Dengue: ovos de Aedes do ano passado ainda elevam casos e mortes em MG; volta da chuva é novo alerta
Minas Gerais ainda enfrenta os efeitos da epidemia de dengue do ano passado, enquanto lida com o avanço do sorotipo 3 da doença – que ressurgiu após 17 anos e agora encontra um ambiente favorável à propagação, com a população desprotegida. Os ovos da fêmea do Aedes aegypti podem resistir por até 450 dias em ambiente seco, aguardando o contato com a água para eclodirem. Ou seja, ovos depositados há 1 ano, durante o maior surto de dengue da história do Estado, ainda estão eclodindo em mosquitos ativos, que podem, inclusive, nascer já infectados pelo vírus da dengue. Esses se juntam às novas larvas, inseridas no ambiente nas semanas de calor, e que se tornam uma ameaça com as últimas chuvas do período chuvoso. Março é outro mês em que, tradicionalmente, os números de dengue aumentam.
“São resquícios da pior epidemia de dengue que o Estado já viveu. Os ovos depositados nesse período, quando atingimos o ápice da circulação dos mosquitos, continuam a eclodir este ano e já nascem infectados pelo vírus. Esse é um dos ‘truques’ do Aedes: ele consegue aguardar mais de um ano até eclodir. E o impacto está nos números da doença”, explica o médico infectologista Leandro Cury. Conforme o último boletim epidemiológico de arboviroses da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), as mortes por dengue saltaram 44% no último fim de semana. Na sexta-feira (7 de março), eram 9 óbitos, número que subiu para 13 nesta segunda (10). Os casos também aumentaram: em duas semanas, passaram de 15.590 para 21.815 diagnósticos.
Na avaliação de Cury, esses resquícios, somados ao avanço do sorotipo 3 no Estado, continuam elevando os números da dengue, ainda que em menor escala em comparação à epidemia do ano passado. “A circulação do sorotipo 3 é um alerta. Trata-se de um vírus que não era notificado em Minas há muitos anos. Então, quando volta a se espalhar, encontra uma população completamente desprotegida. É esperado que ele provoque um aumento nas notificações”, acrescentou.
Volta das chuvas deve eclodir novos ovos de Aedes aegypti e causar ‘boom’ de casos
Após semanas sem chuva em Belo Horizonte e na maior parte dos municípios mineiros, Minas Gerais voltou a ser alvo de alertas de tempestades emitidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A capital quebrou o período de seca nesta segunda-feira (10 de março) e segue com previsão de novas precipitações até, pelo menos, a sexta-feira (14). Ao mesmo tempo, 384 municípios do Estado estão em alerta para chuvas intensas, com ventos de até 60 km/h. Apesar do alívio no calor, o cenário favorece a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
“Este é o momento exato de eclosão dos ovos do mosquito. A chuva desencadeia esse processo de forma rápida e em grande escala. Enquanto os ovos podem aguardar mais de um ano pela água, assim que entram em contato com ela, levam apenas alguns dias para completar o ciclo e se tornarem mosquitos adultos prontos para sugar sangue. É uma transformação de vários mosquitos adultos ao mesmo tempo”, explica o infectologista Leandro Cury.
Esperança está na vacina
Cury avalia que, mesmo após décadas de combate à dengue, tanto os governos quanto a sociedade falharam na prevenção e no controle do Aedes aegypti. “Falhamos muito. Infelizmente, até hoje não conseguimos controlar, de fato, o mosquito. Acredito que só com a vacinação em larga escala será possível melhorar o cenário epidemiológico”, afirma.
Dengue: dicas do médico
- Não faça autodiagnóstico nem se automedique. Em casos sérios de dengue, isso pode piorar o quadro.
- Aos primeiros sintomas (febre alta, dor de cabeça intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos), procure atendimento médico.
- Para melhorar, descanse e reforce a hidratação.
- Use repelente, mesmo infectado.
- Quem puder se vacinar, faça.
Evite criadouros do mosquito:
- Elimine recipientes que possam acumular água parada, como pneus, garrafas, vasos de plantas, entre outros.
- Mantenha caixas d’água e piscinas sempre tampadas.
- Limpe regularmente as calhas para evitar o acúmulo de água.
- Troque a água de vasos de plantas e bebedouros de animais com regularidade.
- Coloque areia nos pratos de plantas para evitar o acúmulo de água.
- Mantenha fechadas as tampas de lixeiras e caixas d’água.
Fonte: O Tempo