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Brumadinho tem audiência em memória das vítimas

Redação26 de abril de 20198min0
BrumadinhoAudiencia
Mais de 70% das mortes causadas pelo rompimento da barragem da Vale são atribuídas a acidente de trabalho grave.

Parentes das vítimas cobram que as buscas aos corpos sejam mantidas. Tragédia é classificada por trabalhadores como crime trabalhista e ambiental – Foto: Clarissa Barçante

“Que dor é essa, vermelha de lama”. “Somos dessa terra, por mais que padeça, somos Brumadinho”. Versos de sofrimento mas também de união foram cantados por coral de crianças e adolescentes da cidade, em meio a faixas de trabalhadores registrando “não foi acidente, foi mais um crime trabalhista e ambiental”.

Assim Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, recebeu audiência pública realizada no município nesta quinta-feira (25/4/19), dia em que o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, completa três meses.

A reunião foi pedida pelo presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Celinho Sintrocel (PCdoB), para marcar o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidente de Trabalho, celebrados em 28 de abril.

“Muitas das vítimas desse crime que foi o rompimento da barragem eram trabalhadores da Vale, que não tomou providências para proteger nem eles e nem a população. O mesmo tem que ser dito sobre os órgãos públicos de fiscalização”, frisou o parlamentar.

Destacando o simbolismo da audiência ser realizada próximo ao dia da segurança do trabalho, o deputado indagou como se poderia explicar o fato de uma empresa como a Vale manter um refeitório e um escritório administrativo funcionando abaixo de uma barragem de rejeitos.

Este foi o caso de Córrego do Feijão, razão de muitos empregados da empresa estarem entre os mortos pela avalanche de lama.

País no ranking de acidentes – “Nem a tragédia de Fundão foi capaz de ensinar alguma coisa à Vale”, criticou o parlamentar, referindo-se ao desmoronamento da barragem, também da Vale, localizada em Mariana (Região Central), ocorrido em 2015.

Além de ressaltar essas ocorrências, o deputado ainda advertiu que o Brasil é o quarto colocado entre os países que mais registram acidentes de trabalho fatais. Segundo destacou, a cada 15 segundos uma vida se perde no mundo, em função de doença ou acidente envolvendo o trabalho.

Mortes por acidente de trabalho estariam sendo desconsideradas

Desde o rompimento em Brumadinho, foram registradas ou estão em processo de registro no Sistema Nacional de Mortalidade 208 mortes relacionadas à tragédia.

Mais de 70% delas (149) foram registradas ou estão em processo de lançamento no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) como tendo sido causadas por acidente de trabalho grave.

Os dados foram apresentados por Márcia Lazareno, do Centro de Referência Regional de Saúde do Trabalhador (Cerest) de Betim, vinculado ao SUS.

Segundo ela, apesar do trabalho desenvolvido pelo Centro para levantar as mortes que ocorreram em Brumadinho por acidente de trabalho, familiares de vítimas estariam recebendo benefícios como pensão por razão de morte tipificada como comum.

Márcia esclareceu que isso não muda a situação para os familiares. “Mas pode representar um problema maior para a sociedade, pois estatísticas corretas oferecem instrumentos mais fortes para cobrar reparações futuras que venham a ser necessárias”, frisou a servidora.

Ela alertou, ainda, que essa distorção também pode ter mais impactos financeiros para a sociedade e os contribuintes, e menos para a Vale.

Isto porque benefícios por morte comum recaem, segundo ela, sobre o sistema de previdência nacional, enquanto nos casos de acidente de trabalho a Vale é que teria que arcar com os benefícios.

A representante do Cerest observou que essas distorções têm sido informadas à Previdência, para possíveis encaminhamentos, e na sequência também a outras instâncias afetas à questão.

Especialista alerta para adoecimento e defende rede de cuidados

Já a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jandira Maciel da Silva, citou outras grandes tragédias que ocorreram em outros países, como a Índia, para concluir que “o comportamento das empresas pelo mundo tem sido muito parecido com esse que estamos vendo em Brumadinho”.

Para Jandira, em situações como essas as populações locais precisariam se unir na busca de outras formas de organizar o mundo do trabalho, construindo novas opções por exemplo à mineração, no caso do município.

Ela ainda advertiu que ocorrências como a da barragem do Córrego do Feijão podem destruir o futuro daqueles que ficam, levando ao adoecimento da saúde mental e consequentemente a casos de depressão, de violências diversas e de piora de doenças crônicas.

Emoção em relato sobre vítimas não encontradas

Choro e embargo da voz marcaram a participação da representante da Comissão de Familiares Não Encontrados, Josiane Melo.

Josiane perdeu a irmã, grávida de cinco meses à época, e que nesta quarta (25) faria 40 anos. “Estamos presos na lama há 90 dias, acordamos e dormimos nela, é como se estivéssemos sendo batidos no liquidificador”, disse ela.

Josiane cobrou que as buscas não sejam interrompidas até que as vítimas não encontradas, 37 segundo frisou, sejam localizadas e todas identificadas.

Com esse objetivo, ela revelou que a comissão tem se reunido semanalmente com representantes da Defesa Civil e do Instituto de Medicina Legal (IML). “Queremos sepultar nossas jóias”, frisou Josiane.

Ato público – Após a audiência, realizada no Espaço Casa Nova, os participantes se deslocaram para o trevo que dá acesso ao município, onde foi realizado um ato em memória das vítimas.

Fonte: almg.gov.br

Redação


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