Quase um ano depois do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, o novo coronavírus impôs ao país um outro drama, o da mutação, e está devastando grandes cidades de todas as regiões do país, como mostra levantamento feito pelo Estado de Minas, que reuniu indicadores acelerados da doença respiratória em 10 municípios: Araraquara e Jaú, em São Paulo; Salvador e Feira de Santana, na Bahia; Chapecó (SC), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Velho (RO), Santarém (PA) e Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
Em muitas cidades, a curva de transmissão segue em patamar alto com reflexos na ocupação crítica de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs). Prefeitos temem que se repitam as cenas vistas em Manaus, onde pacientes infectados morreram em casa, sem a opção de atendimento na rede hospitalar saturada.
Os governos da Bahia e do Ceará decretaram toque de recolher para tentar deter a transmissão do coronavírus. Na Bahia, a medida valerá por sete dias, das 22h às 5h, em 343 municípios, onde o comércio e as empresas prestadoras de serviços terão de encerrar atividades até 21h30, assegurando a volta para casa de seus empregados. O toque de recolher já vale no Ceará, entre 22 h e 5h, e se estenderá pelos próximos 10 dias. O comércio só poderá funcionar até 20h.
No Norte do Brasil, a rede hospitalar de Santarém chegou à ocupação máxima no último dia 9. Dos 44 leitos de UTI exclusivos para tratamento de pacientes com COVID-19, 38 estão sendo usados por pessoas com diagnóstico confirmado e seis por pacientes com suspeita de contaminação. Em Chapecó, todos os leitos de UTI da rede pública estão ocupados. Araraquara tem o quarto dia com 100% de ocupação dos equipamentos de UTI e enfermaria, levando à prefeitura decretar lockdown. Em Feira de Santana, a ocupação dos leitos de terapia intensiva no hospital de campanha atinge 89%. Em Salvador, a ocupação, na quarta-feira, era de 78%.
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O Ministério da Saúde confirmou ontem 51.879 casos de contaminação pelo coronavírus no Brasil e 1.367 mortes em 24 horas. Com isso, o país passa a contabilizar 10.030.626 diagnósticos da doença respiratória e 243.457 óbitos desde o começo da pandemia.
O quadro da doença pode se agravar nos próximos dias, na avaliação do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes. Ele lembra que a desassistência enfrentada por Manaus já pode ser observada em várias regiões do país, até mesmo em cidades ricas, como Araraquara, em São Paulo. “Em outubro e novembro, tivemos queda significativa no número de casos. A leitura que fizemos, de gestores, e a população, é de que estávamos vencendo a pandemia e o vírus estava nos dando adeus. Ledo engano. Não é nada disso”, afirma. No entanto, ele afirma que a situação atual é muito mais preocupante. “Hoje vivemos uma situação muito pior, em relação ao que tivemos na primeira onda.”
A AMB criou força-tarefa para atuar no Norte do Brasil, escalando 30 médicos que foram para o Amazonas. “Manaus e Porto Velho estão com demanda máxima de leitos de UTI. Estão em processo contínuo de ampliação de leitos de UTI”, destaca o coordenador da força-tarefa, Fernando Sabia Tallo, especialista em terapia intensiva, anestesiologia e clínica médica. O grupo conseguiu abrir duas unidades de terapia intensiva com 22 leitos cada uma nos hospitais Plantão Aristóteles e Newton Lins.
O secretário de Saúde de Salvador, Leonardo Prates, se queixa do corte de recursos do governo federal para financiar leitos de UTI. O secretário afirmou que, desde janeiro, o município não recebe recursos da União para este fim. A única forma de barrar a doença tem sido adotar de medidas rígidas de isolamento social. “A gente espera que a população entenda as medidas restritivas que estamos adotando, porque a nossa capacidade de expansão de leito está chegando ao fim, estamos fazendo mais do que podemos”. Em reunião com os governadores, na quarta-feira, os chefes estaduais de Saúde se queixaram da falta de verba para os leitos de UTI, como relatou o secretário.
Na avaliação do secretário de Salvador, “a onda veio mais rápida e mais agressiva” nesses primeiros meses de 2021. “Nos próximos 30 dias, teremos mais leitos de UTI instalados do que tivemos na primeira onda. Nossa capacidade, a partir daí, no entanto, chega ao fim. Se a gente não conseguir conter a curva, cada vez mais, vamos endurecer nas medidas restritivas”, diz. Ele afirma que a capacidade financeira não permite a abertura de mais leitos.
“A estratégia que estamos adotando é abrir leitos. Hoje, abrimos mais 10 no Hospital Santa Clara, uma espécie de hospital de campanha”, informou Leonardo Prates. O hospital tem 30 leitos em funcionamento. Reforçando a estrutura das UPAs, com 10 leitos com respiradores. O secretário informou que Salvador fechou o dia com ocupação dos leitos de UTI em 75%.
mais restrições Em várias cidades, os prefeitos estão adotando medidas de distanciamento social mais rígidas, como por exemplo a decretação do toque de recolher, medida adotada em Salvador e Feira de Santana. “Essa semana, nós fechamos cinemas e teatros e estamos adotando o toque de recolher na cidade”, afirma Leonardo Prates.
O secretário credita ao verão o aumento nas internações. “Algumas pessoas relaxaram. Não havia a utilização de máscaras, atividades sociais privadas neste verão e, principalmente, a sensação com a vacinação de que a pandemia passou. Estamos passando a mensagem e melhorando a comunicação. Nossa situação é no ponto de atenção, mas ainda não está saindo do controle. Porém, temos sintomas de agravamento da pandemia na cidade, como, por exemplo, muitos hospitais privados que estão com a capacidade lotada, assim como alguns hospitais públicos. O Hospital do Subúrbio, do governo estadual, está com 100% de ocupação e o Hospital Sagrada Família, da prefeitura, está também com 100%. A nossa taxa geral está em 75%”.
A Secretaria de Saúde de Chapecó informou que a cidade recebeu 15 respiradores e aumentou a fiscalização feita pela Guarda Municipal, polícias militar e civil e Vigilância Sanitária. Foi aprovada lei que estipula multas e interdições a estabelecimentos, e editado decreto proibindo o funcionamento de bares e casas noturnas, suspensão das aulas.
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia informou, em nota, que não está tendo dificuldades no atendimento hospitalar. Todos os pacientes que precisam de leitos para a COVID-19 foram atendidos prontamente. “Atualmente a ocupação de leitos de UTI para COVID-19 está em 66% com 209 leitos. Já na enfermaria a ocupação se encontra também 66%, com 136 leitos. Somando um total de 345 leitos específicos para a COVID-19. Os leitos são aumentados de acordo com a demanda”, destacou. O aumento no número de casos de contaminação é atribuído às aglomerações durante as festividades nos feriados no fim do ano.
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