Descuido e imprudência elevam em 14% incêndios residenciais em Minas Gerais
Pequenos descuidos, falta de manutenção e, principalmente, imprudência. Comportamentos como esses têm levado a um aumento de incêndios residenciais em Minas Gerais neste ano.
Segundo o Corpo de Bombeiros, de janeiro a junho deste ano, foram 1.175 ocorrências – média de seis combates por dia –, contra 1.037 no mesmo período do ano passado, uma alta de 14%. Só neste mês, até o dia 21, foram 113 atendimentos a esse tipo de ocorrência no Estado.
Com base nas ocorrências dos últimos meses, o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, afirmou que o aumento de incêndios ocorreu principalmente por causa do descuido com as panelas no fogão. “O aumento é maior em residências pois, nesse período de pandemia, devido ao home office, as pessoas tendem a usar mais os ambientes que antes não eram tão utilizados, como a cozinha, que é o principal local onde esses incêndios têm se iniciado”, avalia Aihara.
Mas além da falta de atenção, a imprudência no manejo dos equipamentos eletrônicos também tem sido responsável por esse crescimento, avalia o tenente. “Boa parte dos incêndios em casas têm sido causados por conta de problemas de curto-circuito, e isso acontece muitas vezes devido a sobrecarga do sistema elétrico. No mesmo disjuntor, a pessoa pluga quatro ou cinco equipamentos elétricos, e é importante verificar a capacidade da extensão antes de correr esse risco. Esse descuido pode ser fatal”, explica.
Foi justamente um curto-circuito que provocou o incêndio na casa de Jordana Oliveira, 24, a mãe que conseguiu salvar os quatro filhos em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, no último dia 13. Uma tomada onde estava ligada a televisão sofreu uma pane, e a faísca saltou para o sofá, o que deu início às chamas. Com a ajuda de vizinhos, Jordana conseguiu passar os filhos por um buraco na janela, mas ela e a filha mais velha, de 9 anos, tiveram ferimentos graves e permanecem internadas até hoje no Hospital João XXIII.
Segundo o marido de Jordana, Valtécio Oliveira, 29, a família perdeu tudo o que havia conquistado desde que se mudou de São Paulo para Minas Gerais, há cerca de três meses. “Por pouco eu não perco minha esposa e os meus filhos, e pensar nisso é muito difícil. Estou tentando manter a calma”, desabafa.
No comércio
Assim como os incêndios residenciais, as ocorrências em comércios também apresentaram alta entre 2020 e 2021 em Minas. Segundo o Corpo de Bombeiros, o crescimento foi de 5%, com 279 ocorrências de janeiro a junho deste ano e 267 no mesmo período do ano passado.
Nesse caso, a desatenção e o descuido com a rede elétrica são os principais fatores para esse aumento, como avalia o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros no Estado.
“Como o comércio não fica aberto o tempo todo, às vezes a pessoa fecha a loja e deixa algum equipamento ligado. Em um restaurante, por exemplo, uma fritadeira que não está completamente desligada pode causar um princípio de incêndio em questão de minutos”, diz Aihara.
Só neste mês, até o dia 21, foram 14 incêndios em comércios da região metropolitana de BH, como bancos, lojas e, principalmente, bares e restaurantes. Um deles foi o tradicional Bar do Bigode, no Prado, na região Oeste de BH.
Segundo o próprio Bigode, dono do bar, o incêndio começou na cozinha e se alastrou antes que fosse possível tomar qualquer atitude. “O fogo começou na trempa do fogão, e quem me alertou foi o cozinheiro. A gente só teve tempo de evacuar o pessoal que estava aqui. Em 10 minutos já estava tudo em chamas”, contou o empresário.
Clientes assíduos do bar fizeram uma vaquinha virtual para bancar a reconstrução e manutenção do local. A meta inicial era arrecadar R$ 50 mil, mas a campanha foi além e conseguiu juntar R$ 73.475.
No HPS
No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, – referência para o tratamento de queimados em Minas Gerais –, que fica na região Centro-Sul de Belo Horizonte, de janeiro até o dia 30 de junho deste ano foram 733 atendimentos a pacientes com ferimentos desse tipo.
Os casos mais graves, segundo a coordenadora de Unidade de Tratamento de Queimados do pronto-socorro, Kelly Daniele de Araújo, costumam ser vítimas de incêndios em residências.
“O paciente do incêndio em residência costuma ser muito grave, é difícil ele se queimar pouco. Quando essa pessoa não se queima com gravidade nas chamas, geralmente ela tem a respiração afetada por causa da inalação de fumaça, devido ao ambiente fechado, e isso é grave, pois necessita de cuidados de terapia intensiva”, avalia a coordenadora.
Fonte: O Tempo