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Casos de maus-tratos a crianças e adolescentes crescem 78% em dois anos em MG

Redação16 de abril de 20248min0
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Enquanto em 2021 foram 241 casos registrados de violência contra crianças e adolescentes de 12 a 17 anos, o número saltou para 430 em 2023

Feridas que nunca cicatrizam. Marcas que duram uma vida inteira. Esses são, segundo o psicólogo Thales Coutinho, alguns dos tristes resultados dos maus-tratos a crianças e adolescentes. Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que a ocorrência desse tipo de crime em Minas Gerais quase dobrou em dois anos. Enquanto em 2021 foram 241 casos registrados de violência contra crianças e adolescentes de 12 a 17 anos, o número saltou para 430 em 2023, um aumento de 78%. As ocorrências são ainda mais numerosas quando se trata de menores de 11 anos: em 2021, foram 986 vítimas. No ano passado, 1.334, um aumento de 35%.

Os números, porém, podem estar longe de mostrar o real cenário de maus-tratos a crianças e adolescentes. Isso porque, conforme destaca a delegada Renata Ribeiro, titular da Divisão Especializada em Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente em Belo Horizonte, essas vítimas, em geral, dependem de um adulto para denunciar o crime, já que, muitas vezes, não conseguem pedir auxílio sozinhas. Além disso, geralmente, os agressores são da própria família, deixando as crianças confusas e com sentimentos de culpa, medo ou rejeição. Outra barreira é a sociedade conseguir identificar os maus-tratos: quando eles são psicológicos, por exemplo, nem sempre pessoas que estão próximas conseguem percebê-los e denunciá-los.

“Muitas vezes, os pais agem com violência para reprimir algum comportamento da criança. Porém, firmeza não significa agressão. Nenhuma transformação positiva vai ocorrer por meio da violência. Quando a criança é vítima desse tipo de crime, e o autor é justamente quem deveria cuidar dela, gera ainda mais insegurança e sofrimento”, ressalta Renata Ribeiro.

Esse tipo de violência física, segundo o conselheiro tutelar atuante em Contagem Reginaldo Ribeiro, é um dos mais comuns. No entanto, diz ele, há também outras  ocorrências que vêm crescendo ao longo do tempo, como a violência sexual e a psicológica, além da negligência. Há relatos de crianças e adolescentes que são submetidos a todo tipo de abuso verbal ou mesmo que têm direitos básicos negados, como acesso à uma boa alimentação, a condições de higiene e à supervisão de adultos.

“Chega para a gente diversas denúncias, e temos percebido um aumento de casos de violência. Geralmente, as denúncias são feitas de forma anônima e vêm, principalmente, de hospitais onde as vítimas são atendidas ou das escolas onde elas estudam. As crianças são muito vulneráveis e, infelizmente, acontecem muitos casos dentro da própria casa, com pais ou parentes próximos. Muitas vítimas não têm conseguido lidar com isso, não dão conta de tanta violência, e acabam extravasando se automutilando”, diz Reginaldo.

A questão da automutilação é ressaltada também pelo psicólogo Thales Coutinho. Conforme ele explica, essa pode ser (embora não necessariamente seja), uma das manifestações de que a criança ou adolescente esteja sendo vítima de maus-tratos. “A vítima sente que a dor puxa a atenção, e o abuso sai do pensamento naquele instante”, relata ele.

Marcas que ficam

A publicitária Carolina* (nome fictício a pedido da fonte), de 36 anos, conta que foi vítima de violência psicológica quando criança e adolescente. Atualmente, ela destaca que é bem-sucedida financeiramente, atua em uma grande empresa, tem muitos amigos, mas nada apaga o que ela viveu.

“Meus pais me batiam, mas não espancavam. Era a educação típica dos anos 1990, e não foi isso que me traumatizou. Porém, minha mãe falava coisas que me feriam demais. São coisas que nem consigo repetir. Isso me deixou feridas profundas. Eu me tornei extremamente carente, tive uma ‘mãe imaginária’, me tornei uma pessoa com dificuldades de se relacionar com os outros. Hoje, por mais que eu tenha conquistado muitas coisas e mesmo com quase 40 anos, o meu maior sonho continua sendo ter uma mãe carinhosa”, diz ela.

Conforme o psicólogo Thales Coutinho, crianças que são maltratadas na infância realmente tendem a ter dificuldade de interação social, além de medos constantes e agressividade. Na vida adulta, podem não conseguir estabelecer relacionamentos de uma maneira sólida, sejam de amizade, sejam amorosos.

“Elas podem não estabelecer relações para não sofrer. Além disso, podem ter baixa tolerância à rejeição e ‘mendigar afeto’. Isso deixa os outros desconfortáveis e desgasta as relações. Quando a pessoa é vítima de abuso sexual, pode ter dificuldades na vida sexual”, afirma ele.

Conforme Coutinho, memórias traumáticas desencadeiam diversas sensações, mesmo após anos. “É como se a pessoa revivesse aqueles episódios. Pode ter taquicardia, sudorese, sensação de desespero”, exemplifica ele.

Casos de maus-tratos a crianças e adolescentes podem ser denunciados anonimamente no Disque 181.

Sinais de maus-tratos

Crianças e adolescentes que são vítimas de maus-tratos podem apresentar alguns comportamentos específicos. De acordo com o psicólogo Thales Coutinho, não significa que todos que agem de determinada maneira são vítimas de violência. No entanto, é necessário estar atento a alguns sinais citados por ele. Confira abaixo

  • Medo constante. Crianças e adolescentes vítimas de violência podem começar a ter medo de tudo, parecendo estar sempre assustados.
  • Mudança de comportamento. Transformações no modo de agir, de pensar, brincar, podem ser outros sinais.
  • Empobrecimento das relações pessoais. Outro sinal de alerta é quando a criança ou adolescente se isola, perde amigos ou para de estabelecer amizades.
  • Automutilação. A criança ou adolescente realiza cortes na pele como estratégia de regulação emocional disfuncional. A dor toma a atenção, fazendo com que, momentaneamente, os abusos sejam esquecidos.
  • Apatia. Vítimas de violência podem perder a motivação, não querer ir para a escola, parque, cinema, em nenhuma ocasião.

Fonte: O Tempo

Redação


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