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Crise no setor faz mercado da batata encolher e produtores buscarem alternativas no Sul de Minas’

Julia Toledo13 de setembro de 201810min0
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Região é ainda segunda maior produtora do estado, mas baixo preço e alto custo têm feito produtores migrarem para outras culturas.

A queda do preço no mercado e o alto custo nas lavouras têm afetado a produção de batatas no Sul de Minas. A crise do setor tem feito produtores abandonarem a cultura em busca de alternativas mais rentáveis.

Esta reportagem faz parte da série “Além Café”, produzida pelo G1 Sul de Minas, que mostra as apostas dos produtores em outras culturas na região, além do tradicional café. As reportagens apresentam exemplos como a olivicultura, a vinicultura, o crescimento da soja e os desafios do mercado da batata. A série também relembra reportagens da EPTV, afiliada Rede Globo, sobre as demais produções que movimentam a economia no Sul de Minas.

A região hoje é a segunda maior produtora de batatas de Minas Gerais, maior estado produtor do país, com uma produção de 484,8 mil toneladas, o que representa 38,52% do volume total. O Sul de Minas fica atrás apenas do Alto Paranaíba, responsável por 53,72% de tudo o que é produzido. No entanto, o setor vive uma de suas piores crises.

“Está péssimo. Hoje existe uma oferta grande de batatas, queda no consumo e o preço despencou, não cobre o custo de produção. Essa crise vem desde o ano passado. Antes da crise tínhamos em torno de 2,7 mil produtores. Agora ainda não temos um dado exato, mas vai quebrando né, o pessoal está diversificando, entrando para o brócolis, o morango. Tira o prejuízo de um e vai pegando o do outro”, diz o presidente da Associação dos Bataticultores do Sul de Minas, José Daniel Rodrigues Ribeiro.

A crise já começa a afetar a produção no estado. Nos últimos 10 anos, a área plantada caiu de 40,4 mil hectares em 2008 para 38,6 mil hectares em 2018. A produção deste ano, de 1,242 milhão de toneladas, é a menor dos últimos 3 anos.

No Sul de Minas, Ipuiúna lidera a produção de batatas com 117,8 mil toneladas. O município é o 2º maior produtor do estado, perdendo apenas para Perdizes, no Alto Paranaíba, que produz mais do que o dobro: 239 mil toneladas.

Segundo o representante da associação sulmineira, além do baixo preço, a produção de batatas na região tem sofrido a concorrência do produto importado, utilizado como base para as batatas congeladas, comuns em supermercados.

“Hoje a quantidade de pessoas fazendo a refeição fora do lar é muito grande e esse pessoal come batatas no restaurante, que compram da batata importada. Só pra você ter uma ideia, hoje nós estamos importando em torno de 300 mil toneladas de batata pré-frita congelada e para fazer 1 kg dessa batata são necessários 2 Kg de batata in natura”, diz o representante da associação regional.

Diversificação
Quem depende da batata teve que encarar a desvalorização ou encontrar novas alternativas. Rodrigo Silva tem 38 anos e é produtor rural em São Bento, distrito de Santa Rita de Caldas. O sustento da casa, com a mulher e três filhos, depende da pequena propriedade rural da família. Em 2017, o balanço foi de custos muito elevados e lucro próximo de zero.

O preço médio de uma saca de 50 quilos de batata vendida por Rodrigo era de R$ 38 no ano passado. O melhor preço que conseguiu colocar no mercado foi de R$ 42. O preço considerado baixo mal cobria os custos de produção de uma saca, que ficavam em média R$ 30.

O principal vilão na produção de Rodrigo foi o óleo diesel. Chegou a usar 7 mil litros do combustível na lavoura durante os 90 dias do ciclo da batata. “O diesel é muito caro e ainda tinha o preço da irrigação, já que teve pouca chuva, dos extensivos agrícolas e pagamento de funcionários”.

Tantos obstáculos fizeram o produtor desistir do cultivo das batatas depois de cinco anos e investir no milho e no leite, com lucro garantido. “Por um tempo plantar batata teve bom, não perdi dinheiro, mas este ano eu fiquei com medo e decidi parar. O negócio está difícil de mexer. Tem bastante gente largando mão porque não tem como mexer, você vai tentar tocar é pior”, explica.

“Tem amigo meu que plantou esse ano e vai tentar plantar mais uma vez. Se não der certo, também vai parar”.
Mesmo diante do cenário, Rodrigo espera uma melhora para voltar a investir no setor. “No ano que vem quero tentar voltar pra produção. Temos esperança, tem que melhorar pra gente trabalhar, senão fica difícil. O povo da cidade, comércio em geral também depende do produtor rural”.

Perda de espaço
Por décadas, o Sul de Minas foi o maior produtor de batatas do estado. Mas perdeu o status para a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. O principal motivo apontado por especialistas é o relevo, que dificulta a mecanização completa da lavoura.

“A maioria das áreas nossas no Sul de Minas tem o relevo muito acentuado e não permite mecanizar a lavoura no ciclo todo. O Triângulo já tem o planalto mais regular, onde a mecanização pode ser feita desde o plantio até a colheita. Em função disso, muitos produtores aqui do Sul de Minas transferiram as produções para o Triângulo”, explica o pesquisador Joaquim Gonçalves de Pádua.

Joaquim é responsável pelo núcleo de pesquisas da batata na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) no Sul de Minas. Ele também coloca a escassez de água como outro fator para a queda de produção na região.

“Tivemos um problema sério a partir de 2014. Afetou muito porque a batata precisa de bastante água e a gente não restabeleceu até hoje. O Lago de Furnas que é o grande fornecedor de água naquele entorno de Areado, Alfenas, para irrigação das lavouras, hoje não pode usar mais porque o volume baixou muito e não pode retirar água. São vários fatores que juntos deixaram nossa região menos competitiva”.

Na unidade da Epamig, o foco está em pesquisas de novas variedades do produto, diferente da Ágata, que domina a maior parte da produção brasileira.

“A variedade Ágata é mais exigente, não serve para processamento, é muito suscetível ao ataque de doenças, é uma variedade cara. O que a gente tem feito junto com a Embrapa é buscar um material mais rústico, mais resistente a pragas e doenças, sem uso de fertilizantes, mais tolerante à acidez de solo pra ficar mais econômica pro pequeno produtor principalmente”.

Mesmo com o avanço das pesquisas destas novas variedades, a Epamig trata a perda de produção de batatas no Sul de Minas como um caminho sem volta. A tendência, na opinião dos especialistas, é que os pequenos produtores percam mais espaço para as grandes lavouras, com alta tecnologia e mecanização completa.

Diante deste cenário, a Epamig tem orientado os pequenos produtores, principalmente na região da Serra da Mantiqueira, a investirem na fruticultura, produção que depende menos das variações do solo e de mão de obra.

“Trabalhamos no incentivo da agricultura familiar e no cultivo orgânico, para aproveitar o solo de forma sustentável. A produção orgânica agrega valor muito maior. Agregar valor nessas pequenas produções é fundamental para que elas possam competir com os grandes produtores”.

 

Fonte: G1.com.br

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