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Por carreira, jovens congelam óvulos e impulsionam mercado da fertilização

Redação21 de agosto de 202314min0
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De 2020 a 2022, cresceu em 80% o número de mulheres com menos de 35 anos que realizaram o procedimento

Em pleno início de carreira como anestesista, em junho deste ano, ainda com 34 anos, Daniele Tailla Oliveira resolveu congelar seus óvulos. O procedimento armazena os gametas, ainda em bom estado, e possibilita à mulher que, no futuro, possa decidir ou não pela maternidade. “Não tenho a menor condição de ter filho agora, mas mantenho o sonho de ser mãe”, justifica a médica. Assim como Daniele, centenas de outras brasileiras, que querem postergar a formação de uma família para focar na carreira profissional, estão optando pela técnica.

Para se ter uma ideia, entre 2020 e 2022, em plena pandemia, cresceu em 80% o número de mulheres, com menos de 35 anos, que realizaram o congelamento de óvulos, de acordo com dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um estudo da Redirection International, empresa especializada em desenvolvimento corporativo, aponta que o setor movimenta cerca de R$ 1,3 bilhão no Brasil e pode chegar a R$ 3 bilhões até 2026.

Com um mercado tão promissor, Minas perde apenas para São Paulo no número de centros de reprodução assistida, são 23 contra 66. Só em Belo Horizonte, há 11 clínicas especializadas. Uma das mais antigas na capital, criada em 1995 pelos médicos Selmo Geber, já falecido, e Marcos Sampaio, é a Origen, que já tem filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. De 2022 para 2023, a empresa teve um crescimento de 15% e o faturamento anual está na casa dos milhões.

Criada com foco em reprodução humana, o médico fundador Marcos Sampaio, explica que a clínica hoje atende diferentes áreas, que podem contribuir no projeto de formação de uma nova família, como nutrologia e psicologia. “O congelamento de óvulos representa 30% de todo o volume da clínica”,  conta Sampaio.

Segundo ele, os motivos para o procedimento variam. Há mulheres que buscam a Origen antes de fazer um tratamento de câncer, que pode levar à infertilidade, ou antes de se operarem, mas a maioria faz o chamado “congelamento social”. “É o mais comum de todos os motivos: elas vão desenvolver suas carreiras [e postergam a maternidade]. Este é o verdadeiro empoderamento. Do ponto de vista reprodutivo, elas sempre ficaram limitadas à idade e tomavam decisão de ter filhos com medo de se arrependerem no futuro”, explica Sampaio.

No último ano, só em BH, a Origem atendeu entre 150 a 200 mulheres, que fizeram o “congelamento social”. “A grande maioria está entre 32 e 38 anos. Mas teve uma paciente de 28 anos, que passou num doutorado na Itália e vai passar cinco anos fora, que decidiu congelar os óvulos”, revela Sampaio.

Na clínica, cerca de 60% das mulheres atendidas são solteiras, mas há um percentual de aproximadamente 35% de mulheres casadas. “Tem aquelas que se casam mais tarde e, como não sabem se o casamento vai dar certo, ou se este vai ser o parceiro ideal para ser pai dos seus filhos, congelam por segurança”, explica o médico.

A anestesista Daniele Oliveira, por exemplo, está solteira, sem um relacionamento estável, e não descarta, em um futuro, uma produção independente. “À princípio, gostaria de ter uma gestação com família formada. Mas eu entrei no mercado de trabalho faz dois anos. Quero me estabilizar, me sentir mais estável profissionalmente e, em três ou quatro anos, pensar em ficar grávida”, explica.

Desde 2004, a Rede Mater Dei, em Belo Horizonte, também oferece o serviço de congelamento de óvulos, ao custo médio de R$ 15 mil. Segundo Rivia Lamaita, ginecologista e coordenadora do centro de reprodução humana da empresa, cerca de 50% da demanda é relacionada ao procedimento e, a maior parte desses congelamentos (70%), relaciona-se ao desejo de adiar a maternidade por questões sociais, afetivas, econômicas ou profissionais.

“Desde a pandemia e a necessidade do confinamento, houve uma mudança na percepção da constituição familiar e observamos um aumento em torno de 100% na procura pela criopreservação de óvulos por causa social”, explica a doutora.

Daniele Tailla Oliveira fez o congelamento de óvulos aos 34 anos de idade

Daniele Tailla Oliveira fez o congelamento de óvulos aos 34 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal

Procedimento custa cerca de R$ 15 mil

Na Origen, o congelamento de óvulos custa, em média, R$ 15 mil. Cada procedimento pode ter um custo diferente de acordo com a avaliação médica da paciente. A mulher precisa fazer uma avaliação de sua reserva ovariana por meio de um ultrassom endovaginal, tomar uma medicação para estimular o amadurecimento dos folículos (que abrigam os óvulos até a ovulação) e só aí, no dia ideal, fazer a coleta. Segundo Sampaio a maior margem de lucro da clínica está justamente nesta etapa de investigação e preparo, pré-coleta. O armazenamento em si do material coletado tem custo alto de manutenção e taxas baixas às clientes.

Daniele Oliveira conta que seu procedimento custou entre R$ 15 mil e R$ 16 mil e ela conseguiu parcelar de seis vezes. Os ultrassons ela fez pelo plano de saúde, mas chegou a pagar medicação, de até R$ 3 mil, do próprio bolso. Após a coleta, ela paga uma taxa mensal de R$ 90 pelo armazenamento.

Segundo Sampaio, a Origen está com um projeto para criar parcerias com empresas e tentar outras alternativas, talvez por meio de financiamentos, para que o tratamento tenha um custo mais acessível à população.

Atualmente, mulheres em tratamento de câncer conseguem fazer o congelamento de óvulos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) em alguns poucos hospitais públicos. Em Belo Horizonte, o procedimento é realizado no Hospital das Clínicas.

“O acesso pelo SUS ainda é muito restrito, pois pouquíssimos serviços disponibilizam esse acesso e, geralmente, há uma longa espera, o que dificulta sua logística nesse setor”, explica a doutora Rivia Lamaita, da Rede Mater Dei.

Normalmente, planos de saúde não têm essa cobertura, mas há casos em que as beneficiárias ganharam na Justiça o direito de ter o procedimento pago pelas empresas. No dia 15 de agosto deste ano, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu, de forma unânime, que a Omint deverá custear o congelamento de óvulos de uma paciente com câncer de mama até o fim de sua quimioterapia.

Divulgação sobre o assunto influenciou mulheres a buscar técnica

Para a especialista em Reprodução Assistida Cláudia Navarro, a disseminação de informações sobre a possibilidade de preservar a fertilidade contribuiu muito para que cada vez mais mulheres buscassem o procedimento. Ela explica que o congelamento de óvulos, na verdade, foi pensado inicialmente para as pacientes que iriam passar por tratamentos oncológicos, como a quimioterapia, que pode diminuir a reserva ovariana e deixar a mulher infértil. “Com o tempo, percebeu-se que essa técnica poderia ser usada também para aquelas pacientes que pretendem postergar um pouco a maternidade”, diz.

Prova dessa disseminação de informações sobre o congelamento são os frequentes depoimentos de artistas que optaram pela criopreservação: Monique Alfradique, Ellen Roche, Sabrina Parlatore, Camila Rodrigues, Paula Fernandes, Paolla Oliveira, Fernanda Paes Leme, Mariana Ximenes, Nanda Costa, Nicole Bahls, Gabriela Pugliesi são algumas das famosas que congelaram óvulos e falaram abertamente sobre o assunto.

Além do foco na carreira, o congelamento de óvulos é também um processo de planejamento familiar. Cada vez mais os casais planejam ter menos filhos. Para se ter uma ideia, hoje, no Brasil, a taxa de fecundidade está em 1,6 filho por casal. Dez anos atrás, em 2013, essa taxa era de 1,75. Em 1984, quando nasceu o primeiro bebê por meio de fertilização in vitro no Brasil, a taxa era de 3,6. Os dados são do Banco Mundial.

Postergar a maternidade e planejamento familiar são os motivos mais comuns citados por quem procura o procedimento, segundo Cláudia Navarro. “As mulheres estão deixando para engravidar cada vez mais tarde por causa do próprio mercado de trabalho. Elas querem estar sempre se atualizando, fazendo mestrado, doutorado”, exemplifica.

Cláudia explica que a fertilidade feminina tem uma queda acentuada após os 35 anos, e ainda mais severa após os 37. Ela esclarece que as mulheres já nascem com determinada quantidade de óvulos, que “envelhecem” junto com o corpo (vão perdendo a qualidade com o tempo). Quando um óvulo é congelado, ele permanece com a idade que tem, ou seja, se foi aos 32 anos, quando descongelado, ele ainda será um óvulo de 32. Quanto mais cedo forem congelados, maior a chance de serem mais saudáveis. “Óvulos de qualidade melhor vão nos permitir embriões de melhor qualidade e maior índice de gravidez. O ideal é que se procure uma clínica até os 34 anos”, orienta.

A médica explica ainda que o processo se inicia com uma avaliação e a paciente passa por alguns exames. Depois, ela precisa tomar injeções de um medicamento que estimula a ovulação (para que os folículos, que ficam no ovário, liberem mais óvulos que o normal). “Isso dura em torno de 10, 11 dias, e depende da resposta de cada paciente”, detalha.

Após esse processo, o médico fará ultrassons para “vigiar” a ovulação. No momento certo, acontece a coleta. “Ela é realizada em ambiente cirúrgico com uma sedação, uma anestesia mais superficial, digamos assim, e dura em torno de 15, 20 minutos. A paciente geralmente fica mais umas duas ou três horas na clínica para se recuperar bem antes de ir para casa”, diz.

Uma vez coletado, o óvulo pode ficar eternamente congelado em nitrogênio líquido a -196°C. Existem casos de bebês que nasceram de gametas congelados há cerca de 30 anos. Cláudia ressalta, porém, que, de acordo com as regras do Conselho Federal de Medicina (CFM), o gameta pode ser descartado pela clínica caso o paciente não cumpra com o combinado no contrato (como o não pagamento da mensalidade).

Quando descongelados, os óvulos são fecundados por meio da fertilização in vitro (FIV), cultivados em laboratório e inseridos no útero da mulher. No passado, os bebês nascidos dessa técnica eram chamados de bebê de proveta (proveta = tubo de ensaio). Esse nome caiu em desuso após evolução da técnica, e hoje a FIV é realizada com os gametas colocados sobre placas de cultura. Há ainda, dentro da FIV, a injeção intracitoplasmática (quando o espermatozóide é injetado no citoplasma do óvulo).

Fonte: O Tempo

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