Inadimplência das famílias atinge maior nível em 12 anos puxada por juros do cartão de crédito
A inadimplência das famílias brasileiras no crédito com recursos livres subiu de 6,3% em junho para 6,5% em julho, segundo dados divulgados na quarta-feira (28) pelo Banco Central. Trata-se do maior patamar desde maio de 2013, quando alcançou 6,6%.
Segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, parte do aumento se deve a mudanças na forma de reporte das instituições financeiras, conforme determinação da Resolução 4.966 do CMN (Conselho Monetário Nacional). Ainda assim, ele destaca que o dado reflete também uma piora real nas condições de pagamento das famílias.
“É uma composição entre tendência do mercado e efeito da nova regra. Não conseguimos, com os dados atuais, mensurar exatamente o peso de cada um”, disse Rocha.
De acordo com os dados do BC, o crédito livre às pessoas físicas somou R$ 2,3 trilhões em julho, com avanços de 1,0% no mês e de 12,1% em doze meses.
Destacaram-se no mês, segundo o BC:
- Os incrementos em cartão de crédito à vista (+1,5%)
- Crédito pessoal não consignado (+1,6%)
- Financiamento para a aquisição de veículos (+1,4%), e
- Operações de crédito consignado para trabalhadores do setor privado (+6,9%), modalidade na qual estão classificadas parte significativa das operações de Crédito do Trabalhador, regulamentadas por meio da Medida Provisória nº 1.292, de 2025.
Inadimplência: Rotativo do cartão de crédito lidera alta
A principal contribuição para o aumento da inadimplência veio do rotativo do cartão de crédito — modalidade com os juros mais altos do sistema financeiro. A inadimplência no rotativo saltou de 57,5% para 60,5%, o maior nível da série histórica do BC iniciada em 2011.
Com taxa média de 446,6% ao ano em julho, o rotativo continua sendo alvo de preocupação do regulador. Desde janeiro, passou a vigorar um teto legal que limita os encargos totais a 100% da dívida original. No entanto, quatro instituições financeiras descumpriram a regra. São elas:
✔️ Via Certa Financiadora: 115,59%
✔️ Banco XP: 208,33%
✔️ Sicoob: 363,33%
✔️ Banco Rendimento: 971,43%
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC reconheceu que o caso do Banco Rendimento pode ser erro de reporte, enquanto XP e Sicoob já teriam adotado medidas para se adequar. “É uma evidência possível de infração da lei”, afirmou.
O BC acompanha os casos e pode aplicar medidas de supervisão ou sanções.
O Banco Rendimento afirmou, segundo o jornal O Globo, que os encargos cobrados estão dentro dos limites legais e que já acionou o BC para correção das informações.
Empresas também registram aumento de inadimplência
A inadimplência aumentou não só entre as famílias, mas também no crédito às empresas. Somando pessoas físicas e jurídicas, a inadimplência no crédito livre passou de 5,0% para 5,2%, o maior nível desde novembro de 2017. No crédito total (livre + direcionado), o índice subiu para 3,8%, o maior desde maio de 2017.
Ao mesmo tempo, o saldo total da carteira de crédito avançou 0,4% em julho, com destaque para o crédito direcionado (alta de 0,7%) frente ao crédito livre (0,2%). Para Rocha, o cenário confirma uma desaceleração no crescimento do crédito. “Há desaceleração, mas ela é desigual entre as modalidades”, explicou.
Consignado privado avança após reformulação
Uma exceção à desaceleração foi o consignado privado, que alcançou em julho um saldo recorde de R$ 49,7 bilhões. A modalidade tem ganhado tração após reformulações promovidas pelo governo federal, que ampliaram o público-alvo com desconto em folha no setor privado.
Os juros nessa linha de crédito tiveram leve queda em julho — de 56,3% para 55,5% ao ano —, mas continuam bem acima do patamar anterior à mudança (40,9% em fevereiro).
Fonte: ICL Notícias