Com Selic alta, bancos mantém taxas elevadas para empréstimos e financiamentos
Com a manutenção da taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75% ao ano, anunciada pelo Banco Central (BC) na quarta-feira (22), bancos e outras instituições financeiras dificilmente vão reduzir os juros de empréstimos e de financiamentos, como os de imóveis e de veículos. A Selic serve de parâmetro para as outras taxas do mercado e ainda baliza os investimentos.
A taxa básica de juros é definida pelo BC, a cada 45 dias, para a prática de política monetária. Isto significa manter a saúde econômica, com a inflação dentro da meta e estabilidade nos empregos.
“No geral, quando a gente tem uma taxa de juros mais baixa, você tem um crédito mais barato. Afinal de contas, você vai usar a taxa como referência para tomada de empréstimos. Em contrapartida, quanto mais altos os juros, mais caro fica o crédito”, afirma o economista e sócio da Acqua Vero Investimentos, Bruno Musa.
“Quando o crédito está mais caro, você desestimula a tomada de empréstimos pelas pessoas e pelas empresas. Se elas consomem menos e gastam menos, a economia dá uma desacelerada. Com uma menor demanda por produtos e serviços, o país tem queda da inflação. Já quando você tem uma taxa de juros que estimula o crédito, as pessoas gastam mais, consomem mais, tomam mais empréstimos e isso gera um aumento da inflação pela demanda através do consumo”, completa o economista.
A taxa Selic permaneceu em 14,25% por 14 meses, entre agosto de 2015 e setembro de 2016, quando caiu gradativamente até chegar a 2% em setembro de 2020. Ela permaneceu neste baixíssimo patamar por seis meses, até fevereiro de 2021. Desde então voltou a subir até esta taxa atual de 13,75% ao ano.
Segundo o Banco Central, a alta da taxa básica de juros a partir de fevereiro de 2021 ocorreu para controlar o aumento da inflação neste período, provocada pela pandemia de Covid-19 e pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Neste mesmo período, a inflação acumulada de 12 meses estava em 6,43% em setembro de 2016; subiu para 5,02% em setembro de 2020; chegou a 10,20% em fevereiro de 2021; e atingiu seu ápice de 17,35% em julho de 2021. Hoje, está em 8,64%.
Desde que assumiu o governo, no início de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclama do atual patamar da taxa básica de juros e faz pressão para que o Banco Central reduza a Selic. Lula chegou a fazer críticas diretas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. A pressão não funcionou e a taxa foi mantida nesta semana.
“Não é tão simples assim, você não derruba uma taxa de juros na canetada. Esta medida só pode ser tomada quando o país está fiscalmente responsável, ou seja, responsável com seus gastos, com um controle dos gastos frente à sua receita”, analisa Musa.
Portanto, a taxa de juros sobe quando o Banco Central quer controlar a inflação. E com a Selic a 13,75%, como ficam os empréstimos e financiamentos? No site do Banco Central, na aba “estatísticas” e dentro de “taxas de juros”, é possível comparar as taxas cobradas pelo mercado.
Nos empréstimos para pessoas físicas, as menores taxas são as do crédito imobiliário, pois existe a garantia real do imóvel e 70% dos recursos para esta modalidade são oriundos da caderneta de poupança dos brasileiros. Isto torna estas taxas mais próximas da Selic.
Entretanto, no caso da taxa de juros do rotativo do cartão de crédito, onde o risco de inadimplência é bem maior para o banco, o índice chega a 400% ao ano em algumas instituições.
A seguir, vamos fazer uma comparação das taxas cobradas pelos 5 maiores bancos do país: Itaú, Caixa, Banco do Brasil, Bradesco e Santander.
Financiamento Imobiliário
1 – Caixa: 0,72% ao mês / 8,95% ao ano
2 – Banco do Brasil: 0,78% ao mês / 9,75% ao ano
3 – Bradesco: 0,79% ao mês / 9,87% ao ano
4 – Itaú: 0,79% ao mês / 9,94% ao ano
5 – Santander: 0,81% ao mês / 10,19% ao ano
Confira aqui a lista completa com as taxas de todos os bancos.
Financiamento de veículos
1 – Bradesco: 1,89% ao mês / 25,18% ao ano
2 – Banco do Brasil: 1,95% ao mês / 26,09% ao ano
3 – Caixa: 2,02% ao mês / 27,14% ao ano
4 – Itaú: 2,09% ao mês / 28,23% ao ano
5 – Santander: 2,15% ao mês / 29,03% ao ano
No caso da aquisição de veículos, as melhores taxas são dos bancos das próprias montadoras. Aqui está a lista completa.
Crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS
1 – Caixa: 1,87% ao mês / 24,93% ao ano
2 – Banco do Brasil: 1,96% ao mês / 26,21% ao ano
3 – Santander: 2% ao mês / 26,84% ao ano
4 – Bradesco: 2,05% ao mês / 27,59% ao ano
5 – Itaú: 2,09% ao mês / 28,19% ao ano
Confira aqui a lista com as taxas de todos os bancos.
Cheque especial
1 – Caixa: 7,49% ao mês / 137,81% ao ano
2 – Banco do Brasil: 7,93% ao mês / 149,91% ao ano
3 – Bradesco: 8,19% ao mês / 157,04% ao ano
4 – Santander: 8,25% ao mês / 158,84% ao ano
5 – Itaú: 8,37% ao mês / 162,48% ao ano
Neste link está a lista completa com as taxas de cheques especiais de todos os bancos.
Cartão de crédito (parcelamento)
1 – Bradesco: 6,43% ao mês / 111,19% ao ano
2 – Caixa: 8,25% ao mês / 158,82% ao ano
3 – Santander: 9,54% ao mês / 198,43% ao ano
4 – Itaú: 10,19% ao mês / 220,30% ao ano
5 – Banco do Brasil: 10,40% ao mês / 227,90% ao ano
Confira aqui a lista com os juros do cartão de crédito em todos os bancos.
Cartão de crédito (rotativo)
1 – Caixa: 11,54% ao mês / 270,88% ao ano
2 – Itaú: 14,19% ao mês / 391,44% ao ano
3 – Bradesco: 14,37% ao mês / 400,76% ao ano
4 – Santander: 14,45% ao mês / 405,05% ao ano
5 – Banco do Brasil: 14,55% ao mês / 410,66% ao ano
Aqui você encontra as taxas de todos os bancos.
Investimentos
Se por um lado, a Selic alta leva os bancos a manter taxas de juros altas para financiamentos e empréstimos, por outro as pessoas que investem o dinheiro também terão uma rentabilidade maior.
Tesouro Direto
Nesta modalidade, a pessoa empresta dinheiro para o governo federal, comprando títulos da dívida pública. É uma das formas de investimento mais seguras do mercado.
Com a taxa de juros a 13,75% ao ano, um investimento de R$ 1.000 chega a R$ 1.082,14 em 12 meses, com um título pagando 100% do CDI (taxa bem próxima à Selic, hoje em 13,64%) e com o Imposto de Renda de 17,5% já descontado.
- R$ 1.000 rendem R$ 1.082,14 em 12 meses
- R$ 5.000 rendem R$ 5.410,70 em 12 meses
- R$ 10.000 rendem R$ 10.821,39 em 12 meses
- R$ 50.000 rendem R$ 54.106,95 em 12 meses
- R$ 100.000 rendem R$ 108.213,90 em 12 meses
- R$ 300.000 rendem R$ 324.641,70 em 12 meses
CDB
Aqui, o investidor empresta dinheiro para outros bancos. É outra forma de investimento entre as mais seguras do mercado. O rendimento é bem parecido com o do tesouro direto, mas alguns bancos menores podem pagar um pouco mais.
Investindo R$ 1.000 num CDB que rende 120% do CDI, em 12 meses o rendimento será de R$ 1.113,05 já descontado o imposto de renda.
- R$ 1.000 rendem R$ 1.113,05 em 12 meses
- R$ 5.000 rendem R$ 5.565,27 em 12 meses
- R$ 10.000 rendem R$ 11.130,54 em 12 meses
- R$ 50.000 rendem R$ 55.652,73 em 12 meses
- R$ 100.000 rendem R$ 111.305,47 em 12 meses
- R$ 300.000 rendem R$ 333.916,43 em 12 meses
Poupança
A Selic alta também interfere no rendimento da caderneta de poupança. Quando a taxa de juros está abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic.
Acima deste patamar, como ocorre agora com a taxa de 13,75% ao ano, o retorno da caderneta fica em 0,5% ao mês mais a variação da TR, a Taxa Referencial, que foi de 1,87% em fevereiro.
Nesta situação, o rendimento anual da poupança está hoje em 6% + 1,87% ao ano = 7,87%. A cada R$ 1.000 investidos, o retorno seria de R$ 1.078,70.
- R$ 1.000 rendem R$ 1.078,70 em 12 meses
- R$ 5.000 rendem R$ 5.393,50 em 12 meses
- R$ 10.000 rendem R$ 10.787,00 em 12 meses
- R$ 50.000 rendem R$ 53.935,00 em 12 meses
- R$ 100.000 rendem R$ 107.870,00 em 12 meses
- R$ 300.000 rendem R$ 323.610,00 em 12 meses
Fonte: O Tempo