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Quase 6 mil pessoas esperam por um doador de órgãos em Minas

Redação23 de agosto de 202315min0
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Levantamento de janeiro a julho deste ano mostra que 5.949 pessoas estão à espera de um órgão no estado

A internação do apresentador Faustão, que na semana passada ingressou na fila de transplantes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), novamente trouxe à tona a discussão sobre a doação de órgãos no Brasil e a angústia dos pacientes que aguardam por um órgão. Em Minas Gerais, segundo o MG Transplantes, um levantamento de janeiro a julho deste ano mostra que 5.949 pessoas estão à espera de um órgão no estado, sendo: 22 para o coração, 2.986 para córnea, 2.794 para rim, 97 para fígado, 44 rim/pâncreas e seis para pâncreas.

Paralelamente aos dados de 2022, até dezembro do ano passado, a lista de espera em Minas era de 32 pessoas aguardando um coração, 2.863 córnea, 87 fígado, 10 pâncreas, 2.861 rim, 49 rim/pâncreas, em um total de 5.902 pessoas na fila no estado. Importante considerar ainda que uma mesma pessoa pode figurar na lista em 2022 e estar na mesma condição atualmente.

Em relação ao número de transplantes, o levantamento mostra que, entre janeiro e julho de 2023, 480 pacientes receberam uma nova córnea, 40 escleras, 169 medula óssea, 330 receberam rins de doadores falecidos, 77 receberam rins de doadores vivos, 43 coração, 4 de fígado/rim (como se chama a doação conjunta, no caso do paciente que precisa ao mesmo tempo de mais de um órgão), 102 fígado, nove rim pâncreas (também doação conjunta) e  cinco pâncreas. Comparando o número de pessoas na fila de espera com as doações feitas, constata-se que o cenário mais crítico é para quem precisa de um novo rim.

O MG Transplantes explica que a lista é dinâmica – os dados podem mudar de um dia para o outro.

O cirurgião cardiovascular e torácico do Hcor, Paulo Pego Fernandes, explica que a fila de espera por órgãos respeita a ordem cronológica, mas é feito um cruzamento com uma lista de prioridades.

No caso de problemas cardíacos, como acontece com Faustão, pacientes internados, com suporte para o coração e outros órgãos são priorizados e podem tomar a dianteira da fila.

A gravidade do caso, o tipo sanguíneo e o tamanho corporal (altura e peso) influenciam no tempo de espera pelo órgão. “Em casos menos graves, a espera por um transplante cardíaco pode ser de 12 a 18 meses, em média. Em casos mais graves, esse período pode ser reduzido para de dois a três meses”, esclarece o especialista.

“Muitas vezes, enquanto aguarda o transplante cardíaco, o paciente tem uma piora importante, fazendo com que seja necessária a internação, geralmente, em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), recebendo medicações que ajudam o sangue a circular no organismo”, destaca.

Disponibilidade do órgão é desafio

Para Agnaldo Soares Lima, diretor acadêmico da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) e coordenador de transplante de fígado da Santa Casa de BH, hoje a maior dificuldade para o paciente na fila de transplante é a disponibilidade do órgão necessitado. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 65 mil pessoas estão na fila de transplante de órgãos no Brasil. “Isso se deve, principalmente, ao baixo número de doações de órgãos no país, gerado pela falta de conscientização diante da importância da ação que pode salvar vidas”, comenta.

Gravidade, compatibilidade e prioridade

Alcançando quase 51 mil pessoas na fila, o sistema de transplantes leva em consideração fatores como gravidade, compatibilidade e prioridade. O especialista explica que órgãos como o rim priorizam a compatibilidade para ser bem sucedido, já o coração considera-se a urgência do caso. “Um paciente que está em observação em casa e está em uma posição preferencial, ele não pode passar na frente de um caso de imediatismo”, explica Agnaldo.

Uma preocupação relevante é a rejeição. O fígado é um dos órgãos com menos casos de recusa. Sobre o fígado, Agnaldo explica que engana-se quem acha que a doação entre vidas (quando se doa parte do órgão), é comum nesse caso. “Cerca de 10% dos transplantes de fígado é dessa forma, quando o doador está vivo. Sendo que dessa porcentagem, a maioria é de crianças, já que vários critérios precisam ser analisados, como a compatibilidade sanguínea e tamanho do fígado”, informa.

Ainda sobre o fígado, Agnaldo informa que as principais causas para o transplante do órgão é a cirrose por bebida, seguido pela hepatite C e gordura no fígado, ocasionado por condições como obesidade e diabetes. “Os transplantes gerados por hepatite C têm diminuído devido ao tratamento disponível [com 95% de taxa de cura], enquanto a hepatite por gordura têm aumentado devido ao crescimento dos casos de obesidade.”

Transplantes como o de coração, pulmão e fígado, considerados mais delicados, são mais arriscados devido à fragilidade do paciente. Após o procedimento, o especialista explica que o transplantado não se torna um inválido, impossibilitado de dar continuidade à vida – tendo inclusive qualidade de vida. “A recuperação leva por volta de dois a três meses e, ao perceber a oportunidade que ganhou, o paciente volta a seguir sonhos, a trabalhar, praticar atividades físicas etc. Vale ressaltar que observamos cada paciente individualmente. O resultado não é igual para todos; por exemplo, a faixa etária do transplantado é um critério relevante.”

O coordenador de transplantes reforça a importância de as pessoas se conscientizarem sobre as doações de órgãos ou tecidos e procurarem fontes confiáveis e especializadas. “Posteriormente, é essencial informar aos familiares sobre a decisão, além de conscientizá-los também, pois serão os responsáveis pelo corpo após a morte e somente eles poderão autorizar a doação dos órgãos de um familiar.”

À espera de um órgão

A designer Andrea Riani Rocha, de 59 anos, foi diagnosticada com ceratocone no olho direito, doença ocular que afeta a córnea, na adolescência. À época, ela foi submetida a um transplante de córnea. Agora, o órgão passa por um novo processo de desgaste e ela acaba de entrar em uma segunda fila de transplante, a nível nacional, pelo SUS, em que está há seis meses. Andrea não sabe precisar a causa do problema. Acredita que tenha acontecido devido a um quadro de estresse. Enquanto aguarda, faz acompanhamento com oftalmologista e diz que, apesar de ansiosa, está confiante. Se não conseguir o órgão, pode perder a visão. “Se isso acontecer, graças a Deus tenho a outra vista”, declara, otimista.

Quando tinha 4 anos, a mãe da advogada Gisela Fani teve uma preocupação com a menina, que urinou sangue. Ela foi levada ao atendimento com um nefrologista para crianças, mas os exames não concluíram o que estava se passando. Gisela se manteve em um tratamento conservador, até que, aos 18 anos, começou a perder hemácias ao urinar. Entre 2012 e 2013, teve dois quadros de resfriados severos, inclusive um que evoluiu para pneumonia, o que foi o gatilho para ocasionar também perda de proteína pela urina.

Gisela conta que nunca soube o que era, até que, em 2017, a doença se agravou e a perda de proteína foi galopante. Nessa ocasião, uma segunda biópsia finalmente indicou nefrite crônica autoimune, para o que Gisela foi indicada a tentar um transplante de rins – o tratamento de controle com imunossupressores, que vinha realizando, não seria mais eficaz.

De volta à fila

Em 2019, recebeu o órgão de sua madrasta, que foi compatível. Mas, em 2021, foi detectado um vírus no órgão recebido e, em setembro de 2022, ela voltou à fila de transplante. Conseguiu o rim, mais uma vez, em fevereiro deste ano. Para Gisela, hoje com 41 anos, uma história que lhe ensinou sobre esperança. “Todos pensam que vão morrer com a doença. Mas não é o fim. Sempre tive uma vida normal. A doença é um processo de aprendizado”, diz.

O cirurgião cardiovascular e torácico do Hcor, Paulo Pego Fernandes, explica que a fila de espera por órgãos respeita a ordem cronológica, mas é feito um cruzamento com uma lista de prioridades. No caso de problemas cardíacos, como acontece com Faustão, pacientes internados, com suporte para o coração e outros órgãos são priorizados e podem tomar a dianteira da fila.

A gravidade do caso, o tipo sanguíneo e o tamanho corporal (altura e peso) influenciam no tempo de espera pelo órgão. “Em casos menos graves, a espera por um transplante cardíaco pode ser de 12 a 18 meses, em média. Em casos mais graves, esse período pode ser reduzido para de dois a três meses”, esclarece o especialista.

“Muitas vezes, enquanto aguarda o transplante cardíaco, o paciente tem uma piora importante, fazendo com que seja necessária a internação, geralmente, em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), recebendo medicações que ajudam o sangue a circular no organismo”, complementa Paulo Pego Fernandes.

Quando um órgão compatível é encontrado, a cirurgia de transplante é realizada. “A grande vantagem é que o paciente passa a ter uma qualidade de vida normal, dependendo apenas de imunossupressores e controle clínico rigoroso”, aponta.

O Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. A estrutura, gerenciada pelo Ministério da Saúde, assegura que 90% das cirurgias atendam à rede pública. No primeiro semestre de 2023, foram realizados 206 transplantes de coração no país, aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado. Os pacientes, por meio do SUS, recebem assistência integral, equânime, universal e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.

A doação de órgãos é um processo complexo, que envolve diferentes instituições e requer agilidade para ser bem-sucedido. Cada órgão tem um período máximo de permanência fora do corpo humano, ao longo do qual o transplante é viável, o chamado de tempo de isquemia. Para o coração, o tempo de isquemia é de apenas 4 horas, o que torna o transplante do órgão ainda mais complexo.

As doenças do coração são as mais incidentes entre os brasileiros e também a principal causa de morte no país, chegando a 30% do total de óbitos, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Entre as enfermidades mais prevalentes, estão as arritmias, doença coronária (entupimento dos vasos do coração) e a insuficiência cardíaca.

“A insuficiência cardíaca é caracterizada pela incapacidade do coração de funcionar adequadamente, deixando de bombear sangue para outros órgãos e tecidos, o que compromete a saúde do organismo e a qualidade de vida do paciente. As causas são extremamente variadas e, de maneira geral, a insuficiência cardíaca é a consequência final de muitas condições que afetam o coração, como infarto, hipertensão e doenças nas válvulas do órgão”, explica a nefrologista especialista em medicina interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Caroline Reigada.

Fonte: Estado de Minas

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