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Quase 20% dos municípios de Minas não conseguirão fechar as contas

Redação16 de dezembro de 202511min0
Metade de Uberlândia está endividada
Pesquisa da CNM revela que, embora maioria dos prefeitos preveja equilíbrio financeiro em 2025, cenário é de aperto nas contas

Quase 20% dos municípios mineiros ouvidos pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) não conseguirão fechar as contas de 2025. O dado faz parte da pesquisa “O 13º salário e o encerramento de exercício nos municípios”, que ouviu 701 dos 853 gestores de cidades de Minas Gerais. O levantamento da CNM revela que, apesar de a maioria dos prefeitos prever o encerramento do ano no azul, a percepção geral é de crise financeira, escassez de recursos e pressão sobre o caixa municipal.

Segundo a pesquisa, realizada entre 14 de outubro e 5 de dezembro, 17,4% dos municípios mineiros, o equivalente a 122 cidades, afirmaram que não conseguirão equilibrar as contas no fim deste ano. Outros 36 gestores não responderam à pergunta. Por outro lado, 77% dos entrevistados, ou 543 municípios, estimam fechar o ano sem déficit.

Mesmo com essa maioria otimista, o percentual de cidades em dificuldade em Minas Gerais supera ligeiramente a média nacional, que é de 16,7%, o que corresponde a 696 municípios brasileiros. No país, das 4.172 prefeituras pesquisadas, 78,9% afirmaram ter capacidade de encerrar o ano com as contas equilibradas, enquanto 4,4% não responderam.

O primeiro ano da gestão é tradicionalmente marcado como um período de ajuste de contas. É quando os novos gestores assumem as administrações municipais e precisam lidar com heranças fiscais do mandato anterior. Um dos pontos mais significativos do levantamento diz respeito aos chamados restos a pagar a descoberto. Em Minas Gerais, 64% dos municípios (446) afirmaram que não deixarão esse tipo de passivo, que corresponde a despesas empenhadas, mas não quitadas até o encerramento do exercício financeiro.

A gestão fiscal de final de exercício no estado, no entanto, revela sinais de pressão sobre as contas municipais que se estenderão ao próximo ano. Isso porque 30,3% dos municípios mineiros (213) declararam que deixarão restos a pagar sem cobertura de caixa, ou seja, despesas empenhadas sem fonte de recurso garantida para 2026. A prática compromete o fluxo financeiro do próximo ano e limita a capacidade de execução do orçamento já aprovado.

O cenário preocupa a Confederação Nacional de Municípios. Para o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski, a tendência é de agravamento nos próximos exercícios, diante do avanço de propostas com elevado impacto fiscal sobre os municípios. “Projetos em fase final de tramitação podem gerar prejuízos superiores a R$ 100 bilhões”, alertou em entrevista ao Estado de Minas.

Ele atribui parte do desequilíbrio fiscal às decisões tomadas em Brasília, sem a “devida consideração sobre a sustentabilidade financeira dos entes locais”. “As chamadas pautas-bomba do Congresso Nacional são o exemplo mais evidente. Medidas como o enfraquecimento de regras previdenciárias para determinadas carreiras, a criação de novos pisos salariais e a redução da jornada de trabalho ampliam significativamente a pressão sobre a folha de pagamento municipal”, afirmou.

Ziulkoski também destacou que a prática de deixar restos a pagar sem cobertura de caixa pode resultar em alertas ou ressalvas por parte do Tribunal de Contas do Estado (TCE), além de obrigar o município a elaborar um Plano de Recomposição da Situação Fiscal no exercício seguinte. O presidente da CNM lembrou ainda que, em 2022, foi aprovada a Emenda Constitucional 128, que veda a criação de novas atribuições para estados e municípios sem a indicação da respectiva fonte de custeio.

Outro indicador relevante do aperto nas finanças municipais é o atraso no pagamento de fornecedores. Em Minas Gerais, 28% das prefeituras relataram atraso, percentual ligeiramente inferior à média nacional, que é de 28,8%. O dado revela dificuldades na gestão de caixa e na liquidação de obrigações de curto prazo em cerca de um terço dos municípios brasileiros, afetando diretamente a cadeia de prestadores de serviços e fornecedores locais.

Os resultados mostram ainda que, mesmo entre os gestores que projetam fechar o ano no positivo, a sensação predominante é de aperto fiscal. Em Minas Gerais, 561 municípios, o equivalente a 80% dos respondentes, afirmaram ter enfrentado crise financeira e falta de recursos, apontadas como o principal desafio deste primeiro ano de gestão.

Cenário que espelha a realidade nacional. Entre os gestores municipais de todo o país, 80,2% identificaram a crise financeira como o maior obstáculo do exercício, enquanto 67,5% mencionaram a instabilidade política e econômica. Outros desafios incluem a gestão da saúde, citada por 63,4% dos prefeitos, e os reajustes salariais concedidos após a pandemia, apontados por 62,2% dos respondentes.

Apesar das dificuldades, a pesquisa também traz sinais de algum alívio para as prefeituras, especialmente no que diz respeito ao pagamento do 13º salário dos servidores. A vasta maioria dos gestores municipais mineiros (96%) afirmou que o recurso extra proveniente do adicional de 1% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ajudará no pagamento da gratificação natalina.

Esse repasse adicional, celebrado como uma conquista da CNM, chegou ao seu 19º ano de vigência e foi criado justamente para reforçar o caixa das prefeituras em dezembro, mês tradicionalmente marcado por queda nos repasses regulares e aumento das despesas.

A pontualidade no pagamento dos salários também aparece como um ponto positivo. Em Minas Gerais, 99% dos municípios (691 cidades) informaram que o salário do funcionalismo está em dia. Para o mês de dezembro, 93% dos gestores disseram que a folha será paga dentro do prazo, embora 5% prevejam algum atraso.

O pagamento do 13º salário representa um impacto financeiro expressivo nas contas públicas. Em todo o país, o custo estimado é de R$ 33,59 bilhões, beneficiando mais de 8,3 milhões de servidores municipais. Em Minas Gerais, a pesquisa aponta que 52% dos municípios optaram pelo pagamento parcelado do 13º salário, enquanto 46% escolheram a parcela única. Entre aqueles que optaram pela parcela única ou pela primeira parcela, 48% já haviam efetuado o pagamento até a conclusão da pesquisa, e outros 48% planejavam pagar dentro do prazo legal. Apenas 2% admitiram a possibilidade de atraso.

Questionado sobre os desafios à frente, o presidente da CNM afirmou que os municípios enfrentarão importantes obstáculos em 2026. Segundo ele, a Confederação tem atuado para criar condições mais favoráveis à gestão fiscal local. Um dos principais avanços citados é a Emenda Constitucional 136/2025, encabeçada pela própria CNM, que altera regras de pagamento de precatórios e de parcelamento de dívidas previdenciárias de estados e municípios.

A norma institui limites baseados na Receita Corrente Líquida (RCL) e cria um parcelamento especial de até 300 meses para débitos previdenciários, com o objetivo de dar maior previsibilidade orçamentária aos entes federativos. “Espera-se que, com os novos parcelamentos previdenciários e o modelo aprimorado de pagamento de precatórios, a EC 136/2025 reduza significativamente as despesas públicas aplicadas no serviço da dívida municipal”, afirmou Ziulkoski em entrevista ao EM.

No cenário nacional, a pesquisa evidencia grandes disparidades regionais na capacidade de gestão fiscal. O Nordeste enfrenta a situação mais delicada, com 26% dos municípios declarando incapacidade de equilibrar as contas. No Norte, o índice é de 23%. O Centro-Oeste apresenta 13% de prefeituras em dificuldade, enquanto o Sul se destaca com o melhor desempenho do país, onde apenas 8% dos municípios não conseguirão fechar o ano no azul.

No Sudeste, 16% das cidades enfrentam problemas financeiros. Dentro da região, Minas Gerais apresenta situação semelhante à do Rio de Janeiro, ambos com cerca de 17% de municípios em dificuldade. São Paulo registra índice um pouco menor, de 16%, enquanto o Espírito Santo se destaca positivamente, com apenas 8% das cidades incapazes de equilibrar as contas.

Fonte: Estado de Minas

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