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50 Tons de Cinza? Estudo aponta que o mundo está menos colorido

Redação26 de fevereiro de 20246min0
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Especialista analisa quais fatores podem estar por trás dessa mudança cromática

Não é preciso ir muito longe para constatar que o mundo tem ficado cada vez menos colorido. Basta observar os objetos que nos cercam. Celulares, computadores, eletrodomésticos, móveis e até mesmo os carros que transitam pelas ruas, na maior parte das vezes, seguem um padrão de cores neutras, comandadas principalmente por tons brancos, pretos e acinzentados. Essa tendência, que deixa de lado cores mais vibrantes, foi confirmada por um estudo desenvolvido pelo Science Museum Group, com apoio financeiro do Creative Industries Policy and Evidence Centre (PEC).

A pesquisa analisou mais de 7.000 fotografias de objetos considerados cotidianos e familiares. Conforme o levantamento, que levou em conta itens pertencentes a 21 categorias que incluem tecnologias fotográficas, medição de tempo, iluminação, impressão, escrita, eletrodomésticos e navegação. As imagens analisadas abrangem materiais do início do século XIX até os dias atuais.

Após uma análise que examinou pixel a pixel cada uma das imagens para identificar as mudanças cromáticas nos objetos, o estudo notou uma tendência crescente no uso de tons sombrios e cinzentos – que se tornou ainda mais notável a partir da virada do século XIX para o século XX. Junto do crescimento dos tons acinzentados foi observada também uma redução significativa das matizes amareladas e amarronzadas.

Segundo o estudo, além de evidenciar uma mudança estética, essa transformação cromática também reflete as alterações nos materiais usados na fabricação dos itens, como a substituição da madeira pelo plástico, por exemplo.

Entretanto, questões culturais e mais subjetivas também podem estar por trás dessas transformações – e, aliás, já estiveram presentes também em outros momentos históricos, inclusive nos anos mais “coloridos”. É isso o que explica Claudio Paixão, doutor em psicologia social e professor da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Na Revolução Industrial, época época das minas de carvão, daquela pobreza generalizada das classes mais proletárias, a cidade de Londres estava submetida a um esfumado constante. A neblina tradicional se misturava à fumaça do carvão queimado e do vapor das fábricas. Nesse contexto, surge um movimento artístico que são os pré-rafaelitas, que vão ressaltar imagens douradas, bucólicas, primaveris, mitológicas e medievais como se fosse um contraponto a esse cenário”, exemplifica.

A explosão de cores dos anos 1960, 1970 e 1980 – essa, inclusive observada também pela pesquisa feita com o acervo do Science Museum Group – acompanha a euforia do contexto pós-guerra e evidencia a uma compreensão, até mesmo cultural, das cores. “A gente tem uma experiência de uma relação direta entre a forma como manifestamos nossas emoções e as cores que privilegiamos para representar a vida”, explica.

Para ilustrar essa percepção, Claudio Paixão cita outro estudo, este mais recente, que analisou a relação entre os filtros utilizados por usuários em imagens postadas no Instagram e seus respectivos estados emocionais. “Pessoas que estavam em uma condição um pouco mais depressiva ou em alguma situação de mal estar com o mundo, tinham uma tendência a escolher filtros mais azulados, mais escuros ou efeitos mais densos. Já pessoas em estado mais feliz, mais eufórico, tinham a tendência de escolher filtros mais saturados, com cores mais vibrantes, mais avermelhados, mais amarelados e ensolarados”, conta.

Paixão ressalta que essas escolhas são parte de uma construção cultural, já que se relacionam com as próprias formas como a cultura em que estamos inseridos privilegiam determinadas cores para expressar certos sentimentos. “No Japão, por exemplo, a cor do luto é o branco, mas em países latinos, no Brasil e em outros lugares do mundo, o preto continua sendo relacionado ao luto. Isso é uma definição cultural”.

Portanto, mesmo que a caminhada para um mundo “mais cinzento” possa ser associada, inicialmente, a uma ideia de tristeza e melancolia, ela também ruma para outra questão, essa de uma percepção visual mais apurada. “Essa mudança de cores pode dizer também sobre certo refinamento do nosso olhar. A princípio, os objetos retangulares e pretos, como os celulares, por exemplo, tem formatos e arestas retilíneas, mas apresentam alguns detalhes que normalmente, se estivéssemos em um mundo muito mais colorido, passariam despercebidos. Quando eu vejo um objeto preto e cinza, nos vários modelos de celulares, passo a identificá-los por esses detalhes, um que tem a borda mais arredondada, ângulos mais ousados”, afirma Claudio Paixão.

Fonte: O Tempo

Redação


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