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Crescimento das bets preocupa setor produtivo de Minas Gerais

Redação4 de novembro de 20248min0
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Muitos brasileiros têm direcionado parte considerável da renda aos jogos virtuais e estudos já apontam prejuízos a diferentes atividades econômicas no Estado e no País

A crescente popularidade das bets no Brasil tem gerado preocupações no setor produtivo de Minas Gerais. Um dos principais pontos de apreensão é o fato de estudos apontarem que uma grande parcela da população está direcionando recursos que iriam para o consumo de bens e serviços, inclusive de necessidades básicas, às apostas esportivas e aos jogos de azar.

Recentemente, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) deixou clara a tensão do segmento com a “epidemia” de bets. Citando uma análise técnica do Banco Central (BC) que indica um alto volume de transferências realizadas por beneficiários do Bolsa Família para as casas de apostas, o presidente da entidade, Alexandre Poni, disse que o maior receio dos empresários supermercadistas é que as pessoas deixem de comer para apostar.

Com uma visão similar à da instituição setorial, o economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Paulo Casaca, diz que dados já sinalizam impactos das apostas no setor produtivo do Estado. Ele sublinha que os levantamentos estão mostrando que parte da renda da população está indo parar nas contas das plataformas de bets.

“Esse recurso que está sendo drenado inevitavelmente faz falta no varejo. As pessoas passam a consumir menos serviços, menos produtos nos supermercados, menos eletroeletrônicos, por exemplo, e isso acaba afetando todo o mercado”, observa.

“Isso sem contar o problema de saúde coletiva de tratamento dos viciados, aquelas pessoas que perdem a mão nas apostas e não conseguem se controlar mais”, completa.

Outro setor aflito com as apostas é o de alimentação fora do lar. Conforme a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seção Minas Gerais (Abrasel-MG), Karla Rocha, os estabelecimentos do segmento já sentem impactos notáveis no comportamento dos consumidores, que direcionam recursos do consumo para apostar, e nas relações de trabalho, já que funcionários também sofrem os efeitos negativos do vício em bets.

“A Abrasel observa que o problema pode afetar a produtividade e a estabilidade financeira dos colaboradores que, ao verem suas rendas comprometidas pelo hábito das apostas, enfrentam dificuldades que impactam o desempenho profissional e a saúde mental”, pontua.

Mercado imobiliário já sente efeitos das apostas

A presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Cássia Ximenes, também elucida a preocupação do setor com a popularização das bets e o consequente vício da população.

Segundo ela, números indicam que as pessoas estão deixando de aplicar dinheiro na caderneta de poupança, principal fonte dos financiamentos de imóveis, e que provavelmente isso está relacionado com o direcionamento de recursos às apostas. A executiva cita que a Caixa Econômica Federal, inclusive, mudou as regras de financiamento imobiliário. É que com menos valores para emprestar, o banco aumentou as restrições para a concessão de crédito.

“Na locação e compra de imóveis, ainda não temos um dado específico sobre impactos, mas percebemos que, se não houver um freio, daqui a pouco terá inadimplência. […] A gente teme que isso venha a acontecer, ou que as pessoas posterguem o financiamento e a compra de um imóvel, porque ficam nessa ilusão de tentar a sorte nas bets”, explica.

Entidades pedem ações para conter as bets

Para a presidente da CMI/Secovi-MG, que também é vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG), não se pode fingir que nada está acontecendo em virtude das apostas. Na avaliação dela, o governo federal precisa estudar os impactos das bets e tomar atitudes para solucionar os problemas.

“Acredito que é necessário fazer um diagnóstico do quão nocivo têm sido as bets para a sociedade e o que é preciso fazer para inibir isso, além da conscientização da população sobre o que isso representa”, afirma Cássia Ximenes.

Já a presidente da Abrasel-MG ressalta que a entidade entende que, além de campanhas de conscientização sobre os riscos do vício em apostas, é urgente uma regulamentação mais rígida para as propagandas de bets.

Para Karla Rocha, limitar o alcance da publicidade das plataformas pode ser uma medida importante para conter a alta do consumo descontrolado. “Em setembro deste ano, com esse objetivo, a Abrasel assinou um manifesto pedindo uma regulamentação mais restrita para publicidade e o acesso aos jogos de apostas on-line”, diz.

Na visão do economista da ACMinas, o problema das apostas é uma questão de saúde coletiva e uma simples proibição das bets não resolveria a situação. Contudo, do lado econômico, a regulamentação do setor é a medida mais prudente e imediata a ser utilizada.

Para Paulo Casaca, algumas ações que estão em discussão e implementação no País são importantes, como proibir o uso de recursos de programas sociais em apostas, regulamentar as empresas existentes e impedir que companhias atuem de forma clandestina. Ele também diz ser essencial estudar exemplos de como outros países lidaram com esse tipo de situação. “É fundamental que não deixemos esse problema crescer como uma grande questão de saúde coletiva e para que não se torne um grande problema financeiro”, pondera.

Fonte: Diário do Comércio

Redação


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