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Novas tendências expõem insatisfação generalizada com atual modelo de trabalho

Redação6 de outubro de 20228min0
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Movimentos sugerem que parcela crescente da população vem repensando a forma como se relaciona com o trabalho

No mercado de trabalho, expressões em língua inglesa são cada vez mais incorporadas ao vocabulário. E se, até pouco tempo atrás, os estrangeirismos eram usados para substituir termos nacionais – a reunião passa a ser chamada de “meeting”, e o conhecimento, de “know-how” –, agora, terminologias importadas são adotadas para falar sobre fenômenos comportamentais mais complexos. É o caso de “great resignation”, ou “grande renúncia”, que descreve o movimento massivo de pedidos de demissão voluntária, que ficou muito em evidência nos Estados Unidos, aparecendo também no Brasil, ainda que mais timidamente.

Mais recentemente, o “quiet quitting” fez barulho na mídia e nas redes sociais. Trata-se de uma postura laboral pautada pela decisão de limitar suas tarefas ao que é necessário, evitando longas jornadas e sobrecarga. Em alguns casos, o comportamento pode ser lido como um “fazer corpo mole”. Embora a demissão não seja necessariamente um objetivo, para muitos, esta é uma opção. Mas, diferentemente da great resignation, o trabalhador prefere ser desligado da empresa por iniciativa da contratante em vez de ele mesmo pedir contas – não por outro motivo, o fenômeno vem sendo chamado também de “demissão silenciosa”.

Por fim, lido como um contraponto ao quiet quitting, há o “fatfire”, tendência que vem ganhando força e que prega o foco em altas cargas de trabalho visando a uma aposentadoria precoce. Popularmente, estamos falando do famoso “fazer um pé de meia” na juventude para, no futuro, desfrutar de estabilidade financeira sem precisar do trabalho. Em tese, para que essa estratégia funcione, é preciso calcular o valor que deverá ser acumulado para, posteriormente, ser possível viver confortavelmente de renda.

Convergentes

Embora distintos e, aparentemente, antagônicos, esses fenômenos têm muitos pontos de convergência. Principalmente quando nos detemos sobre as suas motivações. É o que indica o psicólogo organizacional Lucas Freire. Para ele, todos esses movimentos sugerem que uma parcela crescente da população, por diversos motivos, entre os quais o cuidado com a saúde mental e com o bem-estar, vem repensando a forma como se relaciona com o labor.

Não por acaso, esses fenômenos emergiram e ganharam apelo após a pandemia da Covid-19, quando muitos passaram a rever seus valores e a repensar prioridades.

“Estamos falando de movimentos pautados, sobretudo, pela aversão e pela ruptura com a maneira como nossa sociedade estruturou o trabalho”, crava o especialista, dizendo que esses novos conceitos estão interligados pela insatisfação das pessoas em relação à vida profissional. “São respostas a um mercado que é pouco acolhedor”, sinaliza.

Freire pondera que essas reações podem ser, muitas vezes, disfuncionais. Se não for algo planejado, a great resignation, por exemplo, pode levar os indivíduos a uma situação de instabilidade financeira. Já o quiet quitting tende a macular a imagem do profissional, gerando prejuízos para a carreira dele. Por fim, o fatfire é um potencial desencadeador de uma série de distúrbios de ansiedade e estresse. “Mas, por mais que veja esses movimentos de forma crítica, acredito que eles são também como um chamado social para um despertar de consciência sobre a importância de as instituições promoverem um ambiente de trabalho mais saudável”, destaca.

Perigo

Falando especificamente sobre a mais nova moda do mercado de trabalho, o fatfire, a especialista em comportamento humano Carolina Jannotti sobe o tom. Para ela, trabalhar incessantemente esperando uma recompensa no futuro é um perigoso engodo, gerando prejuízos para a saúde, especialmente provocando danos emocionais relacionados a ansiedade, depressão, exaustão e estresse.

“Muitas pessoas têm o hábito de condicionar a felicidade a algo no futuro. Dizem que serão felizes e realizadas quando forem promovidas, quando tiverem o carro dos sonhos, quando o faturamento delas dobrar… Mas elas se esquecem de viver o agora, se esquecem de que o tempo é a moeda da vida, não o dinheiro”, critica.

No cerne da lógica que move o fatfire, Carolina percebe o ímpeto de sacrificar o hoje visando ao amanhã. “O problema é que, com essa atitude, você deixa de cuidar da sua saúde, da sua família e dos seus relacionamentos em busca de condições financeiras que você julga necessárias para ter condições de cuidar da saúde, de estar com a família e de nutrir bons relacionamentos”, expõe. “Contudo, esse pensamento ignora, por exemplo, que é no presente que seus pais estão vivos e que, talvez, quando você alcançar as condições ideais, eles já não estejam aqui. E ignora também que a sua saúde é boa hoje, mas, se não for cuidada, provavelmente não será daqui a alguns anos”, pontua.

Além disso, a especialista destaca que, mesmo para quem alcança o objetivo de não mais depender de um trabalho para ter renda, a estratégia pode ser frustrante, pois tudo pode simplesmente desmoronar. “O movimento fatfire desconsidera situações que não estão no nosso controle. Um imprevisto familiar, de saúde ou econômico pode influenciar as suas reservas e seus rendimentos, sendo necessário retomar as atividades profissionais, o que é um desafio maior para o trabalhador aposentado precocemente, que está fora do mercado e, provavelmente, desatualizado”, sinaliza.

Ilusão. Carolina Jannotti conclui que, do ponto de vista da produtividade, engana-se quem pensa que trabalhar o dobro do tempo significa alcançar resultados em dobro. “O modo de vida apregoado pelo movimento fatfire não te garante o dinheiro que você gostaria de ter, pois um dos pilares da produtividade é o descanso. O equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional é essencial para proporcionar a alta performance”, sentencia.

Fonte: Super Notícia

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