Monitoramento de Pragas e Doenças do Cafeeiro.
O monitoramento das pragas e doenças do cafeeiro é uma etapa importante no planejamento fitossanitário de uma propriedade, pois se evita os gastos desnecessários com mão-de-obra, desgaste de máquinas e a perda dos produtos químicos empregados numa aplicação. Além disso, ajuda na redução dos problemas relacionados ao uso indiscriminado dos produtos fitossanitários, ajudando na preservação ambiental, na redução dos custos de produção, no aumento indireto da produtividade e no aumento dos lucros com a atividade agrícola.
Assim, o monitoramento constitui-se na base de todo e qualquer programa de manejo integrado, devendo ser uma prática rotineira na cafeicultura moderna, independentemente do tamanho da área e da região onde se desenvolve.
A pesquisa científica tem gerado muitas informações a respeito deste assunto na cafeicultura e várias metodologias têm sido propostas. Algumas são muito complexas ou bastante trabalhosas para as pessoas que irão estar diretamente envolvidas na aplicação do plano de amostragem.
No artigo deste mês, iremos tratar de algumas metodologias empregadas no monitoramento das principais pragas e doenças do cafeeiro, fundamentada dentro dos padrões científicos e que ao mesmo tempo seja prática para execução em nível de campo.
Operacionalização do plano de amostragem
Maior ou menor rendimento na aplicação do plano de amostragem, depende do planejamento e da organização do trabalho de amostragem. Alguns procedimentos devem ser observados antes de executar a amostragem propriamente dita:
– Dividir a área de lavoura em talhões homogêneos (talhões de 3 a 5 mil plantas) com base nas cultivares utilizadas, na idade da lavoura ou na topografia do terreno (topo ou baixadas). Isto facilitará os monitoramentos que serão realizados nos anos subseqüentes, a coleta de material para análise química do solo e foliar, a operacionalização dos tratos culturais, aplicação de defensivos agrícolas ou fertilizantes e o escalonamento da colheita.
– Elaboração de um mapa da propriedade, situando todos os talhões cultivados com café, facilita o planejamento administrativo da propriedade.
– Em cada talhão devem ser confeccionadas as planilhas de avaliação, onde conste o número do talhão, tamanho (número de covas), cultivar, data de plantio, data da avaliação, responsável pela amostragem e a decisão alcançada. Planilhas diferentes podem ser confeccionadas para anotar todos os tratos culturais realizados no respectivo talhão ao longo do ano, bem como a quantidade de frutos produzidos. Estas planilhas constituem uma fonte de informação de grande valia para o produtor, à medida que se acumulem as avaliações de vários anos (histórico da propriedade).
Execução do plano de amostragem
Amostragem é uma etapa importante para aplicação correta e segura de produtos fitossanitários. Deve ser representativa da população original e realizada de maneira criteriosa. A tomada de decisão deve ser feita com base na amostragem em cada um dos talhões em separado (avaliação de uma única área não deve ser extrapolada para toda a propriedade).
O primeiro passo é definir como selecionar as plantas para coleta de material para avaliação dentro de um talhão. Recomenda-se que esta escolha das plantas seja totalmente ao acaso, selecionando as plantas através de um caminhamento em zigue-zague ao longo do talhão (figura 1).
Figura 1 – Esquema de caminhamento em zigue-zague para amostragem de folhas em um talhão cultivado com café.
O monitoramento da broca deve ser realizado em todas as lavouras (talhões) com plantas adultas, iniciando-se pelas adensadas, adensadas e irrigadas ou somente irrigadas; naquelas não irrigadas com previsão de baixa produção e finalmente naquelas mal colhidas ou não colhidas pela produção desprezível ou colhidas tardiamente.
Onde amostrar na planta escolhida?
Identificada a planta no talhão, a primeira dúvida é onde coletar material que seja representativa da infestação da praga ou da doença naquela planta (figura 2):
Figura 2 – Local de maior ocorrência das pragas e doenças no cafeeiro.
Quando iniciar a amostragem?
A eficiência do monitoramento está, por sua vez, relacionada com os conhecimentos da planta, sua fenologia e fisiologia de produção, da biologia das pragas e doenças, dos fatores edafoclimáticos da região e da correta diagnose dos problemas fitossanitários nas lavouras. Obviamente, estes conhecimentos representam um somatório da experiência prática adquirida ao longo do tempo, aliada aos conhecimentos teóricos obtidos pelo estudo das publicações sobre o assunto (tabela 1).
Tabela 1 – Época crítica de ocorrência das principais pragas e doenças do cafeeiro Zona da Mata Mineira. Vale ressaltar que estas épocas podem variar de uma região para outra.
O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de trânsito (acasalamento) que coincide com o período de 3 a 5 meses após a 1ª florada e continua sendo feito mensalmente, até cerca de 70 dias antes da colheita. A determinação da incidência de mancha de olho pardo em frutos pode ser iniciada a partir do mês de janeiro.
O que amostrar na planta escolhida?
a) Folhas: para avaliação da incidência da ferrugem, da mancha de olho pardo, da mancha de ascochyta e da porcentagem de infestação por bicho mineiro.
b) Frutos: para a determinação da incidência de mancha de olho pardo nos frutos e da porcentagem de infestação da broca.
No caso particular da mancha de phoma a amostragem é feita diretamente no campo, sempre no terço superior das plantas. Consiste em avaliar 10 ramos por planta (cinco de cada lado), contando o número de folhas (NFCMP) e ramos (NRMP) com sintomas da doença – deformação das folhas novas (1º ou 2º par) com lesões escuras nos bordos destas folhas e escurecimento e morte das pontas dos ramos.
Como amostrar?
a) Amostragem de folhas:
– Amostrar 20 plantas por talhão;
– No terço médio da planta escolhida;
– Escolher cinco ramos laterais ao acaso de cada lado da planta;
– Retirar uma folha completamente desenvolvida, do 3o ou 4o par de folhas, por ramo;
– Total de 10 folhas/planta (cinco de cada lado);
– Total de 200 folhas/talhão.
b) Amostragem de frutos:
– Amostrar em média, 50 plantas por talhão. Existe na literatura uma recomendação que este número depende do numero de plantas presentes no talhão, conforme apresentado na tabela 2, a seguir.
Tabela 2 – Número de plantas a ser amostradas em função do número de plantas presentes em cada talhão.
– Na primeira amostragem os frutos maiores provenientes da primeira florada, são coletados no terço superior da planta escolhida. Nas demais amostragens os frutos podem ser coletados no terço médio da planta;
– Escolher 4 ramos por planta (um em cada face). Em cafeeiros de porte elevado, utilizar escada durante a operação;
– Coletar 25 frutos/ramo no total de 100 frutos/planta;
– 50 plantas/talhão no total de 5000 frutos/talhão.
O que avaliar no material coletado?
Após a coleta do material, as folhas e os frutos são acondicionados em sacos plásticos devidamente identificados, pelo respectivo talhão, para posterior avaliação das pragas e doenças presentes.
Deve-se em primeiro lugar conferir o número de folhas e frutos coletados em cada talhão e depois anotar em uma planilha os dados correspondentes à avaliação de:
– Ferrugem: contar o número de folhas com pústula de ferrugem esporulando (NFCF).
– Mancha de olho pardo: contar o número de folhas com sintomas de mancha de olho pardo (NFCMOP);
– Mancha de ascochyta: contar o número de folhas com sintomas de mancha de ascochyta (NFCA);
– Bicho mineiro: contar o número de folhas com minas ativas, ou seja, com presença de larvas vivas nas minas (NFCMA) e o número de folhas com minas rasgadas (NFCMR).
O número de folhas com minas ativas é utilizado para o calculo da porcentagem de infestação.
– Broca nos frutos: separar e contar de todos os frutos sadios e frutos broqueados (considerar brocados todos perfurados na região da coroa).
Tomada de decisão
No cafeeiro vários estudos foram desenvolvidos com a ferrugem, com a broca e com o bicho mineiro, sendo conhecidos o níveis de infecção ou infestação que as plantas suportam sem que haja prejuízos econômicos decorrentes deste ataque. Para as demais pragas e doenças, ainda não temos esses índices estabelecidos e neste caso o monitoramento teria a função de verificar qual seria a época de maior ocorrência na região, para que possamos antecipar o início do controle.
De posse dos dados obtidos na avaliação, o passo seguinte é calcular a porcentagem de infestação da praga (ou infecção da doença) para que seja tomada a decisão em adotar ou não o controle químico.
– Ferrugem: A porcentagem de infecção da ferrugem é calculada conforme a seguinte expressão:
Se a porcentagem de infecção estiver abaixo de 5% de folhas com pústulas esporulando, recomenda-se aplicar fungicida a base de cobre no controle da doença. Se o índice de infecção estiver entre 5 e 12,5%, recomenda-se a aplicação de fungicidas sistêmicos. Acima deste valor, a eficácia dos produtos no controle da doença pode apresentar comportamento variável.
A contagem de pústulas inativas ou curadas pode ser realizada quando houver interesse em avaliar a eficiência de controle com fungicidas sistêmicos.
– Não existe índice para tomada de decisão em relação a mancha de olho pardo, a mancha de ascochyta e a mancha de phoma. Na verdade este índice depende de vários outros fatores (luminosidade, exposição da lavoura, vento, altitude, espaçamento, nutrição e das condições microclimáticas) que podem variar dentro de uma mesma propriedade.
– Bicho mineiro: A porcentagem de infestação por bicho-mineiro é determinada segundo a expressão:
Orienta-se iniciar o controle do bicho-mineiro, quando a porcentagem de infestação estiver acima de 30% de folhas com minas ativas no terço médio ou cima de 20% de folhas com minas ativas no terço superior. Em lavouras novas em formação, de até três anos de idade, o controle químico deve ser realizado sem a necessidade de determinação da porcentagem de infestação, ou seja, assim que as primeiras minas ou lesões forem constatadas nos cafeeiros. É recomendável que o controle químico seja feito somente nos talhões ou parte dos talhões mais infestados, a fim de auxiliar na preservação dos inimigos naturais.
– Broca do cafeeiro: A porcentagem de infestação por broca nos frutos é determinada segundo a expressão:
Como o ataque não se distribui uniformemente na lavoura, recomenda-se o controle apenas para os talhões em que a infestação da praga já tenha atingido 3 a 5% de infestação.
Exemplo de uma planilha para anotação dos dados obtidos na avaliação das doenças e pragas do cafeeiro:
Conclusão
Conforme dito anteriormente, o monitoramento de pragas e doenças constitui-se na base de todo e qualquer programa de manejo integrado. Uma estimativa errada da quantidade de doença ou da porcentagem de infestação de uma praga, causada pela amostragem incorreta, implicará em decisões incorretas na tomada de decisão em relação ao controle químico na propriedade. Isto implica diretamente em perda de produtividade e aumento do custo de produção para o produtor, além dos efeitos indiretos.
Referências bibliográficas
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Ivaldir Donizetti das Chagas
Prof. História e Quimica
Bacharel em Fitotecnica e Fitopatologia CREA-MG 160847B
Bacharel em Teologia.
35-991215966 (TIM) ZAP