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Pesquisadores da Universidade analisam o espaço geográfico do Sul de Minas para compreender as contribuições de imigrantes e refugiados na formação territorial de cidades da região

Redação24 de junho de 202221min0
imigrantes
A importância social da pesquisa tem relação com o grau de relevância e impacto que determinada discussão pode levar à sociedade. É justamente este impacto que suscita uma série de movimentações em torno dos novos questionamentos apontados e das novas demandas sociais em evidência, dando origem a políticas públicas, ações de movimentos sociais, visibilidade de grupos excluídos.

Milhões de pessoas ao redor do mundo sofrem as consequências de catástrofes naturais ou perseguição por raça, religião, nacionalidade e opiniões políticas. Forçadas a deixarem suas casas e países, elas se dirigem a outras localidades à procura de segurança e oportunidade de recomeçar. É assim que se inicia a trajetória de refugiados e imigrantes. Neste dia 20 de junho, celebra-se o Dia Mundial do Refugiado, data que resgata a existência das populações deslocadas para discutir com a sociedade a ideia de solidariedade, respeito e responsabilidade.

Conforme a Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o número de deslocados por guerras, violência, perseguições e abusos de direitos humanos no mundo chegou a 100 milhões de pessoas neste ano de 2022. A invasão da Ucrânia pela Rússia e outras emergências humanitárias elevaram este número.  Entre os refugiados no Brasil, estima-se que cerca de 400 imigrantes do Haiti se encontram na cidade sul-mineira de Andradas. Para conhecer as condições de vida e de trabalho dos haitianos residentes na cidade, pesquisadores da UNIFAL-MG desenvolvem pesquisas voltados para suas dinâmicas territoriais e estratégias de adaptação.

Quem coordena o projeto de pesquisa é o geógrafo Gil Carlos Silveira Porto, professor do curso de Geografia e pesquisador sobre temáticas ligadas à mobilidade espacial da população e rede urbana. O trabalho também conta com oito bolsistas de iniciação científica que a partir da temática central de refugiados e imigrantes, dedicam-se a investigar tanto a situação dos haitianos em Andradas quanto à forma como o tema é abordado em livros e as contribuições dos imigrantes na formação territorial de cidades do Sul de Minas.

Como haitianos se instalaram e sobrevivem em Andradas

Intitulado “Dinâmicas territoriais e estratégias de adaptação e sobrevivência de imigrantes no Sul de Minas: um estudo de caso a partir dos haitianos em Andradas (MG), o projeto de pesquisa tido como “guarda-chuva” dos demais trabalhos coordenados pelo professor Gil Porto é financiado pela FAPEMIG por meio do Edital nº 001/2018 (Demanda Universal). Conforme o coordenador, para caracterizar as formas de uso do território do município de Andradas pelos haitianos, a pesquisa investiga como é a rotina e atuação dessa população na cidade.

Gil Carlos Silveira Porto, professor e pesquisador do curso de Geografia, coordena o projeto de pesquisa “Dinâmicas territoriais e estratégias de adaptação e sobrevivência de imigrantes no Sul de Minas: um estudo de caso a partir dos haitianos em Andradas (MG)”. (Foto: Arquivo Pessoal)

“A caracterização desse uso [do território] se dará por meio do conhecimento do cotidiano desse grupo demográfico nos locais de trabalho, nas áreas de circulação da cidade, no uso de equipamentos públicos e serviços de educação e saúde, nos espaços de consumo e lazer, observando as relações existentes entre eles e entre eles e os nacionais”, explica.

Para percorrer essa caracterização, o estudo envolve revisão da literatura, consulta de dados e trabalho de campo. “Em função da pandemia da covid-19 e da liberação de recursos pela FAPEMIG ter ocorrido apenas em maio passado, a aplicação de questionário e realização de entrevista com haitianos e haitianas ainda não foi realizado. Deverá acontecer nos próximos meses”, conta.

Questionário dirigido e entrevistas abertas serão aplicados a um grupo de imigrantes na cidade. Considerando a estimativa de 400 haitianos, os questionários envolverão 10% do contingente populacional e as entrevistas, 2%.

Segundo o coordenador, a expectativa para os resultados vai além de contribuir para entender a dinâmica populacional contemporânea a partir da chegada e fixação dos haitianos em Andradas. “Espera-se ampliar essa agenda de pesquisa com estudos que extrapolem esta localidade a partir de uma expectativa mais ampla sobre a situação de outros grupos de imigrantes e/ou refugiados no Sul de Minas”, afirma. “A pesquisa contribuirá para o processo de formação de pesquisadores por meio da investigação da sociedade na qual a Universidade se insere, ao mesmo tempo que poderá criar condições para o desenvolvimento local e regional”, acrescenta.

Entre as pesquisas originadas no projeto do professor Gil Porto está a pesquisa de iniciação científica “Qualidade de vida e uso do território por imigrantes haitianos do município de Andradas”.

Desenvolvido pelo acadêmico João Vítor de Freitas, com a colaboração dos demais colegas do grupo do projeto, o estudo foi realizado a distância, entre julho de 2020 e julho de 2021, ainda no período mais crítico da pandemia da covid-19, buscando abordar como é a qualidade de vida dos imigrantes haitianos dentro do município. “Os resultados obtidos mostram que o município de Andradas possui uma certa dificuldade em constar a presença haitiana em seu território, mesmo sendo um número significativo”, revela o autor.

Haitianos em Andradas. (Foto: Reprodução/G1 Sul de Minas)

Segundo o acadêmico, como a pandemia impossibilitou o trabalho de campo, não se concretizou o âmbito empírico, porém, por meio das informações obtidas pela Secretaria da Educação e Secretaria de Planejamento Urbano de Andradas, foi possível concluir que o município precisa se atentar à causa haitiana em seu território, e desse modo, proporcionar um pleno uso do território para os imigrantes haitianos, e não apenas ao andradenses.

Como subprojeto desse trabalho, surge a pesquisa de Victor Gabriel Franco Santana, focada em releituras e análises de obras para compreender o tema “Situação dos migrantes perante uma filosofia marxista”. “O projeto foi proposto devido a uma vontade particular em querer estudar e, entender, a situação em que os migrantes se encontram. Mais do que isso, analisar de forma crítica a sua situação e compreendê-la dentro do espaço geográfico”, diz.

Além de Victor Santana, também os colegas Matheus Nadur dos Santos e Micaela Faria Borges buscam na revisão de literatura contribuições para desenvolver seus trabalhos.

Muito além da análise do espaço geógrafo ocupado por imigrantes e refugiados

Matheus Santos se dedica a revisar os livros do geógrafo Milton Almeida dos Santos, considerado um dos mais renomados intelectuais do Brasil no século XX. “Constatamos que pouco se discute na Geografia brasileira as contribuições de Milton Santos no tema da migração. Nosso grupo de pesquisa se orienta pelo método proposto por Milton e deseja também avançar nas discussões de sua obra e pensamento”, esclarece.

Entre os resultados já obtidos, o discente aponta: “Percebemos ao longo da pesquisa que, para Santos, os migrantes são os pobres, e que a Geografia tem um importante papel na discussão das desigualdades socioespaciais. Seu pensamento, além de rigoroso no método, ao nos apresentar a Geografia dotada de um objeto único de estudo, o espaço geográfico, também é esperançoso, ao nos apontar um outro mundo possível, tendo o ser humano como centro das preocupações, ao invés do dinheiro e do lucro a qualquer custo. Essa lógica perversa atual é, inclusive, a verdadeira razão das migrações forçadas dos pobres e da manutenção de sua pobreza”, detalha.

A pesquisa de Micaela Borges envolve compreender como o tema “Imigrantes Internacionais e Refugiados” é retratado nos livros didáticos de Geografia. Em análise, esteve a coleção de livros do autor Wagner Costa Ribeiro. “A pesquisa mostrou que há alusão à chegada dos italianos no Brasil, e que esses se instalaram principalmente nos planaltos do Rio Grande do Sul, onde fundaram colônias e se destacaram no cultivo da uva e fabricação de vinho, sobretudo no município de Caxias do Sul”, compartilha.

O acompanhamento e a vivência do acadêmico Leandro Henrique Cunha Fermino junto ao trabalho desenvolvido pelo colega João Vítor de Freitas fizeram com que desenvolvesse duas pesquisas de iniciação científica. A primeira voltada para o tema “A contribuição de imigrantes internacionais na formação territorial de Itajubá e Pouso Alegre (MG) nos séculos XIX e XX”, em parceria com os colegas Henrique Damasio e Flávia Vieira Lourenço; e a segunda sobre a temática “A contribuição de imigrantes internacionais na formação territorial de Poços de Caldas, Pouso Alegre e Varginha (MG) entre 1960 e 2020”.

Imagem ilustrativa. (Foto: Reprodução/Canva Education)

“Desde minha entrada na Universidade tenho me interessado em estudar a dinâmica populacional como principal tema das minhas pesquisas. Procurei o professor Gil pois queria e quero entender os fenômenos que estavam por trás da vinda dos imigrantes internacionais e como se dava o uso do território por eles, e qual eram suas contribuições dentro dos municípios mais importantes do Sul de minas”, relata Leandro Fermino sobre suas motivações para as pesquisas.

Conforme Flávia Lourenço, discente do Programa de Pós-Graduação em Geografia, no estudo sobre a contribuição dos imigrantes internacionais na formação de Itajubá e Pouso Alegre, a coleta dos dados se deu através da seleção de almanaques sobre os municípios mineiros correspondentes, que continham informações sobre o histórico dos municípios e diversos aspectos demográficos; análise dos recenseamentos de 1872 a 1950; livros e jornais locais; arquivos digitalizados em diferentes instituições; e Atlas Digital da Migração Internacional em Minas Gerais.

“A importância social da pesquisa tem relação com o grau de relevância e impacto que determinada discussão pode levar à sociedade. É justamente este impacto que suscita uma série de movimentações em torno dos novos questionamentos apontados e das novas demandas sociais em evidência, dando origem a políticas públicas, ações de movimentos sociais, visibilidade de grupos excluídos, entre outros”, explica.

Henrique Damasio comenta que a análise documental encontrou, por exemplo, a presença de 1.065 imigrantes de outras nacionalidades registrados pelas paróquias de Poços de Caldas até 1872. “Esse grupo de indivíduos se dividia entre livres e escravos. Identificamos que os escravos estão em ocupação laborais como a construção civil e nas lavouras em sua maioria indivíduos do sexo masculino. No que se refere ao município de Varginha identificamos a presença de 1.464 indivíduos em ocupação semelhante. O maior número de indivíduos nessas localidades se dá principalmente pela atividade do café e outros setores da agricultura”, conta o discente. Segundo ele, por meio da pesquisa foi possível compreender como o elemento “homens” organizado em sociedade representa também um elemento geográfico e permite a leitura do espaço que foi e é construído pelas sociedades.

Imagem ilustrativa. (Foto: Reprodução/Canva Education)

Para entender a contribuição de imigrantes internacionais na formação territorial de Poços de Caldas, Pouso Alegre e Varginha entre 1960 e 2020, Leandro Fermino utiliza a plataforma SIDRA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a qual permite consultar informações de todos os indicadores econômicos conjunturais como os de trabalho e rendimento, inflação, indústria, comércio, serviços, agropecuária e o PIB, e suas séries históricas.  “As minhas iniciações científicas contribuem para estudos da área das ciências sociais pelo fato de entender o uso do território pelos imigrantes internacionais a partir de uma visão geográfica da compreensão da contribuição destes estrangeiros dentro das formações territoriais dos principais municípios da atualidade do Sul de Minas”, argumenta.

Na visão do coordenador do projeto que abarca as pesquisas de iniciação científica, compreender as condições em que grupos de imigrantes internacionais e refugiados têm se estabelecido no Sul de Minas, bem como suas contribuições para o território das cidades da região, ajudará a demandar políticas de governos específicas para atender a esses grupos demográficos. “Os resultados poderão contribuir para o reconhecimento da importância laboral e cultural dos estrangeiros para a sociedade de destino e discutir a possibilidade de a UNIFAL-MG integrar a Cátedra Sérgio Vieira de Melo”, reforça.

A Cátedra Sérgio Vieira de Mello foi criada por meio de parceria entre a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em agosto de 2015, com o objetivo de promover e difundir e Direito Internacional Humanitário, o Direito Internacional dos Direitos Humanos e, em especial, o Direito Internacional dos Refugiados que encontrem-se sob a proteção internacional do Governo do Brasil.

Acadêmicos que integram o projeto e desenvolvem pesquisa sobre a temática. (Fotos: Montagem/Arquivo Pessoal)

Fonte: https://www.unifal-mg.edu.br/

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