Doença greeneing atinge 47,6 das laranjeiras, mas avanço desacelera no Brasil
O greening, uma das doenças mais graves da citricultura, atingiu quase metade (47,6%) das laranjeiras em São Paulo e no Triângulo Mineiro em 2025, de acordo com o levantamento do Fundecitrus. Apesar do aumento de 7,4% na incidência, a pesquisa aponta uma desaceleração no ritmo de avanço da doença pelo segundo ano consecutivo, um sinal de que os esforços de manejo podem estar surtindo efeito.
Segundo o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi, a redução no ritmo pode ser resultado de diversas medidas adotadas. “O citricultor teve um cuidado maior na escolha das áreas para novos plantios, dando preferência a regiões com menor risco de contaminação, e foi retomada a prática de eliminar árvores doentes com até cinco anos, seguida do replantio imediato. Além disso, registrou-se uma queda muito significativa na população do vetor da bactéria, o psilídeo, em 2024 em função da qualidade do controle”, explicou.
Com a melhor remuneração pela caixa da laranja em 2023 e 2024, tornando viáveis até mesmo pomares com baixa produtividade, houve maior resistência em eliminar plantas doentes já produtivas. Dessa forma, a maior incidência continua sendo observada nos pomares acima de 10 anos (58,43% das árvores deste grupo estão contaminadas), seguida pelos pomares de 6 a 10 anos (57,79%), de 3 a 5 anos (39,18%) e de 0 a 2 anos (2,72%).
IMA/Arquivo
Folhas afetadas pelo greening apresentam coloração amarela pálida, com áreas de cor verde
A incidência de greening reduziu 54,1% no grupo de 0 a 2 anos e 17,1% no grupo de 3 a 5 anos. Para o diretor-executivo do Fundecitrus, Juliano Ayres, o produtor tornou-se mais consciente e vem refinando o manejo da doença, com isso os efeitos da melhoria do controle já podem ser sentidos no campo.
“O citricultor já sabe que manter as plantas jovens saudáveis faz toda a diferença para a viabilidade do negócio e ter frutas de melhor qualidade. Por isso, ele tem sido extremamente cuidadoso tanto na formação do pomar quanto no rigor do controle nos anos iniciais”, afirma. “Em regiões de baixíssima incidência, por exemplo, o citricultor entendeu que não faz o menor sentido manter plantas jovens doentes”, completou.
100 milhões com Greening
A Fundecitrus estima que quase 100 milhões de árvores, de um total de 209 milhões no cinturão citrícola, estejam contaminadas. De acordo com o estudo, a progressão da doença está ligada à combinação de diversos fatores, como as altas populações de psilídeo, a alta presença de plantas doentes nos pomares, que seguem servindo como foco de disseminação da bactéria, e o clima com temperaturas mais amenas no segundo semestre de 2024, mais favorável à multiplicação da bactéria.
Apesar de a população de psilídeos ter diminuído 41% em 2024, resultado de medidas mais rigorosas, como a rotação de inseticidas, aplicação de caulim e aprimoramento das pulverizações, os níveis atuais do inseto ainda são de quatro a nove vezes maiores do que os observados antes de 2020.
A severidade média da doença (porcentagem da copa das plantas com sintomas) aumentou pelo quarto ano seguido, passando de 18,7% em 2024 para 22,7% em 2025. As áreas com os maiores índices de incidência de greening também apresentam os níveis mais elevados de severidade da doença, que compromete mais árvores e, consequentemente, causa maior impacto na produção e na queda prematura de frutos.
Regiões
Entre as 12 regiões que compõem o cinturão citrícola, seis apresentam incidência de greening superior a 60%, duas estão na faixa entre 40% e 50%, três variam entre 20% e 30% e apenas duas registram índices inferiores a 5%.
As áreas mais afetadas em 2025 continuam sendo Limeira (79,9%), Porto Ferreira (70,6%), Avaré (69,2%), Duartina (62,7%) e Brotas (60,8%). Já Bebedouro (47,2%) e Altinópolis (45,1%) permanecem entre as regiões com alta incidência.
Em níveis intermediários estão São José do Rio Preto (34,3%), Itapetininga (28,7%) e Matão (24,6%). Nessas regiões, chama a atenção o avanço significativo do greening entre 2024 e 2025, especialmente em São José do Rio Preto e Itapetininga, onde a doença quase dobrou. Já Votuporanga (3,1%) e o Triângulo Mineiro (0,3%) continuam com as menores taxas de incidência, praticamente estáveis em relação ao ano anterior.
O que é Greening?
O Greening, inicialmente chamado de “doença do ramo amarelo”, e posteriomente huanglonbing (HBL), ‘doença do dragão amarelo’, é considerada a doença dos citros – laranja, tangerina e limão – mais grave, em função da dificuldade de controle, da rápida disseminação e por ser altamente destrutiva.
O primeiro relato da doença foi feito da China, em 1919, espalhando-se daí para países da África e Oceania. No início do século 21, foi detectada no continente americano, exatamente nos dois países e estados maiores produtores de citros: os Estados Unidos (Flórida) e o Brasil (São Paulo) onde foi relatada em Araraquara em 2004, estando hoje em mais de 100 municípios produtores.
O Greening é transmitido por um vetor, um psilídeo – inseto espécie de mini-cigarra de cerca de três milímetros. A bactéria ataca os vasos principais da planta e, por isso, se distribui muito rápido. Assim, a poda não é suficiente para que o vegetal sobreviva.
Os sintomas surgem com mais rapidez na tangerina. Mas também há prejuízos severos nas lavouras de limão e laranja.
Nas lavouras onde é detectada a doença, é obrigatório eliminar as plantas que testaram positivo em amostras enviadas a laboratórios credenciados pelo Estado. O processo precisa ser realizado com a presença de representantes de órgãos de defesa vegetal.
Folhas afetadas pelo greening apresentam coloração amarela pálida, com áreas de cor verde, formando manchas irregulares. Nos frutos são observadas pequenas manchas circulares que contrastam com o verde normal.
Embrapa/Divulgação
Sintomas do greening
Segundo a Fundecitrus, caso o produtor opte por não erradicar as plantas doentes, é imprescindível manter o controle rigoroso do psilídeo para conter o avanço da doença e tentar prolongar a vida útil do pomar.
Fonte: Itatiaia Agro