Saiba o que mudou no território nacional após a Independência do Brasil
A partir da declaração da Independência em 1822, o Brasil observou diversas e profundas alterações na composição geográfica do território. Estados, antes chamados de províncias, foram criados, unificados ou divididos sob motivações políticas e pela necessidade de promover uma maior organização administrativa em cada ente federado, segundo historiadores.
Para se ter ideia, na era do império brasileiro, o mapa nacional era distribuído entre 19 províncias:
- Grão-Pará
- Mato Grosso
- Maranhão
- Goiás
- Piauí
- Ceará
- Rio Grande do Norte
- Paraíba
- Pernambuco
- Alagoas
- Sergipe
- Bahia
- Minas Gerais
- Espírito Santo
- Rio de Janeiro
- São Paulo
- Santa Catarina
- Rio Grande do Sul
- Cisplatina
Após a Independência, entretanto, o país se reorganizou chegando a 26 Estados mais o Distrito Federal.
- Acre (AC)
- Alagoas (AL)
- Amapá (AP)
- Amazonas (AM)
- Bahia (BA)
- Ceará (CE)
- Distrito Federal (DF)
- Espírito Santo (ES)
- Goiás (GO)
- Maranhão (MA)
- Mato Grosso (MT)
- Mato Grosso do Sul (MS)
- Minas Gerais (MG)
- Pará (PA)
- Paraíba (PB)
- Paraná (PR)
- Pernambuco (PE)
- Piauí (PI)
- Rio de Janeiro (RJ)
- Rio Grande do Norte (RN)
- Rio Grande do Sul (RS)
- Rondônia (RO)
- Roraima (RR)
- Santa Catarina (SC)
- São Paulo (SP)
- Sergipe (SE)
- Tocantins (TO)
As alterações mais visíveis no mapa ocorreram no antigo território Grão-Pará, ao Norte do Brasil. O que antes era apenas uma província, se diluiu em: Amazonas, Acre, Roraima, Pará, Amapá e parte do Mato Grosso em processo que se iniciou ainda no século XIV e só foi encerrado no século XX. “A antiga província do Grão Pará era territorialmente muito grande e isso emperrava a administração, criava uma série de problemas”, explica Luiz Carlos Villalta, professor do curso de História da UFMG.
Segundo o docente, mesmo com a distribuição feita, ainda há uma grande extensão territorial na região. “O Amazonas hoje é imenso, o Pará também. Temos movimentos para desmembrar o Estado do Pará como houve na dissolução do Tocantins de Goiás”, acrescenta o professor. Ainda na movimentação que diluiu o Grão-Pará, o Brasil formalizou um acordo para anexar um território boliviano ao país, em que hoje está situado o Acre.
A negociação entre os dois países ficou conhecida como Tratado de Petrópolis, formalmente concretizado em 1903. De acordo com o cientista político e professor de Relações Internacionais do Ibmec BH Adriano Cerqueira, o processo para incorporação ao território brasileiro se intensificou após conflitos na fronteira entre os países, na porção em que hoje está o Acre.
A região se destacava na produção de borrachas e tinha a ocupação de cidadãos bolivianos e brasileiros. “Os brasileiros estavam enriquecendo com a exploração da borracha. Assim, já no início do século XX por conta dos conflitos envolvidos e o Brasil vendo a importância da região, houve um processo de ocupação dessas terras e depois uma negociação com a Bolívia visando uma pacificação com a cessão desse território. E a Bolívia evidentemente, por ser um estado menor, se sujeitou a esse tipo de negociação”, explica.
Do Rio à Brasília
Outra alteração histórica que gera comentários ainda nos dias atuais é a criação do Distrito Federal. A capital federal foi construída em parte do território de Goiás e inaugurada em abril de 1960. Com isso, Brasília levou o título de capital do Brasil que antes era do Rio de Janeiro. “O Rio de Janeiro perdeu a condição de capital em um espaço muito curto e pagou muito caro por isso. Grande parte da situação de decadência que o Estado vive hoje tem relação com essa perda”, acrescenta Villalta.
O professor ainda afirma que os fluminenses foram prejudicados com a fusão dos antigos Estados Guanabara e Rio de Janeiro, em 1974, por interesses da ditadura militar no Brasil. Para o professor, o Estado saiu prejudicado também com a fusão, mas políticos da época argumentaram, à época, que a medida era técnica e favorecia o desenvolvimento da região.
A proposta partiu do então presidente, Ernesto Geisel, que defendeu o projeto. “Estudou-se como se tinha de fazer e preparou-se a legislação. Reclamam de eu não ter feito um plebiscito. Ia ser dispendioso e eu não pretendia mudar minha opinião”, afirmou ele à época, segundo artigo disponível no site do governo carioca.
Uruguai no Brasil?
O que muitos não sabem é que até 1825, o Uruguai fazia parte do território brasileiro. A província da Cisplatina era vizinha ao Rio Grande do Sul, na mesma posição ocupada hoje pelo país vizinho. O cientista político Adriano Cerqueira explicou que a província foi instituída no império como parte do Reino Unido de Portugal e Algarves. “A fronteira Sul era estratégica porque ligava o rio da prata, onde futuramente se constituiu a Argentina, e onde também havia uma área fronteiriça, geopolítica entre Portugal e Espanha. E na constituição do Brasil, a anexação era importante para o Brasil como uma área de defesa”, detalha o professor.
No entanto, desde o início, a Cisplatina se colocou contra interesses de Portugal e Espanha e de Brasil e Argentina, nações que estavam em formação de independência. “O Uruguai acabou sendo constituído como uma área limite desses interesses e através de uma revolta conseguiu se firmar como nação independente até os dias atuais”, diz o professor.
Ainda há espaço para mudanças?
O último Estado criado no Brasil foi o Tocantins, em 1º de janeiro de 1989. Desde então, o país manteve a organização territorial apesar de alguns movimentos separatistas que ocorrem na região do Triângulo Mineiro, desejando autonomia, e em Pernambuco, onde há quem mantenha o desejo de recuperar parte a oeste do território perdido para a Bahia. O professor Luiz Carlos Villalta afirma que uma nova reorganização a partir dos interesses isolados não pode ser tão fácil.
Ele alerta que a situação depende do movimento de populações e do empenho de recursos públicos. “Você vai ter que criar uma assembleia legislativa, um governo estadual. É um processo muito caro e que depende caso a caso. Não sei, por exemplo, se a parte da população no oeste da Bahia gostaria de voltar a ser de Pernambuco nessa altura. Já no Triângulo Mineiro tenho suspeitas que a população quer ser autônoma”, afirma.
Fonte: O Tempo