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Brasil assume neste ano comando do Mercosul, G20 e Conselho de Segurança da ONU

Redação3 de julho de 202311min0
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Brasil assumirá presidência do Mercosul já na terça-feira em meio a tensões com União Europeia

O Brasil inicia no segundo semestre deste ano um protagonismo nas organizações internacionais. Assumira a liderança do Mercosul, G20 e do Conselho de Segurança da ONU. Depois de um hiato de 13 anos, o presidente Lula voltará a se sentar na cadeira de presidente do Mercosul. Seu aliado argentino Alberto Fernández lhe passará o bastão em meio a tensões com a União Europeia que devem dominar o encontro, na próxima terça (4), entre os líderes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além dos outros sete sul-americanos associados, exceto a Venezuela. O brasileiro participará do bloco pela primeira vez neste mandato e poderá discutir, finalmente, com os vizinhos suas insatisfações sobre novas exigências ambientais dos europeus para ratificar o acordo de livre comércio entre os dois blocos, que tem travado as discussões desde o início do ano.

O Brasil também comandará o Conselho de Segurança da ONU em outubro deste ano. A presidência do grupo é rotativa e muda a cada mês. O Brasil passou pela liderança em 2022. Lula tem feito frequentes discursos em fóruns internacionais defendendo a reforma do conselho. O presidente tem dito, por exemplo, que o organismo precisa ter mais representatividade e incluir países da América do Sul, da África e mais países da Europa e da Ásia. Lula costuma citar o próprio Brasil, além de Alemanha, Japão, Índia e África do Sul.

Em dezembro deste ano, o Brasil assumirá a presidência do G20, grupo que reúne representantes das maiores economias do mundo. A presidência do grupo é rotativa e atualmente é ocupada pela Índia. O Brasil ficará à frente do G20 até novembro de 2024. Em 2025, o país de comandar o Brics, organização que também reúne Rússia, China, Índia e África do Sul.

A expectativa é que Lula paute no G20 discussões sobre desigualdade e sustentabilidade. Em recentes declarações, o presidente tem cobrado mudanças na atuação do G20, afirmando que o grupo precisa, por exemplo, incluir a União Africana e passar a discutir temas como inflação e taxa de juros.

Cúpula local

Na terça-feira (4/7), ao assumir a presidência do Mercosul, na 62ª cúpula semestral do grupo, do lado argentino das Cataratas do Iguaçu, na cidade de Puerto Iguazú, Lula deve ouvir o desejo do uruguaio Luis Alberto Lacalle Pou de firmar um acordo bilateral com a China. Há expectativa de que o país siga insistindo no assunto, amplamente criticado pelos governos atuais de Brasil e Argentina. Já um eventual retorno da Venezuela ao Mercosul ainda parece distante, mesmo com os acenos de Lula e a aproximação da região ao ditador Nicolás Maduro desde a última cúpula, em dezembro, à qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não foi. O país foi suspenso do bloco em 2016 por violar a cláusula democrática do grupo.

“[Se o Brasil] pretende levar [esse tema à reunião], eu diria que não. Agora, se é interesse do Brasil ter a Venezuela de volta? Sim. Mas para isso precisam ser cumpridas certas condições, as condições de ingresso de qualquer país do Mercosul”, afirmou a embaixadora Gisela Maria Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, a jornalistas na última quinta (29). Segundo ela, a principal mensagem que Lula quer levar ao encontro é a “repriorização” do bloco e a integração da região não só no comércio, mas em áreas como infraestrutura, saúde e defesa. “Mas eu não posso antecipar [o que ele vai falar]. Claro que a gente faz os discursos, mas o presidente Lula sempre diz que não vai ler”, disse ela, rindo.

Maior sinal disso são as falas reiteradas do presidente apontando para os europeus. “Vocês viram agora que o Congresso francês aprovou que não vai querer fazer acordo com o Mercosul, porque eles acham que o Brasil não vai poder cumprir as metas de Paris?”, discursou ele na última terça (27), no lançamento do Plano Safra 2023-2024. “E quem cumpre? Quem deles cumpriu alguma meta agora mais do que nós?”

Negociado oficialmente desde 1999, o acordo Mercosul-União Europeia foi concluído em 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas ainda não foi ratificado pelos dois blocos. O principal impasse para isso é um anexo ao texto, chamado de “side letter”, proposto pelos europeus no início deste ano, que tornaria obrigatórios alguns compromissos ambientais antes voluntários.

Enquanto a Europa quer garantir que a exportação de commodities com problemas ambientais seja vista como uma violação passível de sanções, o governo brasileiro considera as condições muito rígidas e vem subindo o tom das críticas. “Não é possível que haja uma carta adicional fazendo ameaças a parceiro estratégico”, repetiu o petista na França, há uma semana.

Outro ponto do acordo que Lula tem insistido publicamente em rever são as compras governamentais. Esse capítulo prevê “tratamento nacional” a fornecedores estrangeiros contratados pelos Estados, mas também tem várias exceções para proteger as empresas nacionais. Ainda assim, Lula e principalmente o argentino Alberto Férnandez veem prejuízos às suas indústrias.

“Essa vai ser uma cúpula diferente, com um eixo Brasília-Buenos Aires muito mais forte em relação a 2022”, diz a argentina María Victoria Alvarez, professora de relações internacionais da Universidade Nacional de Rosário. “A Argentina sempre foi bastante cautelosa, nos governos kirchneristas, em relação a tratados de livre comércio que abram sua indústria, e deve seguir defendendo essa questão”, completa a especialista em União Europeia.

Uma aguardada resposta à carta da UE, porém, não deve sair nesta cúpula do Mercosul. “O governo está terminando sua avaliação de pontos específicos e está traduzindo as instruções do presidente Lula para um documento que será apresentado aos parceiros do Mercosul e depois à UE”, diz Maurício Lyrio, secretário de assuntos econômicos do Itamaraty, afirmando que a proposta “está muito próxima” e “não tardará”.

Antes do encontro de presidentes, nesta segunda (3) acontece a reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC) com ministros do bloco, mas Fernando Haddad (Fazenda) não deve ir. Ele ficará em Brasília para se dedicar à articulação de projetos como o arcabouço fiscal e a reforma tributária, com votações pautadas na Câmara.

Estão confirmadas até agora as presenças do chanceler Mauro Vieira e do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa. Ao final dos dois dias de debates, Fernández passará a presidência semestral do bloco a Lula, que organizará a cúpula seguinte, em dezembro de 2023 ou janeiro de 2024.

“Na última cúpula, o assunto mais polêmico foi o acordo de livre comércio que o Uruguai quer fechar com a China. Esse debate é muito importante e deve retornar”, afirma o professor Cairo Junqueira, coordenador do Observatório de Regionalismo, originado na Unesp, Unicamp e PUC-SP.

O país vizinho, que não assinou a declaração final da reunião de dezembro, defende fortemente que as restrições de acordos bilaterais fora do bloco “contribuem para aprofundar as assimetrias em detrimento das economias de menor dimensão econômica”. Já Brasil e Argentina sustentam que eles ferem uma normativa de 2000 e podem destruir a Tarifa Externa Comum do bloco.

“Isso continua na agenda do Uruguai, porque está na agenda dos partidos que estão na coalizão de base do governo [de Lacalle Pou] e de atores do setor privado do país”, diz Camilo Burian, professor de política externa sul-americana da Universidade da República Uruguaia (Udelar).

O Itamaraty indica que “não vê relevância nesse debate, porque não há novidades”. Já o Ministério de Relações Exteriores do Uruguai afirmou que não daria declarações prévias à reunião – a Argentina e o Paraguai, governado por Mario Abdo Benítez, não responderam aos pedidos de entrevista. A Bolívia ainda está em processo de adesão.

Segundo o governo, o Mercosul movimentou US$ 46,1 bilhões internamente e US$ 727 bilhões no comércio com o resto do mundo em 2022. Os principais destinos das vendas do bloco são China, Estados Unidos e Países Baixos. A região também correspondeu a 6,5% das exportações e 6,9% das importações brasileiras no ano passado.

(Com Folhapress) 

Redação


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