O que é, como diagnosticar e tratar o lipedema, doença prevalente em mulheres
Foi por acaso que a jornalista Juliane Massaoka chegou ao diagnóstico de lipedema. Repórter do programa “Mais Você”, comandado por Ana Maria Braga, na Rede Globo, ela participou de um quadro, em setembro, em que experimentava botas de calça jeans. Mas, enquanto a apresentadora calçava o item com tranquilidade, para Juliane a tarefa parecia especialmente complicada.
A partir do episódio, aparentemente banal, a repórter passou a receber mensagens de seus seguidores sugerindo que aquela dificuldade em vestir o calçado poderia ser um indicativo para o lipedema. No mês seguinte, após uma série de exames, Juliane relatou em suas redes sociais ter recebido o diagnóstico para esta condição crônica que afeta principalmente as mulheres e se caracteriza pelo acúmulo anormal de gordura em algumas partes do corpo, como pernas, braços e abdômen. Essa gordura é resistente à dieta e ao exercício físico, podendo causar dor, inchaço, hematomas e dificuldade de movimentação. Além disso, o lipedema pode levar a complicações como infecções, problemas circulatórios e linfáticos, depressão e baixa autoestima.
É o que indicou um estudo publicado pelo periódico científico “Jornal Vascular Brasileiro”, no ano passado. “Nesta pesquisa, observamos que a prevalência do lipedema na população de mulheres brasileiras é de 12,3%. Estimamos, de forma conservadora, que 8,8 milhões de mulheres adultas brasileiras entre 18 e 69 anos podem ser portadoras dos sintomas sugestivos do diagnóstico de lipedema. Ansiedade, depressão, hipertensão arterial e anemia parecem estar associadas ao lipedema”, assinalam os autores do estudo “Prevalência e fatores de risco para lipedema no Brasil”.
Estudiosos e médicos que tratam a doença apontam, ainda, que a maioria dos casos não é diagnosticada corretamente. Muitas vezes, o lipedema é confundido com obesidade ou linfedema, que é o acúmulo de líquido nos tecidos. No entanto, o lipedema tem características próprias que permitem diferenciá-lo dessas outras condições. “A obesidade é caracterizada pelo acúmulo de gordura de forma homogênea no corpo, sem dor ou desproporção. O linfedema é causado pelo acúmulo de linfa (líquido do tecido linfático) e não de gordura. O linfedema também é indolor e pode afetar algumas partes do corpo de forma assimétrica”, explica a médica endocrinologista Thais Costa Magalhães, especializada no tratamento da doença.
Por outro lado, no caso do lipedema, o principal sintoma é a dor nas áreas afetadas pela gordura excessiva. Além disso, as mulheres com lipedema apresentam inchaço, celulite, flacidez da pele e hematomas que surgem facilmente. “A marca registrada do lipedema é a desproporção entre a parte inferior e a parte superior do corpo. As mulheres com lipedema têm o tronco e o rosto finos, assim como as mãos e os pés”, observa.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do lipedema é feito por meio de uma avaliação clínica detalhada, que inclui a história do paciente, o exame físico e a medida da circunferência das extremidades. Alguns exames complementares, como ultrassom, ressonância magnética e cintilografia linfática, podem ajudar a confirmar o diagnóstico e a avaliar a extensão da doença. “Em alguns casos duvidosos, podem ser solicitada a densitometria de corpo total (DXA), um exame de imagem que mede a quantidade de gordura no corpo”, indica Thais Magalhões.
Sobre o tratamento da doença, a médica sinaliza que os procedimentos a serem adotados vão depender da gravidade dos sintomas e do estágio da doença. De maneira geral, ela diz que o tratamento do lipedema pode ser dividido em conservador e cirúrgico. “A opção mais conservadora vai consistir em uma nutrição adequada, prática de exercícios físicos, controle do peso corporal e técnicas de drenagem linfática descongestiva. Essas medidas visam a reduzir o edema, a dor e a inflamação, além de melhorar a circulação sanguínea e linfática”, expõe.
Já a intervenção cirúrgica envolve a retirada da gordura doente por meio de uma lipoaspiração. “A lipoaspiração pode melhorar o contorno corporal, a mobilidade e a qualidade de vida das pacientes com lipedema. O tratamento cirúrgico deve ser sempre precedido do tratamento clinico e, este, deve ser mantido após a cirurgia”, informa. É importante pontuar, portanto, que a cirurgia não cura o lipedema, pois a doença pode voltar se não houver um acompanhamento clínico adequado.
Complicações
Deixar de tratar o lipedema acarreta uma série de problemas secundários, como o bloqueio dos vasos linfáticos, que pode levar ao linfedema, aumentando o risco de infecções e causando deformidades nos pés.
O problema também pode gerar limitações de mobilidade, artrite acelerada no joelho e tornozelos, alterações na pisada e na ativação muscular, dificultando a realização das atividades diárias, reduzindo a qualidade de vida e aumentando o risco de coagulação sanguínea.
Varizes e alterações circulatórias também podem estar associadas, gerando complicações cardiovasculares. Por fim, pesquisadores identificaram que essa condição genética crônica também está relacionado a questões como depressão, distúrbios alimentares e de autoimagem.
Prevenção
Segundo a médica Thais Magalhães, a principal recomendação para quem tem lipedema é prevenir o ganho de peso, uma vez que o excesso de gordura é um dos fatores que desencadeiam e que fazem progredir o problema. Por isso, é importante ter uma alimentação saudável e equilibrada, evitar o consumo de alimentos inflamatórios, como açúcar, farinha branca, frituras e álcool, e praticar atividades físicas regularmente, preferencialmente de baixo impacto, como caminhada, natação, hidroginástica e bicicleta.
Além disso, é fundamental procurar um médico especializado para fazer o diagnóstico correto do lipedema e iniciar o tratamento o quanto antes, pois o acompanhamento clínico, quando precoce, pode evitar as complicações do lipedema e melhorar a autoestima e a qualidade de vida das pacientes.
Carência de pesquisas. Vale registrar que o lipedema é uma doença que ainda carece de mais estudos e divulgação para ser reconhecida e tratada adequadamente. Acredita-se, hoje, que esta é uma condição genética causada por influência do hormônio feminino, o estrogênio, na formação e na distribuição da gordura no corpo.
Fonte: O Tempo