto, ele também lembrou que a falta da pré-qualificação emitida pela entidade não impede que laboratórios produzam as substâncias dentro do território de seus países de origem.
“Os produtores (de vacinas) pedem à OMS uma pré-qualificação porque é uma espécie de selo de qualidade. E então há um processo de revisão e avaliação dos dados de segurança e eficácia que foram colhidos nos ensaios clínicos. A OMS faria isso para qualquer vacina candidata”, declarou.
Brasil
No anúncio da vacina, Putin declarou que vários países estavam interessados em assinar acordos para garantir acesso ao fármaco. Entre os citados, está o Brasil – não por interesse do governo federal, mas por um acordo anunciado com o Paraná. Uma reunião técnica para avançar nas negociações está marcada para a próxima quarta-feira (12/8).
Ainda assim, não há certeza de que o plano será concluído. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por autorizar registros desse tipo no Brasil, informou, em nota, que não recebeu pedidos para avaliar a aplicação ou pesquisa da vacina Russa. “É no momento do registro que é verificado se a vacina é fabricada e controlada dentro dos padrões de qualidade esperados pelos regulamentos técnicos”, declarou o texto.
O Brasil tem atualmente dois acordos de participação nos testes de vacinas para COVID-19, um que garante 100 milhões de doses do imunizante testado por Oxford e outro que inclui até 120 milhões de unidades da vacina produzida pelo laboratório Sinovac, da China. Em todo o mundo, já foram compradas antecipadamente 5,7 bilhões de doses em acordos feitos por diferentes pesquisadores e países.
Fonte: EM