MG tem 11 acidentes com motoristas bêbados por dia
Minas Gerais teve onze acidentes com motoristas embriagados por dia em 2023. De acordo com o levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), foram 3.555 registrados entre janeiro e outubro. Deste total, 1.658 foram com vítimas, o que corresponde a 46% dos acidentes ocorridos neste período. O estudo, no entanto, aponta para uma queda na quantidade de infrações de trânsito com condutores bêbados e no número de vítimas quando comparado ao ano de 2022. Porém, para especialistas, a quantidade ainda preocupa e tende a aumentar no fim de ano, principalmente por causa das confraternizações, quando ocorre também o maior consumo de bebidas alcóolicas.
“Infelizmente, mesmo com todas as ações preventivas e repressivas, nossos condutores insistem na combinação entre álcool e direção. Algo que se torna mais recorrente com as festas de fim de ano, que são regadas com bebidas alcoólicas”, alertou o tenente Luiz Fernando Ferreira, do Batalhão de Polícia Militar Rodoviário. Para ele, além dos riscos entre álcool e direção, outro fator que potencializa os riscos de acidente nesta época do ano é a chuva. “A pista fica mais escorregadia e a visibilidade comprometida. Ou seja, quando você precisa deste condutor mais atento, ele não consegue porque ingeriu álcool”, alertou.
O estudo feito pela Sejusp mostrou uma redução de 12,45% no número de acidentes com motoristas bêbados no Estado. Foram 4.061 em 2022, o que confirma uma redução de 506 casos no intervalo entre janeiro e outubro deste ano. O levantamento também confirma uma queda na quantidade de vítimas em acidentes com motoristas alcoolizados. Em 2023 foram 1.658, o que representa uma diminuição de 16% quando se comparada às 1.974 vítimas de 2022.
“É uma consequência de todos esses trabalhos que temos feito nos últimos anos. A polícia não faz uma blitz com o objetivo de punir alguém, pelo contrário, ela quer garantir a segurança desse motorista, que ele cumpra o que está previsto na lei”, afirmou o tenente Luiz Fernando Ferreira. As ações seguem o determinado na Lei Seca, que completou 15 anos em 2023. Segundo o tenente, apesar do endurecimento das regras e da fiscalização, motoristas ainda desafiam a lei e se expõem aos riscos de acidentes ao descumprirem o estabelecido. “Tem a previsão de multa, a possibilidade de suspensão da carteira, a necessidade de chamar alguém para remover o veículo, uma série de punições, e mesmo assim algumas pessoas insistem na prática”, lamentou.
Durante a madrugada desta segunda-feira (11 de dezembro), um homem de 32 anos morreu após ser arremessado de um veículo, modelo Porsche 911 Carrera, na avenida Barão Homem de Melo, no bairro Estoril, na região Oeste de Belo Horizonte. O carro, que seguia a uma velocidade superior a 250 km/h, em uma via onde a permissão é de até 60 km/h, bateu em postes e árvores e causou estragos. O motorista, de 32 anos, teve ferimentos leves e precisou de atendimento médico. Conforme a Polícia Militar, ele estava com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) cassada e foi preso em flagrante por embriaguez.
“Esse motorista é um infrator contumaz, uma pessoa que comete infrações de trânsito com frequência. Isso porque antes dele ter o documento cassado, ele teve esse documento suspenso. A CNH só é cassada depois de alguma suspensão. E se ela estava nessa condição, ele não poderia estar dirigindo, porque não é mais habilitado”, explicou a especialista em trânsito Roberta Torres. Para ela, o caso expõe uma série de irregularidades, que colocaram em risco as vidas do motorista, do passageiro do veículo e de outras pessoas que poderiam estar no trecho por onde ele passou. “A velocidade é mais um fator agravante, que se soma ao dirigir com sinais de embriaguez. O carro em que ele estava é potente, consegue chegar a essa velocidade, mas um condutor não consegue ter o controle da direção depois de ingerir álcool. Ele cometeu um crime de trânsito, e foi pior porque teve uma vítima”, pontuou.
Conforme o artigo 302 do Código Brasileiro de Trânsito (CTB), o motorista embriagado que provocar uma morte no trânsito deverá responder, em regra, pelo crime de homicídio culposo, com a possibilidade de prisão de até oito anos e a suspensão do direito de dirigir. Em alguns casos, esse crime poderá ser considerado doloso, quando se tem a intenção ou assume o risco de matar. Deste modo, o caso será julgado conforme o artigo 121 do Código Penal, e a reclusão poderá ser de 6 a 20 anos. A lei também considera que um condutor preso em flagrante por estar ao volante alcoolizado não poderá ser liberado mediante pagamento de fiança. “O que a gente espera é que as medidas previstas sejam adotadas, principalmente porque foi um crime seguido da morte de uma pessoa. Isso precisa servir de exemplo”, acrescentou Torres.
O motorista do Porsche foi socorrido com ferimentos leves para o Hospital João XXIII, onde recebeu atendimento médico sob escolta policial, já que recebeu voz de prisão por embriaguez. A unidade de saúde é referência nos atendimentos de politraumatismos na capital. Em 2022, cerca de 8 mil dos mais de 80 mil atendimentos realizados no hospital foram de pacientes envolvidos em acidentes de trânsito. Esses atendimentos representam os casos mais graves recebidos na unidade. A maior parte deles envolvendo motociclistas, que ocupam o segundo lugar em atendimentos no pronto-socorro – são 4 mil casos durante o ano, sendo que mais de 3 mil vítimas são homens com idade entre 20 e 40 anos.
“O trânsito é uma atividade que já oferece muitos riscos, quando você consome bebida alcoólica, então, isso potencializa, aumenta ainda mais. É um risco não somente para quem conduz algum veículo, mas também para um pedestre, que pode se tornar vítima ao atravessar em um local indevido”, destacou o gerente médico adulto do Hospital João XXIII, Rodrigo Muzzi. Ele destaca que o álcool altera o funcionamento do organismo, prejudicando a capacidade de reflexo e até mesmo a visão. “A recomendação que a gente sempre passa é para nunca ingerir álcool em quantidade suficiente de perder o controle e os sentidos. Até mesmo dentro de casa isso pode representar riscos. A pessoa quando bebe em grande quantidade e decide cozinhar, por exemplo, também pode ser vítima de um acidente”, completou.
A orientação é a mesma da especialista em trânsito Roberta Torres. Ela argumenta que o consumo excessivo de álcool pode provocar o que é conhecido como “blecaute alcóolico”, que ocorre quando o cérebro se torna incapaz de registrar eventos transcorridos durante o consumo da bebida e faz com que a pessoa perca a capacidade da visão e de reação. “Existem vários aplicativos, além do táxi, que podem ajudar quem decide sair para confraternizar e consumir bebida alcóolica. O condutor precisa ser responsável a esse ponto, de não dirigir após beber. Além disso, reforçar a fiscalização é fundamental, principalmente neste período de ano, em que essas confraternizações são mais frequentes”, concluiu.
O acidente
O acidente com o veículo Porsche 911 Carrera ocorreu durante a madrugada desta segunda-feira (11), na avenida Barão Homem de Melo, no bairro Estoril, na região Oeste de Belo Horizonte. O veículo em que ele estava atingiu postes e árvores da via. Um homem de 32 anos, que estava no banco de passageiro, foi arremessado do carro e morreu.
Assista o vídeo:
Imagens de um circuito de segurança registraram o momento em que um veículo Porsche 911 Carrera, que estava em alta velocidade, atingiu árvores e postes da avenida Barão Homem de Melo, no bairro Estoril, em BH. O acidente ocorreu durante a madrugada desta segunda-feira (11). Um… pic.twitter.com/ODKSqQILDs
— O Tempo (@otempo) December 11, 2023
De acordo com a Polícia Militar, o velocímetro do automóvel travou em 260 km/h. O boletim de ocorrência aponta que o condutor, que também tem 32 anos, apresentava fala desconexa, hálito etílico e olhos vermelhos. Ele recusou fazer o teste do bafômetro. Uma garrafa de whisky foi encontrada no local. O motorista estava com a CNH cassada, e foi preso em flagrante por embriaguez.
Pela manhã desta segunda-feira (11), equipes da Prefeitura de Belo Horizonte, da BHTrans e do Corpo de Bombeiros faziam a remoção de galhos das árvores atingidas pelo veículo.
Fonte: O Tempo