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Diversidade etária nas salas de aula na UNIFAL-MG

Redação25 de março de 202314min0
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Acadêmicos de graduação fora da chamada “idade universitária” representam 42% dos matriculados

Para Davi Leocadio, estudante de Medicina, a boa interação com os colegas serve como um combustível para que ele se sinta engajado nas atividades acadêmicas e até mesmo pessoais. (Foto: FORMED Fotografias)

 

“Era para estar aposentada. Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade”, disse uma estudante de uma universidade do interior de São Paulo em um vídeo publicado no Instagram, em que discrimina uma colega ingressante no ensino superior por ter 44 anos. O vídeo repercutiu e gerou revolta em outras redes sociais nos últimos dias, dado o etarismo. O fato é que o preconceito evidenciado pelas estudantes no vídeo não acompanha a realidade, em que o número de calouros com 40 anos ou mais em universidades brasileiras quase triplicou nos últimos 10 anos.

Conforme dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), entre 2012 e 2021, o número de ingressantes com 40 anos ou mais nas universidades do país subiu 171,1%. A expansão dos cursos de ensino a distância (EAD), a busca por novas oportunidades profissionais com a segunda graduação, a realização de um sonho antigo ou simplesmente a procura por novos conhecimentos estão na lista das razões.

Atualmente na UNIFAL-MG, 42% dos universitários da graduação estão fora da chamada faixa etária universitária – de 18 a 24 anos. São 2.486 acadêmicos de graduação que têm 30 anos ou mais, de um total de 5.941 matriculados nos cursos de graduação.

Para professora Marta Rovai, coordenadora do Departamento de Direitos Humanos e Inclusão, não há idade certa para se estudar, uma vez que o conhecimento é imenso e sempre é tempo para aprender. (Foto: Arquivo Pessoal)

“É importante entendermos que não há idade para se estudar. O estudo é uma ação que levamos a vida toda, pois o conhecimento é imenso e sempre é tempo para aprender. Uma pessoa que volta a estudar além do que imaginamos que seja a idade ‘certa’ pode ter muitos motivos”, comenta a professora Marta Gouveia de Oliveira Rovai, coordenadora do Departamento de Direitos Humanos e Inclusão, vinculado à Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace).

Como exemplo, ela lembra que há 20 anos, antes do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, e do Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem, não havia oferta de universidades e era bem mais difícil estudar.

“Muita gente encontra agora, depois de sonhar com a faculdade, a oportunidade de estudar, muitas vezes tendo trabalhado e cuidado da família. Muitas pessoas mais velhas voltam a estudar incentivadas pelos filhos que estão estudando e que sabem o que seus familiares perderam”, ressalta. “Há inúmeras razões e todas elas devem ser aplaudidas e apoiadas, uma vez que estudar sempre nos engrandece”, acrescenta.

Troca de conhecimentos e vivências que engrandece o aprendizado

Lucimara de Oliveira, de 52 anos; Davi Carlos Leocadio, de 50 anos, e Eluy Cristina Firmino Vaz Figueira, de 45 anos, são exemplos desses acadêmicos, que voltaram a frequentar a sala de aula após os 40 anos.

Formada em Direito há mais de 20 anos, a acadêmica Lucimara de Oliveira ingressou no curso de Pedagogia em novembro de 2021. “Eu decidi fazer Pedagogia, porque eu acho que o saber não tem idade e aprender é uma atividade perfeita para qualquer época da vida. Uma nova graduação abre novas portas”, comenta, dizendo que gosta de desafios.

“Eu decidi fazer Pedagogia, porque eu acho que o saber não tem idade e aprender é uma atividade perfeita para qualquer época da vida, afirma Lucimara de Olveira, formada em Direito e estudante de Pedagogia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela conta também que foi bem recebida na turma e mantém uma relação de respeito e carinho com os colegas, sobretudo porque após entrar na faculdade precisou fazer uma cirurgia, que dificultou acompanhar as aulas, mas encontrou apoio. “Eu ingressei na UNIFAL-MG para obter a segunda graduação e passei por uma cirurgia muito delicada. Eu tive aneurisma cerebral e fiquei afastada por uns dias, então achei muita dificuldade, mas quando eu retornei eu tive muito apoio das colegas e dos docentes”, compartilha.

Davi Leocadio, graduado em Ciência da Computação com especialização em Criptografia e Seguranças em Redes, entrou em Medicina na UNIFAL-MG, em 2019. Segundo ele, já tinha feito dois anos de História também na Universidade, mas sempre teve interesse em fazer Medicina.

“Optei por iniciar em 2019 por um conjunto de fatores: minha filha mais velha estava terminando o mestrado na UFMG e trabalhando, a mais nova já estava no 4º de Medicina na UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São Francisco – Pernambuco) e eu tinha possibilidade de me desligar do meu trabalho caso realmente resolvesse transformar o projeto de fazer a graduação em realidade”, relata.

Graduado em Ciência da Computação, Davi Leocadio  (ao centro) ingressou em Medicina para realizar um desejo antigo, após a vida se estabilizar. (Foto: Arquivo Pessoal)

Se por um lado, fazer outra graduação após os 40 anos pode ser desafiador pelas mudanças do tempo transcorrido entre o ensino médio e o início do novo curso, para Davi Leocadio a experiência adquirida ao longo da vida facilitou o convívio e o aprendizado. “Os cursos que fiz no período foram em outras áreas (exatas e humanas) e os conteúdos necessários para o ciclo básico de Medicina estão ligados a matérias que não via há quase 30 anos. Em compensação, minha experiência de vida e os anos de estudos em outras áreas facilitaram e foram determinantes para que eu acompanhasse o ritmo de meus colegas de sala”, diz.

Conforme o universitário, a boa interação com os colegas serve como um combustível para que ele se sinta engajado nas atividades acadêmicas e também naquelas de aspecto pessoal. “Aprendo muito a cada dia com os colegas e busco transmitir algo, pois relacionamento pressupõe exatamente essa troca de conhecimentos e vivências. Além disso, essa interação com os colegas mais jovens me deu maior motivação para além da faculdade, por exemplo, retomei atividades físicas e cuidados com saúde que havia colocado em segundo plano”, revela.

Assim como Lucimara de Oliveira e Davi Leocadio, também Eluy Figueira ingressou na segunda graduação na UNIFAL-MG, para realizar um desejo antigo: o de cursar Enfermagem.

“Minha história é mais uma, como a de tantas mulheres, que renunciam ao sonho de fazerem um curso universitário para trabalhar, casar e ser mãe, deixando a vida profissional em segundo plano”, conta Eluy Figueira. (Foto: Arquivo Pessoal)

Graduada em Fisioterapia em 2018, também pela UNIFAL-MG, Eluy Figueira conta que trabalhou durante a pandemia na área de gerontologia, quando retornou o sonho de ser enfermeira. “Minha mãe é enfermeira, minha irmã, primos e primas. Venho de uma família de enfermeiros. Eu sinto que me desviei do caminho da Enfermagem muitas vezes em minha vida, porém sempre senti o chamado da Enfermagem”, conta.

Segundo ela, quando cursou Fisioterapia, já estava casada e com filha. “Vim de uma família humilde e precisei trabalhar após o ensino médio, deixando o sonho de fazer um curso universitário para depois. Minha história é mais uma, como a de tantas mulheres, que renunciam ao sonho de fazerem um curso universitário para trabalhar, casar e ser mãe, deixando a vida profissional em segundo plano”, detalha.

Ao comentar como vê a inserção de estudantes mais velhos na graduação, Eluy Figueira compartilhar que algumas vezes chegou a sentir certa rejeição, porém o acolhimento encontrado sempre foi maior. “Acho que quando se é mais madura você não se preocupa mais com desvantagens. Você é consciente que o mais importante é explorar seus pontos fortes. A mulher madura pode estar onde ela quiser. Só precisa estar determinada a vencer os desafios do caminho”, conclui.

por Ana Carolina Araújo – https://www.unifal-mg.edu.br/

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