Gasto com cartões cresce 10,7% e soma R$ 849 bilhões no 1º trimestre
O valor transacionado com cartões de crédito, débito e pré-pago alcançou R$ 839,5 bilhões no primeiro trimestre de 2023, o que corresponde a um crescimento de 10,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (11) pela Abecs, associação que representa as empresas do setor de meios eletrônicos de pagamento.
Os cartões de crédito movimentaram R$ 539,2 bilhões no período, alta de 12,7%, enquanto nos de débito o volume foi de R$ 234,6 bilhões, queda de 0,3%. Entre os pré-pagos, a alta chegou a 47%, mas o crescimento destacado guarda relação com a base ainda menor do volume transacionado, que foi de R$ 65,5 bilhões.
Os dados da Abecs mostram ainda que foram registradas 10,1 bilhões de transações com cartões de janeiro a março, incremento de 12,8% em bases anuais.
Os cartões de crédito foram responsáveis por 4,6 bilhões do total de transações efetuadas no período, crescimento de 8,5%. Os de débito registraram 3,8 bilhões de operações, alta de 6%, e os pré-pagos, 1,8 bilhão, aumento de 52%.
“Tivemos um comportamento interessante com uma utilização bastante parruda dos meios eletrônicos em todos os seus diferentes segmentos”, afirmou o presidente da Abecs, Giancarlo Greco, durante conversa com jornalistas para comentar os resultados do primeiro quarto do ano. “A utilização dos meios eletrônicos no consumo dos brasileiros vem ganhando espaço a cada ano.”
Embora o crescimento do volume financeiro transacionado ter ficado abaixo da projeção divulgada pela Abecs no final do ano passado, de um crescimento estimado para este ano entre 14% e 18%, Greco afirmou que o primeiro trimestre é um período do ano sazonalmente um pouco mais fraco do que a média para as operações com cartões de um modo geral.
O executivo afirmou que a associação ainda não pensa em fazer alguma revisão na projeção para a expansão da indústria em 2023, mas reconheceu que o segundo trimestre ainda deve ser marcado por uma cautela maior dos agentes do mercado, em um cenário de juros altos e alta da inadimplência.
Números do BC compilados pela Abecs mostram que, ao passo que a inadimplência média das pessoas físicas alcançou 6,2% em março de 2023, no cartão de crédito, a inadimplência foi de 8,9%. Segundo a Abecs, o aumento da inadimplência no cartão, assim como nas principais modalidades de crédito, tem apresentado um aumento mensal desde agosto de 2022, quando a taxa de juros atingiu 13,75%.
O presidente da Abecs assinalou que o setor de cartões vem trabalhando com o devido rigor nas novas concessões, a fim de manter a inadimplência sob controle.
Greco reconheceu ainda que a utilização crescente do Pix como modalidade de pagamento deve abocanhar uma fatia cada vez maior da indústria de pagamentos ao longo dos próximos anos, em especial no caso do cartão de débito.
Dados da Febraban apontam que, do total de 63,07 bilhões de transações bancárias em 2022, o Pix foi a modalidade mais usada, com 24 bilhões de operações, seguida por cartão de crédito (18,2 bilhões), cartão de débito (15,6 bilhões), boleto (4 bilhões), TED (1,01 bilhão) e cheques (202,8 milhões).
De todo modo, a maior familiaridade com os meios de pagamento por conta do Pix pode, na avaliação do executivo, contribuir para que os brasileiros passem a fazer uso de outras alternativas como os cartões.
RETOMADAS DAS VIAGENS IMPULSIONA CRESCIMENTO DE GASTOS COM CARTÕES NO EXTERIOR
Os dados da Abecs indicam também que os gastos dos brasileiros com cartões no exterior alcançaram a marca de US$ 2,72 bilhões (R$ 13,47 bilhões) no primeiro trimestre do ano, alta de 53% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O presidente da Abecs afirmou que a retomada das viagens de brasileiros ao exterior, passada a fase mais aguda da pandemia, tem contribuído para o aumento expressivo dos gastos dos brasileiros com cartões em outros países.
Quando comparado ao primeiro trimestre de 2019, período anterior à pandemia, o volume gasto pelos brasileiros no exterior com cartões registrou crescimento de 23,6%.
ABECS DESCARTA FIM DO PARCELADO SEM JUROS
O presidente da Abecs também afirmou que a associação tem acompanhado as discussões em curso entre o setor financeiro e o governo que buscam caminhos para reduzir os juros praticados no mercado, em especial o rotativo do cartão de crédito.
A taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito atingiu em março 430,5% ao ano o maior patamar em seis anos, segundo dados do BC.
Dentro das discussões a respeito do assunto, o parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito tem sido apontado pelos grandes bancos como um dos culpados pelas altas taxas de juros do rotativo dos cartões.
“Não tem como dissociar uma coisa da outra. Quando se fala do custo do cartão de crédito, não dá para dissociar do parcelado sem juros”, afirmou o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, durante coletiva para comentar os resultados do Santander Brasil no primeiro trimestre.
Dados da Abecs mostram que cerca de 73% de todo o crédito disponibilizado pelo SFN (Sistema Financeiro Nacional) por meio dos cartões de crédito não têm qualquer cobrança de juro, indicativo da importância do parcelado sem juros no mercado.
“O parcelado sem juros é algo que tomou uma proporção tão grande no mercado brasileiro, de forma tão bem construída, que a possibilidade de ele terminar é simplesmente zero”, afirmou Greco.
Ele acrescentou ser importante o estudo de medidas que possam reduzir os juros do mercado, mas que o fim do parcelado sem juros traria impactos enormes para o comércio e, consequentemente, para o PIB (Produto Interno Bruto) do país. “Temos que achar instrumentos para endereçar esse problema [dos juros altos] de forma estrutural, mas, ao mesmo tempo, sem prejudicar o consumo no país.”
O presidente da Abecs afirmou que tem uma reunião agendada nesta quarta com o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Segundo Greco, o encontro é apenas para que ele possa se apresentar ao presidente do BC, já que tomou posse do novo cargo em março de 2023, e que temas gerais sobre o setor, incluindo o rotativo do cartão, devem ser tratados de forma geral.
(Lucas Bombana / Folhapress)