Os efeitos da quarentena na saúde mental de crianças e adolescentes
Ainda que eles sejam igualmente vulneráveis à contaminação, as manifestações dos sintomas quase não aparecem ou são mais brandos do que nos adultos e idosos. Entretanto, a vulnerabilidade psicológica deles é bem maior.
Nesse contexto, com a colaboração do psicólogo do Hospital Santa Mônica, Antônio Chaves Filho, apresentamos as melhores alternativas para minimizar as consequências do isolamento social sobre a saúde mental na infância e na juventude. Confira, ainda, como as mudanças na rotina escolar e as questões de convivência exigem atenção especial e medidas preventivas mais eficazes. Boa leitura!
Conheça os impactos da ausência de rotina escolar e convivência
A pandemia de Covid-19 pegou a todos de surpresa. Ninguém teve tempo de se preparar para enfrentar as consequências de uma doença desconhecida e com sintomas semelhantes aos de outras viroses. Contudo, crianças, adolescentes e pessoas mais jovens foram menos afetadas pela doença, pois apresentam menos comorbidades que os grupos de risco.
No entanto, mesmo as manifestações dos sintomas físicos sendo menores entre a população jovem, eles estão mais vulneráveis a problemas emocionais graves devido às situações e vivências que geram sofrimento. Nesse sentido, a atenção e o cuidado com a saúde mental desse grupo é essencial para a redução dos perigos à saúde mental, um dos efeitos da quarentena.
A necessidade de diminuir a disseminação da doença exige a manutenção do isolamento social, condição que gera ansiedade e instabilidade emocional em todas as pessoas. Entretanto, em crianças e adolescentes, a adequação a certas situações como a limitação da liberdade de ir e vir, a necessidade de afastamento de parentes de grupo de risco e de amigos próximos impôs drásticas mudanças na rotina.
Nessas circunstâncias, essas questões ainda se tornam mais preocupantes quando se considera o risco de ser infectado e a insegurança que isso representa. Também é preciso considerar crianças e adolescentes que apresentam fragilidades ligadas a doenças crônicas, distúrbios genéticos ou transtornos mentais. Há, ainda, os filhos de trabalhadores da área de saúde, cujos pais estão alocados em hospitais de referência de Covid-19.
Essas famílias sofrem impactos ainda maiores devido à ameaça constante de infecção ou pela adesão aos protocolos de defesa da saúde que requer o afastamento entre os membros. Viver sob essas circunstâncias eleva as chances de desenvolver ansiedade, depressão, consumo abusivo de álcool, propensão às drogas e outras consequências que exigem intervenção profissional.
Entenda os efeitos da quarentena na saúde mental de crianças e adolescentes
Quando não tratados, os distúrbios emocionais que surgem na infância e na adolescência podem representar graves prejuízos à idade adulta. A preocupação da Saúde Pública é ainda maior devido às dificuldades de controlar os episódios de ansiedade, vistos com mais frequência na pandemia de coronavírus.
Quando comparados às condições normais, o risco de sequelas resultantes dos desajustes mentais na juventude é muito mais significativo durante esse período de quarentena. Por isso, os pais e responsáveis por esses indivíduos devem estar atentos aos sinais que sugerem algum tipo de desequilíbrio de ordem emocional.
Considerando que o estresse psicológico é um dos mais relevantes fatores de risco passíveis de prevenção, antecipar ações favoráveis ao controle dessas intercorrências é fundamental à proteção contra os efeitos da quarentena. Isso porque os transtornos mentais decorrentes de situações estressoras podem tomar maiores proporções na pandemia e prejudicar o desenvolvimento mental e físico.
Assim, é necessário minimizar os impactos negativos das mudanças de rotina, principalmente no que se refere às alterações do ambiente com aulas presenciais para o universo digital. Tais transformações ocorreram rapidamente, por isso nem todos os estudantes conseguiram adaptar-se de forma segura.
Além disso, a ausência dos colegas e a falta de interação com a comunidade escolar aliadas à responsabilidade de cumprir, sozinho, as tarefas da escola afeta diretamente a estabilidade emocional de crianças e adolescentes.
Listamos alguns dos maiores impactos sobre o estado psicológico desse grupo durante a pandemia. Veja quais são:
- insônia;
- irritabilidade;
- crise de ansiedade;
- dificuldade para adaptação ao confinamento;
- falta de paciência para lidar com os pais e irmãos;
- tendência ao desenvolvimento de episódios depressivos;
- pensamentos e emoções resultantes de situações estressantes.
Veja como funciona a internação nas férias
A saúde mental não se limita apenas ao atendimento psiquiátrico, mas deve ser contextualizada sob uma vertente mais ampla e centrada em medidas preventivas. Os profissionais de psiquiatria são especializados na atenção de crianças e adolescentes com dificuldades comportamentais e que necessitam de amparo e de compreensão.
Quando ignorados, os distúrbios emocionais que afetam esse grupo podem comprometer não apenas o desempenho escolar, mas também despertar gatilhos associados à agressividade, rebeldia, vício em álcool, abuso de entorpecentes, entre outros. Como a maioria dos casos de dependência química tem início na juventude, o ideal é buscar alternativas para frear esses riscos.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) elaborou uma cartilha voltada para a necessidade de cuidados com a saúde mental de crianças e adolescentes durante a pandemia. O material alerta sobre a importância de os profissionais da saúde ficarem atentos às demandas de atenção associadas a essa fase.
Nesse contexto, a internação nas férias pode representar uma saída eficaz a fim de minimizar questões relacionadas à interação familiar, mudança na rotina estudantil, além de reduzir os riscos de violência doméstica e abuso sexual. Durante as férias escolares, o paciente tem mais tempo e tranquilidade para se submeter ao tratamento.
Fonte: Hospital Santa Mônica