Vacinação contra a gripe atinge menos de 40% do público-alvo e preocupa especialistas em MG
A menos de um mês para o início do inverno, época mais fria do ano e típica por aumento de doenças respiratórias, mais da metade do público-alvo da campanha ainda não se imunizou contra a gripe influenza em Minas Gerais. Conforme dados do painel do Ministério da Saúde, que monitora a vacinação da gripe no país, desde o início da aplicação de doses, em 20 de março, 3,5 milhões de pessoas do grupo prioritário foram imunizadas no Estado. O número representa 39% do total de idosos, crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes, puérperas e e imunossuprimidos esperados para se imunizar nesta etapa. O cenário preocupa especialistas, que estimam aumento no número de internações com a chegada do período sazonal, sobretudo nesse grupo mais vulnerável a doenças respiratórias.
No início deste mês, o governo ampliou a vacinação contra a gripe para toda a população com mais de 6 meses com a justificativa de que a medida poderia reduzir as complicações e internações causadas pela gripe. Porém, o levantamento do governo com foco no grupo mais vulnerável, que poderia se imunizar desde 20 de março, mostra pouca adesão à campanha. “Uma taxa de vacinação de 40% para a gripe pode ser considerada bem abaixo do ideal, especialmente com a chegada do inverno. Considerando que a vacina é uma das ferramentas mais relevantes na prevenção da gripe, a situação é preocupante”, alerta o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Adelino de Melo Freire Jr.
A falta de imunização chama atenção para o aumento do risco de desenvolvimento de formas graves da doença. Entre janeiro e março deste ano, Minas Gerais registrou média de uma internação a cada 20 minutos de pacientes com suspeita de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nos hospitais do Estado, segundo dados Secretaria de Estado de Saúde. Uma média que pode aumentar nos próximos dias, com a chegada do período sazonal, que acontece entre maio e julho, marcado por variações de temperatura.
“Na próxima semana, a partir de quarta-feira, podemos ter temperaturas amenas, com aumento do frio e persistência do tempo seco. Estamos sob efeito do El Ninõ então a tendência é de um outono/inverno mais quente. Mas isso não significa falta de frio. Nos próximos dias passamos a ter uma variação grande de temperatura o que favorece a ocorrência de gripe e resfriados”, pontua a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Fernandes.
O infectologista Adelino de Melo reforça que os hospitais já enfrentam um aumento de casos de doenças respiratórias, sobretudo em idosos e crianças. “Um aumento na procura por atendimento médico devido a sintomas respiratórios é comum e esperado durante o inverno. Há algumas semanas os atendimentos a síndromes respiratórias já estão em aumento progressivo. As faixas etárias mais vulneráveis são geralmente os extremos da vida, ou seja, idosos e crianças”, alerta.
Em Belo Horizonte, a preocupação ocorre principalmente com as crianças, que têm cobertura vacinal de 30% até o momento. Entre fevereiro e março, o número de socorro pediátrico saltou de 6.122 para 12.466 nos 152 centros de saúde e nas nove Upas da capital – um aumento de 103%. Com mais de 86 mil pequenos, com idades de 6 meses a 5 anos, desprevenidos a prefeitura montou uma força-tarefa para a disparada das doenças respiratórias, que deve durar até julho. Ao todo, 95 leitos específicos para o atendimento de crianças com sintomas respiratórios foram abertos na cidade para atender a alta demanda.
Para tentar frear o número de casos de doenças respiratórias, o governo de Minas afirma que, por meio do programa Vacina Mais Minas, incentiva a atuação no ambiente escolar e também “extramuros” escolares para tentar sensibilizar as 8,7 milhões de pessoas que fazem parte dos grupos prioritários para a vacinação. O objetivo é atingir a meta preconizada pelo Ministério da Saúde de imunizar 90% desse grupo.
Importância
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia alerta que é necessário que a população entenda que a vacinação contra a gripe e Covid – que registra atualmente cobertura de 23% com a bivalente, por exemplo, é uma ferramenta fundamental na prevenção de doenças respiratórias. “As vacinas contra a gripe e a Covid-19 são eficazes na redução do risco de infecção e de casos graves dessas doenças. Todas as faixas etárias podem se beneficiar da imunização, mas é especialmente importante que grupos de maior risco de complicações, como idosos, crianças, gestantes e pessoas com condições médicas crônicas, como doenças cardiovasculares e pulmonares estejam atentos à vacinação”, reforça.
O especialista pontua que pessoas do grupo de risco devem estar atentas à imunização para evitar formas graves da doença. “Embora qualquer pessoa possa evoluir com doença respiratória grave, certos grupos, como idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades ou com o sistema imunológico enfraquecido, têm um risco aumentado de desenvolver essas complicações. Por isso elas são consideradas prioridade para imunização”, afirma.
Vacina
A vacina utilizada na imunização contra a influenza é trivalente, ou seja, apresenta três tipos de cepas de vírus em combinação, protegendo contra os principais vírus em circulação no Brasil. Atualmente, todas as pessoas acima de 6 meses de idade podem se imunizar em Minas Gerais. Os imunizantes estão disponíveis nos postos de saúde de cada município.
Prevenção
Além da vacina, outras medidas podem auxiliar na prevenção. São elas:
- Lave as mãos com água e sabão ou use álcool em gel, principalmente antes de consumir algum alimento;
- Utilizar lenço descartável para higiene nasal;
- Cubra o nariz e boca ao espirrar ou tossir;
- Evite tocar mucosas de olhos, nariz e boca;
- Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Mantenha os ambientes bem ventilados;
- Evite contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas de gripe;
- Evite aglomerações e ambientes fechados (procure manter os ambientes ventilados);
- Adote hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e ingestão de líquidos.
Fonte: O Tempo