Vacinação contra a Covid deve terminar no país em junho de 2023
Com o ritmo de vacinação que tem hoje, o Brasil só terminará a imunização de sua população adulta contra a Covid no dia 9 de junho de 2023. É o que aponta uma plataforma disponibilizada pela USP a partir de dados do Ministério da Saúde sobre doses aplicadas no país.
O site, de acesso gratuito, mostra quando cada município poderá terminar a imunização com duas doses da população se o ritmo da vacinação não for mais acelerado. Nos cálculos, é considerado o ritmo de vacinação dos últimos 30 dias, conforme os dados do ministério – que costumam ser um pouco defasados em relação aos levantamentos do Vacinômetro da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).
Para Belo Horizonte, a previsão é de 30 de abril de 2022, mas a realidade é muito diferente para as cidades vizinhas. Para Governador Valadares, na região do Rio Doce, a estimativa é 6 de janeiro de 2023, enquanto para Ribeirão das Neves, na metropolitana, é 20 de maio de 2026.
Isso acontece porque a distribuição de doses para cada município não é feita de maneira proporcional à população, mas, sim, a partir de estimativas de grupos prioritários. As cidades que receberam um maior volume de doses terminariam a vacinação antes dos municípios que conseguiram poucas unidades, mesmo tendo um grande porte.
A plataforma mostra também diversos gargalos enfrentados pelos municípios, como os números de pessoas que já receberam a primeira dose, mas ainda esperam para estar completamente imunizadas. Apresenta ainda os erros encontrados nos cadastros disponibilizados por cada município.
“A nossa intenção é oferecer para a população uma forma de entender melhor os dados do Ministério da Saúde. Normalmente, a análise dessas informações requer um conhecimento que o cidadão comum não tem”, afirma o professor Krerley Oliveira, coordenador do Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados da Universidade Federal do Alagoas (Ufal), que participa da plataforma ao lado do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria da Universidade de São Paulo (CeMEAI/USP).
De acordo com o pesquisador, os dados revelam uma grande crise sobre o uso da segunda dose. Neste momento, as prefeituras estão resolvendo a imunização de milhões de brasileiros que ficaram com o cronograma da Coronavac atrasado. Em breve, o problema poderá se repetir com outro fabricante.
“Quando se olha o gráfico sobre as demandas por segunda dose, percebe-se um aumento na demanda por unidades da Astrazeneca. Em agosto, serão necessárias 12 milhões de doses desse fabricante para completar o esquema vacinal de brasileiros. Esse é um compromisso que o governo assumiu e deve cumprir”, diz Oliveira.
A mais recente projeção do Ministério da Saúde para vacinas que serão recebidas a cada mês indica que a pasta espera adquirir 36,9 milhões de doses da AstraZeneca em agosto. Mas, como a Fundação Oswaldo Cruz só deve entregar imunizantes fabricados a partir de um ingrediente farmacêutico ativo (IFA) 100% nacional em outubro, a entrega pode não ser como esperado se houver novos atrasos na importação da matéria-prima da China.
Esta não é a primeira vez que o pesquisador desenvolve uma plataforma que analisa os dados para ajudar gestores na aplicação de políticas públicas. No ano passado, o laboratório da Ufal desenvolveu um software voltado para os municípios alagoanos. A plataforma facilita a visualização de dados sobre infectados e auxilia na gestão de internações, utilizando dados do SUS.
“Muitas vezes, os prefeitos e os secretários não dão conta de criar ferramentas que podem ajudar na gestão da saúde. É aí que entram as universidades, que têm estrutura e equipes capacitadas. É muito importante os municípios entenderem que as universidades podem ser poderosas aliadas para a solução de problemas”, explica.
SEGUNDA DOSE É FUNDAMENTAL
Os dados do painel mostram que, em muitos lugares do país, há um grande número de idosos que não voltaram para tomar a segunda dose, não apenas por causa da falta da Coronavac.
“Em algumas cidades, o esquema vacinal está abaixo dos 30% para o público na faixa de 70 a 79 anos. É papel do poder público ir atrás dessas pessoas, pois muitas não vão ao posto porque moram muito longe”, diz Krerley Oliveira, lembrando que a plataforma também calcula a distância média que um cidadão deve caminhar para chegar a um posto de vacinação em cada município.
Para o pesquisador, é fundamental que o Brasil invista em uma campanha nacional tratando da importância da segunda aplicação. “Isso é muito sério porque um município pode abrir vacinação para outros grupos prioritários, e, quando a pessoa aparecer para tomar a segunda dose, não vai encontrar”.
Fonte: O Tempo