Cientistas seguem na busca por medicamentos contra Covid-19
Meses após o sucesso das vacinas, cientistas no mundo todo seguem em busca de tratamentos específicos contra a Covid-19. Só no Brasil, 86 medicamentos tiveram autorização para passar por ensaios clínicos, com testes em pessoas, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas nenhum deles se provou ao mesmo tempo eficaz e acessível até agora.
“No início da pandemia, a estratégia era testar medicamentos já aprovados e utilizados contra outras doenças, como a hidroxicloroquina, porque esse processo é mais rápido. Mas ele funciona por tentativa e erro. Hoje, está claro que há necessidade de inovação e de estruturas químicas novas para atuar especificamente contra o vírus, o que leva um tempo maior. É difícil, porque o vírus tem uma estrutura muito simples, com poucos alvos para os remédios atuarem, e também sofre muitas mutações”, explica o professor da Universidade de São Paulo (USP), Adriano Andricopulo, especialista em química medicinal.
O único medicamento com registro aprovado pela Anvisa até agora é o rendesivir, utilizado em pacientes graves hospitalizados. A agência também liberou o uso emergencial de dois coquetéis de anticorpos que podem ser usados em pacientes com quadros leves a moderados, mas somente em hospitais. Nenhuma das opções, porém, foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS). A solução ideal, que ainda não se concretizou, seria um comprimido de baixo custo, que a pessoa pudesse utilizar em casa, segundo o professor Andricopulo
Por enquanto, utilizam-se medicamentos para tratar os sintomas de quem está com quadro leve da doença, em casa, e corticoides para combater as inflamações causadas pelo vírus nos pacientes com quadros mais graves, detalha a médica intensivista da Santa Casa BH, Fernanda Gomes. “Um remédio específico contra o vírus melhoraria muito a situação, porque poderíamos paralisar a replicação dele no organismo e diminuir a infecção”, pontua.
Além das dificuldades técnicas para o desenvolvimento de remédios antivirais acessíveis, vacinas são a opção prioritária para conter a pandemia, pontua o imunologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Jorge Pinto. “Em qualquer epidemia infecciosa, lidamos com duas frentes: a prevenção e o tratamento. Em uma pandemia, importa essencialmente conter a transmissão do vírus, então a vacina ganha prioridade”, diz.
Molnupiravir é o primeiro a chegar na terceira fase de testes
O primeiro medicamento contra a doença que chegou à fase três dos estudos clínicos no Brasil é o molnupiravir, que está em estudo em sete centros de saúde do país, inclusive na Santa Casa de BH. O remédio, produzido pela farmacêutica norte-americana MSD (também conhecida como Merck) é utilizado na forma de comprimido e, se as pesquisas revelarem sua eficácia, poderá ser utilizado por pacientes nos primeiros dias de sintomas para conter o agravamento, segundo a médica Marina Della Negra, uma das responsáveis pelas pesquisas.
“A pessoa pode tomar o remédio em casa, durante cinco dias. Nos EUA, o preço do tratamento total seria de US$700, mas não significa que será o mesmo no Brasil. A expectativa é que tenhamos o remédio até o final do ano”, detalha a infectologista. No próximo mês, o remédio deve começar a ser avaliado também como solução de pós-exposição.
BH faz teste com anticorpos
A Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas, estuda um soro com base nos anticorpos de cavalos. A pesquisa está na fase pré-clínica e não começou a ser testado em humanos, o que dependerá do aval da Anvisa. O projeto, iniciado em 2020, recebeu aporte de R$213 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e necessitará de mais dinheiro para as próximas etapas.
Outra alternativa é avaliada em um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O professor Jorge Pinto, da Faculdade de Medicina, coordena os testes de mais uma associação de anticorpos, como as duas opções emergenciais já aprovadas pela Anvisa.
Fonte: O Tempo