Entenda porque a pandemia do coronavírus voltou a ser uma preocupação no Brasil
Se no início de 2022 o cenário parecia indicar um fim gradual da pandemia do coronavírus, iniciada há dois anos, a situação atual ainda não indica qualquer sinal trégua da covid-19. O número de novos casos não para de subir e a preocupação com a circulação do vírus fez com que algumas medidas de proteção voltassem a ser obrigatórias, entre elas o uso de máscaras.
Segundo o infectologista e professora da faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambás, o que estamos passando é o início de uma 4ª onda da doença que promete ser tão contagiosa quanto às demais, apesar de consequências menos devastadoras no número de pessoas mortas pelo vírus.
NOVA VARIANTE
Desde meados de março, uma nova subvariante do coronavírus passou a ser dominante no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É a Omicron BA.2 que, embora seja responsável por quadros menos graves da doença, é mais contagiosa e capaz de infectar até mesmo as pessoas vacinadas com uma terceira dose de reforço – que por sua vez tem menos capacidade de transmitir a doença para outras pessoas.
Segundo o professor Tupinambás, o potencial da nova subvariante não pode ser descartado, mesmo que o número de baixas pela doença seja muito diferente dos números apresentados em 2020 e 2021.
“É possível perceber que há um descolamento de casos registrados e mortes pela doença. Mesmo assim, qualquer morte é inaceitável quando estamos falando de uma doença que pode ser prevenida. Em Belo Horizonte, se você pegar a média de mortes nesse semestre, temos uma média de três pessoas que morreram por covid por dia”, alerta o especialista.
POPULAÇÃO DESPREVENIDA
À medida que os casos da doença foram reduzindo e as flexibilizações das restrições vieram, a população fez o que se esperava: aglomerou e andou sem máscara. E esse movimento ajudou a proliferar a doença de forma descontrolada.
Para o professor Unaí, o poder público poderia ter agido para minimizar essa transmissão, mas falhou ao tentar conter a livre circulação do vírus. “Os gestores públicos estão batendo cabeça, liberando o uso de máscara em alguns locais e recomendando em outros. Eu acho que essa medida da prefeitura de Belo Horizonte (recomendar o uso de máscara) foi inócua, porque ninguém ficou sabendo direito”, analisou.
Segundo avalia o infectologista, que fez parte do comitê de enfrentamento à pandemia, dificilmente as medidas para o enfrentamento da doença passem por novos fechamentos do comércio e outras situações que limitem a circulação das pessoas. “De forma alguma nós estamos querendo voltar ao lockdown, mesmo porque não tem espaço e necessidade pra isso. O que nós exigimos é tão somente que a população que os gestores públicos exijam a máscara em locais fechados, para que as pessoas fiquem protegidas”, afirmou.
Além da máscara, também houve um descuido natural devido à menor gravidade da doença, segundo Unaí. “Há uma subnotificação muito grande. As pessoas não estão se testando, ou fazendo o auto teste em casa e não comunicando às autoridades. Também tem aqueles que estão indo trabalhar de covid, pensando que os sintomas são de outra coisa”, diz o professor.
VACINAÇÃO ESTAGNADA
Desde que a enfermeira Mônica Calazans, de São Paulo, se consagrou como a primeira pessoa a ser vacinada contra a covid-19 no Brasil, em janeiro de 2021, outras milhões de pessoas foram conquistando, aos poucos, o direito de se imunizar contra a doença, evitando assim as chances de internação em consequência de casos mais graves da covid.
Hoje, segundo o Ministério da Saúde, 85,4% dos brasileiros já receberam ao menos uma dose da vacina, enquanto 77,5% das pessoas completaram o ciclo vacinal com a segunda dose.
Mas há casos em que a cobertura vacinal ainda não emplacou. A terceira dose da vacina, por exemplo, só atingiu 44,3% da população brasileira. A chamada dose de reforço é tida como essencial para potencializar os efeitos do imunizante.
“Ainda estamos muito aquém do ideal. A terceira dose protege, eventualmente, contra a infecção nos primeiros quatro a seis meses, além de proteger com certeza contra o desenvolvimento de quadros graves e moderados de covid”, ressalta Unaí, que também destacou a baixa cobertura vacinal entre crianças de 5 a 11 anos.
Em Minas Gerais, a cobertura vacinal para essa faixa etária atingiu 69,43% das crianças com a primeira dose. Apenas 35,06% voltou ao posto de saúde para receber a segunda dose.
Fonte: O Tempo