Tratar câncer de próstata prejudica ereção? Exame de toque dói? Ejacular previne? Tire suas dúvidas
Todos os anos, as campanhas de Novembro Azul enfatizam a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata. É o segundo tipo mais letal de câncer na população masculina, atrás somente do de pele, e mata, em média, quatro homens por dia em Minas Gerais. Apesar dos alertas constantes, persistem nos consultórios dos urologistas as dúvidas, as inseguranças e os medos sobre o diagnóstico e o tratamento.
Um levantamento recém-divulgado pelo hospital A.C.Camargo, em parceria com a empresa de pesquisa Nexus, revela que um em cada três homens com 45 anos ou mais não fez e sequer pretende fazer o exame de toque, principal método de diagnóstico. Os responsáveis pela pesquisa admitem que o resultado não é uma surpresa, dado o preconceito persistente sobre o procedimento.
Mas quais são as dúvidas que afastam os pacientes do consultório? Confira abaixo as respostas para algumas das principais delas.
Como é realizado o exame de toque?
Para saber os detalhes do exame de toque, é necessário primeiro entender o que é a próstata. O órgão, de formato oval, está localizado no interior do corpo, logo atrás da base do pênis e acima dos testículos, portanto a única forma de alcançá-lo é a partir do ânus. Ele é responsável pela produção das substâncias que tornam o sêmen líquido — os espermatozoides em si são produzidos pelos testículos. Além de fazer parte do sistema reprodutor, a próstata também integra o sistema urinário, pois o canal da urina passa por ela.
Como a próstata só é alcançada pelo ânus, no exame de toque o médico precisa inserir um dedo no paciente a fim de tocar o órgão e rastrear imperfeições que possam ser preocupantes.
“É um exame feito no consultório. O posicionamento do paciente pode variar. Em geral, é feito com o paciente deitado, de barriga para cima. Peço que ele afaste as pernas, e é feito o exame com a introdução do dedo pelo ânus”, detalha o urologista da Santa Casa BH Leonardo Gomes.
Se houver suspeita de câncer ou de outro problema, o paciente realiza exames laboratoriais. O principal é o de PSA. O PSA é um antígeno liberado pela próstata, portanto uma alta concentração dele no sangue pode significar, por exemplo, que alguma doença está destruindo as glândulas prostáticas e liberando PSA no sangue.
Quem precisa fazer exame de toque?
Para os homens em geral, o exame de toque é recomendado a partir dos 50 anos, e a frequência da repetição é definida com o urologista após o primeiro teste. Já para pessoas com histórico familiar da doença ou de câncer de mama, o ideal é fazer o primeiro exame aos 45.
Pessoas com outras características que aumentam o risco para a doença, como quem tem obesidade, precisam reforçar a atenção. A incidência do câncer de próstata também é maior entre homens negros.
Só quem tem sintomas de câncer de próstata precisa fazer exame de toque?
Quando o paciente chega a sentir sintomas, como dificuldade para controlar a urina, é provável que o câncer esteja avançado. Isso porque o tumor costuma se desenvolver, primeiro, na superfície e nas áreas periféricas da próstata, longe do canal urinário. Outros problemas na próstata, especialmente o aumento dela, costumam manifestar sintomas mais rápidos.
Por isso, o exame de toque deve ser realizado mesmo se não houver nenhum sintoma. A detecção rápida de um eventual câncer, afinal, aumenta as chances de sucesso do tratamento. “O crescimento da próstata, a hiperplasia, espreme o canal da urina, aí tem redução da urina, dor para urinar, sensação de que a bexiga não é esvaziada e aquela urgência de correr para o banheiro, eventualmente até incontinência. São sintomas mais relacionados à hiperplasia, mas o câncer de próstata avançado, que cresce e chega até o meio dela, também pode causá-los”, explica o urologista Leonardo Gomes.
O exame de toque dói?
“Não justifica ter qualquer medo ou receio de fazer o exame por questões relacionadas à dor. Ele é rápido, leva segundos”, garante o urologista Leonardo Gomes. “Não é necessário fazer nenhum tipo de preparo específico. Não orientamos utilizar clíster (lavagem do reto) nem nada. O exame não envolve a introdução de nenhum aparelho ou equipamento, como os exames de proctologia”.
Além do teste de PSA, feito a partir de exame de sangue, em caso de suspeita de câncer pode ser necessário realizar uma biópsia para colher material da próstata. O exame é feito sob sedação e pode ser conduzido de duas formas: pela introdução de um aparelho pelo ânus ou, uma alternativa mais moderna, por um pequeno corte na região do períneo, entre os testículos e o ânus.
Como é o tratamento contra o câncer de próstata?
Nos estágios iniciais do câncer, o tratamento geralmente recomendado é a cirurgia de retirada da próstata e das vesículas seminais, o par de glândulas que produz o líquido do sêmen.
Em situações nas quais a cirurgia não é indicada, é realizada a radioterapia e, em casos específicos, a quimioterapia. Há, ainda, o tratamento hormonal, com injeções ou comprimidos que bloqueiam a testosterona.
O tratamento de câncer de próstata interfere na ereção?
É possível que sim, entretanto isso varia em cada caso. Não existe motivo para pânico, contudo, pois cada situação é diferente, e a alternativa a não tratar pode ser uma metástase — quando o tumor se espalha para outras partes do corpo. No caso do câncer de próstata, especialmente para os ossos.
“Existem homens com perda temporária ou definitiva da ereção, porque o nervo que a controla passa ao redor da próstata. Na cirurgia, se a doença permitir, o médico tenta preservar o máximo possível essa inervação para ter menos impacto. Se o câncer for mais avançado, pode ocorrer de ter que retirar o nervo parcial ou totalmente e, dessa forma, haver maior dificuldade para a ereção”, diz o médico Leonardo Gomes.
Outra possível sequela é a incontinência urinária temporária, pois o canal da uretra precisa ser ligado diretamente à bexiga após a retirada da próstata. O problema tem solução, contudo, com ajuda de fisioterapia, por exemplo.
A radioterapia pode ter consequências parecidas. “Ela queima a próstata com radiação, e existe a chance de queimar a bexiga, o reto e órgãos próximos, o que pode gerar algumas sequelas”, continua o urologista. O tratamento hormonal, com bloqueio de testosterona, também tem desdobramentos possíveis. “Os principais efeitos são a fadiga, perda de disposição para atividades, cansaço excessivo, crescimento das mamas, perda da massa muscular, redução da densidade óssea e aumento de problemas cardíacos”, lista Gomes.
“É muito importante, primeiro, evitar chegar nesse ponto e, segundo, ser acompanhado pelo oncologista”, reforça o médico.
O que previne o câncer de próstata?
Uma vida saudável, com uma alimentação balanceada e uma rotina de atividade física, é importante para minimizar a agressividade de qualquer doença. Mas algumas crenças, como a de que consumir muito tomate protege contra o câncer de próstata, não são um consenso médico.
“O fator em que posso intervir é a obesidade. Ela não aumenta a incidência do câncer, mas faz com que o homem tenha tumores mais agressivos. Daí, a importância de ter uma dieta saudável, fazer atividade física, evitar o excesso de carne vermelha e gordura”, pontua o médico Leonardo Gomes.
Há indícios — mas, ainda, não comprovação — de que manter a frequência de ejaculações também ajuda na prevenção. Um estudo conduzido pela Universidade de Harvard nos anos 90 acompanhou quase 30 mil homens durante cerca de oito anos e descobriu que aqueles que ejaculavam 21 vezes ou mais por mês apresentaram menos chance de desenvolver câncer de próstata. A comunidade científica ainda não estabeleceu a relação exata entre ejaculação e surgimento de um tumor, porém, e sequer recomenda um “número mágico” de ejaculações para prevenir a doença.
Fonte: O Tempo