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Com índice vacinal abaixo do esperado, infectologistas temem volta da pólio

Redação13 de outubro de 20229min0
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A doença foi erradicada em 1989, mas, com Minas e Brasil registrando baixas porcentagens de imunização, vírus poderá voltar a causar mortes e sequelas

A poliomielite foi erradicada em todo o Brasil em 1989, mas, 33 anos depois, a doença pode voltar a circular e a causar mortes e sequelas graves em crianças devido ao baixo índice de vacinação registrado no país, o que também vem sendo registrado em Belo Horizonte. Nesta quarta-feira (12), Dia das Crianças, a capital mineira contou com uma campanha de vacinação em parques e shoppings justamente tentando reverter o número, que, até então, estava em 74,6% das cerca de 104 mil crianças de 1 a 4 anos do município.

A meta estipulada pelo Ministério da Saúde (MS) é de 95% das crianças imunizadas, percentual que ainda está longe de ser alcançado no país, que, segundo o órgão, estava com apenas 62,5% no último dia 7 de outubro. A reportagem de O TEMPO procurou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), mas, até o fechamento desta matéria, a pasta não havia divulgado a cobertura vacinal contra a pólio no Estado.

O infectopediatra e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marcelo Otsuka, explica que o que foi erradicado foram os casos graves da doença, feito alcançado graças à vacinação em massa, mas que o vírus da poliomielite continua existindo em sua forma selvagem, sendo encontrado em rios de diversas partes do mundo, além de também terem sido registrados alguns poucos casos de pessoas vitimadas.

“Essa existência do vírus vira um problema a partir do momento que não temos a cobertura vacinal adequada, pois estamos com uma população sujeita a desenvolver uma doença grave. Muito provavelmente já temos o vírus circulando no esgoto, por exemplo, e, por isso, existe esse receio enorme de que voltemos a ter essa doença aqui”, argumenta o especialista.

O infectologista Unaí Tupinambás destaca que as primeiras doses (aos 2, 4 e 6 meses), que são feitas por via injetável, são muito seguras e, raramente, têm efeitos colaterais. Depois, aos 15 meses e anualmente na campanha nacional para crianças de até 4 anos, são aplicadas as doses de reforço, por via oral, a famosa vacina da gotinha.

“Fazemos um apelo à população para que levem os seus filhos para vacinar, pois a ameaça da volta da doença é real, está batendo à nossa porta.  Não podemos deixar isso acontecer, seria uma tragédia para nossas crianças. Então, pais e mães, leve essas crianças para vacinar”, alerta o especialista.

Impacto das fake news

Ainda conforme Otsuka, existem várias teorias sobre o que estaria ocasionando essa queda cada vez maior nos índices de vacinação, entretanto, há quase um consenso de que as fake news (notícias falsas) envolvendo as vacinas em geral teria um impacto importante nessa redução na imunização de adultos e crianças.

“Antes da década de 60, 70, tínhamos milhares de mortes, de pessoas com paralisia por conta da poliomielite. Portanto, temos várias pessoas que testemunharam isso, sabem da gravidade que era, então, a gente (infectologistas) não consegue entender como que elas tem esse efeito de evitar a vacinação. Mas acreditamos também, é claro, que o fato de termos muitos anos sem casos da doença, fez com que muitos deixem de acreditar, de se preocupar com esse vírus”, completa o infectopediatra.

Para ele, falta muito apoio do Estado como um todo, nas esferas federal, estadual e municipal, na divulgação da importância destas vacinas. “Elas estão disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI), então todos deveriam trabalhar juntos para estimular”, defende.

O diretor de promoção à saúde e vigilância epidemiológica da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Paulo Roberto Lopes Correa, destacou que a ação realizada nesta quarta na capital foi de grande importância para elevar a cobertura vacinal na cidade não só contra a pólio, mas, também, de outras doenças que também estão com índices baixos

“A cobertura vacinal para influenza ou gripe está em 72%, então estão abaixo da nossa meta. A situação mais preocupante é quanto à vacinação de crianças contra Covid-19, que só atingiu cerca de 20% do público”, detalhou.

A assistente social Maria Auxiliadora Pereira, de 50 anos, foi uma das pessoas que estiveram no Parque das Mangabeiras, na região Centro-Sul de BH, e aproveitou para vacinar o filho Nicolas, de 9 anos. “Embora ele sempre esteja com a vacina em dia, descobrimos que ele poderia tomar a vacina da gripe, então valeu a pena”, relata.

Consciente do papel que exerce como mãe, ela se mostrou preocupada com a quantidade de pessoas que ainda não se vacinaram, especialmente contra a paralisia infantil. “Isso me preocupa demais e me preocupa ver a recusa dos pais em levar os filhos para se vacinar. A consequência disso recai nos filhos, e não neles”, reclama.

Mãe das pequenas Sophia e Milena, de 1 e 2 anos, Priscila das Mercês levou o cartão de vacinação, mas descobriu que as pequenas estavam com tudo em dia. “Os pais têm que estar sempre atentos sobre a vacina das crianças, para prevenir de todas as doenças e deixá-los saudáveis e felizes para poderem curtir este e muitos outros Dias das Crianças”, pondera.

Meningite também assusta

Assim como a poliomielite, outra doença que vem preocupando as autoridades e infectologistas também devido à baixa cobertura vacinal é a meningite. Segundo o infectopediatra Marcelo Otsuka, o Estado de São Paulo está está vivendo um surto de meningococo C, causador da meningite tipo C.

“Isso também se deve a este problema com a vacinação, portanto tempos um grande receio de voltarmos a ter casos expressivos de meningite. Temos observado uma progressão no número de casos e é uma doença muito grave, que tem cerca de 30% de mortalidade, sem falar nas sequelas. É outra situação crítica, e precisamos estimular a vacinação”, argumenta.

Na última semana, Minas Gerais confirmou sua terceira morte por meningite tipo C, sendo dois em Extrema e um em Estiva, ambas cidades do Sul de Minas. Apesar dos municípios estarem a apenas 60 km um do outro e bem próximos da divisa com São Paulo, a SES-MG afirma que as mortes “não têm nenhum vínculo” com casos de outros Estados.

De janeiro a setembro deste ano, os 853 municípios mineiros confirmaram 617 casos e 92 óbitos de todas as etiologias que causam a meningite, o que inclui vírus, bactérias e fungos. Em 2021, foram 522 casos e 50 óbitos. Nesta quarta, a Prefeitura de Betim, na região metropolitana de BH, divulgou a morte de um bebê de 3 meses por uma meningite bacteriana.

Fonte: O Tempo

Redação


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