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Mundo tem maior número de conflitos desde a 2ª Guerra; vivemos em um planeta mais perigoso?

Redação30 de setembro de 20248min0
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Ucrânia, Israel e Sudão lançam sombra de terror, e especialistas discutem se outros atores globais podem entra diretamente nos embates

O mundo tem, em 2024, o maior número de conflitos ativos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. São 56 combates ao redor do planeta, inclusive as duas guerras, no Oriente Médio e na Ucrânia, que hoje ocupam o noticiário internacional. O cenário foi mencionado pelo presidente Lula (PT) na Organização das Nações Unidas (ONU) neste mês, acompanhado por um pedido de reforço da atuação da entidade pela paz. Mas o aumento do número de embates significa que o mundo está se tornando mais perigoso?

Depende para quem. É a resposta de especialistas em relações internacionais, que acompanham com apreensão, mas cautela, a tensão crescente em diferentes países. O perigo não é simétrico e atinge cada região de forma diferente, argumenta o professor de política internacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes.

“Em vários sentidos, podemos argumentar que o mundo se tornou mais perigoso. Claro que esse perigo se distribui de forma heterogênea, não é em todas as partes que aumentou o número de conflitos. Algumas regiões, a África, especialmente, vêm tendo recrudescimento deles e há, sobretudo, um aumento da corrida às armas. Há um risco, e ele é global, de nuclearização dos conflitos, de guerras nucleares”.

O risco da nuclearização é acentuado pela guerra da Ucrânia, capitaneada por uma das maiores potências nucleares do mundo, a Rússia. O presidente russo Vladimir Putin ameaçou, mais de uma vez, utilizar seu arsenal. Na África, a guerra do Sudão dura um ano e meio e jogou à fome metade da população, 13 milhões de pessoas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

O levantamento sobre o número de embates no mundo é divulgado pelo Índice Global de Paz (GPI, na sigla em inglês), que monitora e ranqueia os países onde há mais conflitos ou, pelo contrário, são mais pacíficos. O relatório mais recente também destaca a internacionalização dos conflitos: atualmente, 92 países estão envolvidos em confrontos fora de seu próprio território.

O professor de geopolítica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) José Alexandre Hage lembra que, ainda que hoje haja um número maior de conflitos, o período imediatamente pós-Segunda Guerra foi tumultuado pelo movimento de descolonização, por exemplo. Hoje, a sensação de perigo aumenta, argumenta ele, devido à disseminação das imagens de conflitos para todas as partes do mundo.

“Talvez a ideia de que hoje o clima é mais quente seja por causa das redes sociais. Você dá uma publicidade maior do que antes. Mas há conflitos que, no fundo, perduram desde os anos 60 e 70 e não foram totalmente concluídos, como ocorre na disputa de poder no Líbano, nas guerras de golpes e contragolpes no Congo, e daí por diante”, pondera.

Estamos à beira de uma Guerra Mundial?

O número crescente de conflitos prenuncia uma nova Guerra Mundial? O equilíbrio de poderes no mundo é delicado, reconhecem os especialistas consultados pela reportagem, porém uma escalada até uma guerra de potências depende de riscos que elas ainda não parecem dispostas a correr.

“A chance sempre existe, mas eu acredito que não é tão fácil assim. Por quê? Porque agora tem que se levar em conta algo que na Guerra Fria não se levava tanto, que é o seguinte: quais são os pontos que os países ganhariam com o novo conflito mundial? Será que uma grande potência se empenhará em prol de uma confusão de que depois ela não saberá como sair?”, provoca o professor da Unifesp José Alexandre Hage.

O professor detalha com exemplos. “Será que Israel, atacando o Líbano, não causará um conflito global? Temos que saber o seguinte: quem comprará a briga pelo Líbano? Quem se encarregará de defender o Líbano? Se Israel bombardear o Irã, quem comprará a briga pelo Irã? A hipótese é que a Rússia entre nessa situação. A Rússia entra em troca de quê? Ela já está atolada na Ucrânia. No campo da Guerra Fria, a situação era controlada, porque os Estados faziam guerra de procuração, sabiam o porquê de estarem ali. Na atualidade, tudo é muito turvo”.

Uma nova Guerra Mundial não envolveria somente questões de princípios, mas a economia global, lembra o professor de direito internacional da UFMG Lucas Carlos Lima. “Um conflito que envolva as grandes potências nucleares, sobretudo os grandes poderes, não me parece ser, neste momento, algo que essas mesmas potências tenham um interesse tanto econômico quanto político de entrar ou de sustentar. Então, neste momento, não há um interesse de um grande conflito, e os esforços são no sentido de diminuição deles”.

Ainda que não haja perspectiva imediata de uma guerra de escala mundial, os conflitos atuais não têm um horizonte claro de término. É o que mostram os dados. O Índice Global de Paz pontua que o número de conflitos que foram encerrados, seja pela força militar ou em um acordo de paz, está decaindo. O número de vitórias definitivas caiu de 49% para 9% de 1970 à década de 2010, e os conflitos que terminaram em acordos de paz despencaram de 23% para 9% no mesmo período. A imagem de um mundo em convulsão, portanto, ainda não tem perspectiva de mudar.

Por Gabriel Rodrigues

Fonte: O Tempo

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