Polícia conclui menos da metade das investigações de crimes em Minas Gerais
Menos da metade dos crimes com mortes são desvendados pela Polícia Civil de Minas Gerais. Dos 2.688 inquéritos instaurados no ano passado, procedimento que investiga as causas e autorias dos crimes, 1.225 foram concluídos. A média é de 45,57%, ou seja, quatro a cada dez casos. Os números fazem parte do Relatório Estatístico de Mortes Violentas Intencionais, elaborado a partir de boletins de ocorrência e inquéritos, registrados entre janeiro e dezembro de 2022.
“É uma realidade que reforça a denúncia que fazemos de forma rotineira: a falta de estrutura na Polícia Civil. Nós temos uma instituição que engessada, que atua de forma arcaica. Falta tecnologia para auxiliar nas investigações”, avalia Wemerson Oliveira, presidente do Sindicado dos Servidores da Polícia Civil no Estado de Minas Gerais. Um problema, que segundo o representante da categoria, se soma a falta de servidores. “O estado tem hoje uma população com mais de 22 milhões de pessoas, são 853 municípios, e nós temos seis mil investigadores apenas”, acrescenta.
Atualmente, a Polícia Civil de Minas Gerais conta com 6.126 investigadores, profissionais que possuem a função de apurar as causas e autorias dos crimes ocorridos no estado. O recomendado é de que a instituição pudesse contar com 11.301 servidores nesta função, conforme o Sindpol. Para a pesquisadora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais, o baixo efetivo é uma das causas, porém não pode ser considerada como a única responsável pela dificuldade em solucionar os crimes.
“A nossa sociedade está cada vez mais dependente da tecnologia, e os crimes acompanham esse comportamento”, aponta pesquisadora. Ludmila reforça que essa dependência dos aparelhos tecnológicos faz com que os crimes fiquem cada vez amis elaborados. “As brigas, por exemplo, elas deixam de ocorrer no espaço físico e migram para a web. Na rua, na casa ou em outro espaço você vai encontrar apenas o corpo. Essa mudança mostra que a investigação com base nos depoimentos das testemunhas já não é mais tão eficiente, é preciso destacar a necessidade da tecnologia”, acrescenta.
O estudo realizado da Polícia Civil apontou que somente os inquéritos de abandono de incapaz com resultado de morte, de extorsão mediante sequestro seguida de morte, de extorsão seguida de morte, de infanticídio e de tortura seguida de morte foram todos concluídos. O estado registrou entre janeiro e dezembro do ano passado dois casos de abandono de incapaz com resultados de morte e um caso de cada um dos outros delitos citados.
Os inquéritos relacionados aos crimes de homicídio foram os que tiveram a menor taxa de conclusão, com 45,47%. Dos 2.688 inquéritos abertos, 1.225 foram concluídos. O crime foi o que teve o maior registro no estado, com 2.694. “É um crime muito comum e que os motivos vão além do tráfico de drogas, como a sociedade costuma considerar. A facilidade do acesso a armas de fogo, por exemplo, ajuda a justificar o motivo deste tipo de delito ser tão recorrente”, justifica a pesquisadora Ludmila Ribeiro.
O argumento da pesquisadora reforça o resultado do estudo. O levantamento mostrou que 63,50% dos homicídios registrados em Minas ocorreram com armas de fogo. O uso de armas brancas foi a segunda maior causa das mortes, com 23,08%.
“Esse relatório da Polícia Civil é uma ferramenta muito importante. Embora se possa ter a sensação de que a média de casos solucionados é baixa, ela está acima da média nacional. É algo que pode melhorar, mas ter esse relatório é uma sinalização de uma instituição aberta a novas estratégias e de formas de aprimorar as ações”, avalia Ludmila Ribeiro.
Cidades com melhores índices de crimes solucionados
- Poços de Caldas – 78,26%
- Barbacena – 74,51%
- Uberaba – 69,62%
- Pouso Alegre – 67,80%
- Montes Claros – 67,24%
- Patos de Minas – 65,48%
- Uberlândia – 60,64%
- Lavras – 59,02%
- Unaí – 58,33%
- Curvelo – 52,58%
Fonte: O Tempo