Como os pais podem ajudar os filhos a lidar com o bullying
No dia 11 de novembro, a influencer e ex-BBB Viih Tube compartilhou, nas redes sociais, imagens da festa de comemoração dos sete meses da filha, Lua di Felice. O registro fofíssimo e caprichado da celebração, porém, não rendeu apenas comentários agradáveis. A pequena Lua foi alvo de uma infinidade de críticas e questionamentos a respeito de seu peso – e, infelizmente, essa não foi a primeira vez. A situação, fora do controle e agressiva, fez com que a influencer se pronunciasse.
Em stories compartilhados no Instagram, Viih Tube confessou que não tem mais paciência e reclamou dos insistentes comentários sobre o corpo da filha. “Não, isso não é preocupação, isso é maldade”, escreveu. “Já falei inúmeras vezes que a Lua só mama e agora que começou a introduzir (comida); está na fase que ainda nem come direito, mas experimenta e (come) mais fruta. Obviamente, ela tem acompanhamento”, completou, ressaltando que a pequena Lua é acompanhada por uma série de especialistas. “Para a informação de vocês, ela tem pediatra, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, gastroenterologista; então, assim, está ótima, né?”, reiterou.
A influencer ainda pontuou que não aceitaria mais comentários sobre o peso da filha. “A partir de agora, vou entrar com todos os meus direitos legais contra cada pessoa que comentar”. O discurso também foi compartilhado pelo pai da criança. Irritado, Eliezer desabafou sobre as críticas e pontuou que o que ela sofre pode ser enquadrado como crime.
O influenciador não está errado. A advogada e doutora em educação Maria Inês Vasconcelos destaca que a legislação brasileira de enfrentamento ao bullying é muito consistente e se junta, inclusive, a todo o arcabouço jurídico de proteção da criança e do adolescente. Entre as medidas que podem ser tomadas, ela cita o encaminhamento de casos de violência aos serviços de assistência jurídica, o envio de relatórios das ocorrências ao Ministério Público e a comunicação dos casos ao Conselho Tutelar e à autoridade policial. No ambiente escolar, estudantes também podem ser suspensos das atividades.
Em casos com crianças, como a filha de Viih Tube, ela pontua que se aplica a legislação geral, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Federal 13.185/2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática – Bullying. “É um diploma que está em vigor e define todas as condutas consideradas como bullying e cria um sistema para que sejam combatidas. Não se pode deixar de mencionar o Manual de Prevenção à Violência Juvenil, elaborado pela Organização Mundial de Saúde em 2015”, completa.
Bullying acontece com frequência
Embora esteja escancarado na internet e ganhe ainda mais projeção quando acontece com pessoas famosas, o caso da pequena Lua não é o único. Conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada dez adolescentes já se sentiu ameaçado, ofendido e humilhado em redes sociais ou aplicativos. O percentual sobe de 13,2% para 16,2% quando são avaliados apenas os casos que envolvem meninas. Entre os meninos, o número representa 10,2%.
Na escola, os números são ainda maiores. Segundo uma pesquisa recente desenvolvida pelo DataSenado, instituto de pesquisa vinculado à Secretaria de Transparência do Senado Federal, 62% das pessoas com idades entre 16 e 29 anos confessaram já ter sofrido bullying no ambiente escolar.
A PHD em neurociência, psicopedagoga e psicanalista Angela Mathylde Soares observa que o bullying é uma questão estrutural e ressalta que as escolas precisam estar preparadas para lidar com a situação, principalmente porque casos de intimidação acontecem muito no ambiente escolar. “O primeiro contato das crianças com as diferenças acontece lá. Antes, o filho é só da família e, de repente, ele vai para a escola, e o que os pais acham bonito os colegas podem não achar”, exemplifica.
Angela ressalta, porém, que o primeiro bullying pode vir de dentro de casa. “São os apelidos que as pessoas acham carinhosos, mas que não são permitidos pela criança”, afirma. A PHD explica que o cuidado para evitar o bullying – e a própria prática dele – vem de casa. “Os filhos devem ser orientados. Um ambiente familiar disruptivo, que não tem valores, estruturas morais, rotinas e regras também contribui para isso. O bullying surge numa fragilidade do outro, daquele que o pratica. Ele é tão insensível, imaturo, despreparado, que não dá conta de lidar com as diferenças”.
Telma Cunha, psicóloga e diretora da clínica infantojuvenil ArvoreSer, orienta que os pais façam uma intervenção e acolham crianças quando elas são vítimas de intimidação. “É preciso dar toda a liberdade para que elas expressem o sofrimento, para que haja uma abertura, porque às vezes as crianças não falam para os pais com medo do que eles vão fazer, de que fiquem muito bravos, procurem a pessoa para brigar. Essa preocupação, muitas vezes, silencia essa criança, então é muito importante os pais acolherem e se posicionarem”, explica.
Telma ressalta a importância de que as crianças aprendam a se posicionar em situações de bullying, principalmente para não se tornarem vítimas ou não serem figuras passivas diante dessas atitudes. “Os pais precisam ensinar a criança a se valorizar, a não abaixar a cabeça e a buscar ajuda para aprender a manifestar seus sentimentos”, afirma. “A gente nunca deve orientar esse filho a revidar, nunca incentivar isso, mas, sim, ensiná-lo a se proteger de uma forma assertiva, se manifestar mostrando sua insatisfação”.
Quando a criança é a agressora, a orientação é ensiná-la a ter empatia com o outro. “Peça a criança para se colocar no lugar de quem está sofrendo: ‘Se fosse você que estivesse ouvindo esse tipo de crítica, iria gostar?’. É importante que os pais eduquem a criança tanto para ela se proteger quanto para ter empatia e não cometer atos como esses”, explica.
Fonte: O Tempo