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Semana Indígena: A diversidade cultural e sabedoria ancestral

Redação19 de abril de 20259min0
Por Tobias Ferraz - UFSCar Araras

A UFSCar Araras recebe estudantes indígenas de diversas etnias. Saõ jovens dos povos Atikum, Baniwa, Baré, Kokama, Kubeo, Terena, Xavante, Xakriabá e Xukuru do Ororubá.  Atualmente, a Universidade conta com onze integrantes indígenas, a maioria da região amazônica.

 

Aline Hipananiro, é estudante de Agronomia, do povo Baniwa. Ela é natural de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, município que fica há 3.264 quilômetros de Araras, ela conta que faz tempo que não vai para casa, sente falta da família. “É muito longe e caro.”  Desde a pandemia que o coletivo indigena não fazia uma atividade aberta. Aline é muito comunicativa e dedica-se também na recepção e integração dos novos universitários indígenas ao ambiente estudantil. “Uma das funções do Programa de Educação Tutorial (PET) é fazer o acolhimento dos calouros. É uma questão de identidade e pertencimento. Muitos estudantes do nosso campus não sabem que existem estudantes indígenas aqui. O PET é mais focado em pesquisa, extensão e educação, mas o grande papel é o acolhimento. No primeiro momento o calouro não se sente sozinho.”

 

Raimmy Arcanjo,, da etnia Kokama, está no primeiro ano do curso de Agroecologia, ele é de São Paulo de Olivença, estado do Amazonas, município que fica 3.132 quilômetros distante de Araras. Ele fala sobre os eventos da Semana Indígena. “É algo que eu não esperava encontrar aqui. Que bacana encontrar pessoas que se importam com a nossa cultura. É muito importante esse tipo de ação para a gente não perder o contato com a nossa cultura e mostrar para os outros como é na nossa comunidade, na nossa aldeia. Faz manter vivo um sentimento de casa.”

 

A comerciante autônoma Ziane Moraes, é de Maués, no Amazonas. Ela mora há 15 anos em Piracicaba. Ela montou uma banca com produtos típicos da Amazônia como a pasta de açaí, beiju, farinha de mandioca, guaraná em pó, entre outros.Ela fala com entusiasmo sobre a Semana Indígna da UFSCar. “Esse evento é de grande importância e atrai  pessoas de fora da Universidade. É uma forma de levar informação e dar valor às etnias indígenas”, destaca Ziane.

 

Os alunos do 8º ano da Escola Municipal Júlio Ridolfo  também participaram de uma visita guiada pelo campus e também participaram das atividades  no espaço indígena. O coordenador de área da Secretaria Municipal de Educação,  professor Rafael Marquezin traz a visão do educador sobre a Semana Indígena. “Aprender sobre a nossa cultura diminui e evita o preconceito. Inclusive, a Secretaria de Educação participa do pacto de ensino etnico racial, porque é lei há vinte anos e é pouquíssimo aplicada. Como professor de Geografia, percebo que temos de olhar com muito mais carinho para a cultura indígena, como se o desenvolvimento real de uma sociedade fosse o acúmulo de riqueza, quando na verdade a gente vê que os povos originários tem a riqueza na ancestralidade. Então eu questiono muito com os meus alunos, o que é ser desenvolvido? É ter, às custas da destruição do planeta, ou não ter, preservar e fazer parte de tudo isso. Existem outras maneiras de enxergar o mundo além do acúmulo de riqueza”, completa o geógrafo.

 

Ana Claudia Fugikaha, é psicóloga de formação e trabalha junto à Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFSCar (SAADE). Ela acompanhou os universitários no processo de organização da Semana Indígena.”Essa Semana representa um ato de luta, pela permanência e resistência dos povos originários.”

 

Herança guarani

Por Tobias Ferraz

“A gente planta com alegria. É o espírito que faz a semente germinar e o alimento fazer bem.”

A cultura guarani está mais viva do que nunca. Durante o ciclo de atividades da Semana Indígena na UFSCar Araras, os estudantes puderam receber a fala de Kararí Verá Mirim (Pequeno Raio), também conhecido como Márcio Guarani Nhandeva, um líder indígena, com pouco mais de 40 anos, morador da Terra Indígena Jaraguá, no município de São Paulo.

 

Ele falou para uma plateia predominantemente formada por alunos dos cursos  de Agroecologia, Agronomia e de Biologia. O perfil do público fez Márcio delimitar o tema. Ele começou falando sobre as mais de 40 variedades  de milho nativo, preservadas e cultivadas pelos povos indígenas. São espigas com grãos de diversas cores. Tem milho vermelho, marrom, branco e amarelo. Tem  variedades com grãos de diversas cores na mesma espiga. O não indígena chama essas plantas de milho crioulo.

 

Márcio contou que a espiritualidade está em tudo e em todos os momentos na cultura guarani. Plantar e fazer roça são atividades sagradas. “Aprendemos com os anciãos como fazer, como falar com o criador, com o guardião daquele espaço, pedindo autorização para fazer agricultura, que faça bem para o corpo.”

 

A convivência entre crianças e idosos é intensa, como revela Márcio. “As crianças participam do plantio para que a roça venha com a força que elas têm.”  E assim aprendem espiritualidade e as técnicas de plantio.

 

Para os guaranis, o território é muito mais do que área, propriedade ou posse. O território tem muitos significados, inclusive como o lugar sagrado para a produção de alimentos. “Minha mãe fala que a roça traz o sentimento de alegria. Quando não tem esse cultivo, nosso povo fica entristecido.”

 

As espigas e os grãos de milho são usados para benzeduras e rituais, por isso a planta é tão reverenciada.

 

Ele narrou também o retorno das abelhas nativas para a Terra Indígena Jaraguá. São espécies sem ferrão como a Jataí, a uruçu, a mandaçaia, a manduri e outras. Das colméias o povo guarani extrai o mel, o pólen, o própolis e a cera, elementos usados na medicina indígena e em rituais.

 

As abelhas são importantes agentes polinizadores, seres responsáveis pela reprodução e produção dos frutos. Ouvindo o líder guarani, fica claro que a preservação da mata é fundamental para que os animais possam viver, que todas as formas de vida merecem espaço e precisam viver em paz.

Para que a vida também  possa contar com a doçura do mel, precisamos ouvir mais sobre a sabedoria ancestral dos guaranis e de todos os povos indígenas.

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