Butantan diz que pode negociar vacina com estados e municípios
O Instituto Butantan afirmou nesta quinta-feira (28) a possibilidade de negociar a vacina Coronavac diretamente com estados e municípios, se o governo federal continuar não manifestando interesse formal nas 54 milhões de doses oferecidas. O instituto não descarta ainda a venda dos imunizantes a outros países.
“Temos esse compromisso inicial com o Ministério, mas nós temos uma solicitação muito grande, não só dos países da América Latina, como também de estados e municípios. Então precisamos de fato fazer esse planejamento. O Butantan tem assinado cartas de intenção com a grande maioria dos estados e com muitos municípios”, afirmou o diretor, Dimas Covas, à Globonews.
Em Minas Gerais, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, informou que as negociações com o laboratório americano Covaxx avançam, mas não deu prazos. A intenção é que o governo do Estado adquira 50 milhões de doses e disponibilize-as ao Ministério da Saúde. “São as conversas mais avançadas que temos, eles estão indo para a terceira fase de estudos e só depois podemos ver como será a aprovação na Anvisa. Nenhum Estado vai comprar só para ele, isso é muito ruim, fragiliza o sistema”, destacou o secretário, que ressaltou que em um primeiro momento importaria as vacinas, mas futuramente a tecnologia poderia ser repassada a Funed.
“Esperamos que seja logo, talvez no meio do ano já temos alguma definição”.
Ainda segundo o secretário, as tratativas frustradas com a empresa chinesa Sinopharm, sobre a vacina contra o coronavírus, começaram em agosto do ano passado. Mas as conversas não teriam evoluído por distanciamento de ambas as partes. Ele afirmou ainda que, caso não haja atraso em repasse de doses pelo Ministério da Saúde, todo grupo prioritário deve ser vacinado até maio.
“Estamos em contato frequente com diversos fabricantes. Mas acabamos nos distanciando, porque as pesquisas não estavam no nível que precisaríamos, é algo natural no processo de negociação. Nós prezamos pela segurança”, destacou.
Na avaliação da pesquisadora Ana Paula Fernandes, que atua no CT Vacinas, projeto ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), à Fiocruz Minas e ao Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), tendo em vista o cenário de desorganização do governo federal qualquer iniciativa que é valida.
“O ideal seria um plano planejado, centralizado e organizado, mas no contexto de hoje qualquer iniciativa que visa a ampliação da capacidade de vacinação, desde que seja vacinas aprovadas, é extremamente válida. As mortes estão aí, estamos com dificuldade de dar assistência, a economia está sofrendo, a vacina é a única solução para resgatar a saúde e a economia”, pontuou.
O infectologista e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Greco pondera. “Está existindo uma pressão muito grande, o Butantan nem tem a vacina e está pressionando. Vacina é pelo SUS, é um plano que pertence ao Ministério da Saúde. Estados mais ricos compram na frente, aí fecham fronteiras de quem já está vacinado? O vírus não circula assim. Tem que haver uma distribuição igualitária e democrática na perspectiva nacional”, avalia.
Outro lado
Por meio de nota, o Instituto Butantan informou que enviou ofício ao Ministério da Saúde para que possa se planejar logisticamente a sua produção com a devida antecedência. “Durante a urgência de uma pandemia, não é possível se limitar à frieza da burocracia enquanto as ações de combate ao coronavírus podem ser mais ágeis. A prioridade do Butantan é e sempre foi atender à demanda brasileira pela vacina contra o novo coronavírus”, dizia o texto.
Segundo a nota, o Instituto tem capacidade para produzir outras 40 milhões de doses extras para atender a demanda de outros países da América Latina que precisam da vacina para imunizar suas populações e que já manifestaram interesse em adquirir o imunizante desenvolvido pelo instituto em parceria com a Sinovac.
Já o Ministério da Saúde o Ministério da Saúde confirmou que as doses não estão compradas, mas afirmou que pode adquiri-las formalmente até maio. “O Contratante (Ministério da Saúde) possui até o dia 30 de maio para manifestar sua opção de compra das 54 milhões de doses adicionais. Deve-se nesse momento priorizar o cumprimento do objeto contratado”, argumentou.
Em nota, o órgão reforçou que tem exclusividade na compra dessas doses, portanto o Butantan não poderia exportá-las para outros países, estados ou municípios.
Fonte: O Tempo