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6 pontos para entender por que o dólar está subindo tanto

Julia Toledo12 de setembro de 201818min0
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Combinação de incerteza eleitoral com tensões no mercado internacional fizeram a moeda flutuar; entenda esse movimento.

Após romper a barreira dos R$ 4 no último mês, o dólar está perto de bater nova máxima histórica. Mas o que tem feito a moeda flutuar tanto, afetando o humor dos investidores e fazendo o real perder valor? Nesta terça-feira, a moeda subiu 1,47%, a R$ 4,1539, renovando o maior valor do ano.

Veja mais abaixo 6 pontos para entender por que o dólar subiu tanto:

Indefinição eleitoral gera corrida por dólares

Guerra comercial afeta os emergentes

Alta do juros nos EUA fortalece o dólar

Crise das moedas emergentes afeta o Brasil

Fraqueza da economia contamina os mercados

Investidores aproveitam incerteza para especular

 

A primeira resposta está na incerteza sobre quem vencerá a corrida presidencial, mas também pesa a tensão nos mercados internacionais, um duro golpe para as moedas de países emergentes, entre eles o Brasil.

“A combinação do cenário de guerra comercial com a incerteza eleitoral deixa o mercado mais arisco”, avalia Cleber Alessie Machado, operador de câmbio da H.Commcor Corretora.

Na prática, as flutuações atuais ocorrem principalmente conforme cresce a procura pelo dólar: se os investidores veem um futuro mais incerto ou arriscado, buscam comprar dólares como um investimento considerado seguro. E quanto mais interessados no dólar, mais caro ele fica.

Nesta terça-feira, a moeda norte-americana chegou a tocar R$ 4,19. No mês de agosto, a alta foi de mais de 8%. No ano, a valorização já está ao redor de 25%.

Economistas e operadores ouvidos pelo G1 afirmam que a disparada do dólar reflete não só as dúvidas sobre a agenda de reformas no próximo governo, mas também um movimento de especulação, diante da dificuldade de se estimar um patamar para a moeda no médio prazo.

Esse tipo de flutuação é comum em períodos eleitorais. Em 2014, ano das últimas eleições presidenciais, a cotação do dólar rondava o patamar de R$ 2,30 até o início de setembro, quando a corrida eleitoral passou a influenciar mais fortemente o mercado.

No dia seguinte à decisão do segundo turno, com a reeleição de Dilma Rousseff, o dólar chegou a disparar mais de 4% logo após a abertura dos negócios. Em 12 de dezembro daquele ano, chegou a R$ 2,7341.

1. Indefinição eleitoral gera corrida por dólares

Os investidores estão mais inseguros com o futuro do país, diante da incerteza sobre quem vencerá a disputa presidencial. Na avaliação desses investidores, os candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto são menos comprometidos com determinados modelos de reformas econômicas.

Tais reformas, como a da Previdência, e a forma como elas serão feitas, são vistos pelo mercado como algo necessário para equilibrar as contas do governo, que têm fechado no vermelho nos últimos anos. O mercado vê com mais tranquilidade candidatos que seriam mais favoráveis aos modelos de reformas que acredita ser necessária. Candidatos alinhados à esquerda e os considerados ‘incógnita’ são vistos de forma mais reticente.

Sempre que os investidores acreditam que as chances de aprovar o ajuste ficam menores, eles correm atrás de dólares. Eles fazem isso para se proteger, já que a moeda dos Estados Unidos é considerada um dos ativos mais seguros do mundo em momentos de incerteza. E quanto maior a procura pelo dólar, maior seu valor sobre o real.

Isso aconteceu quando a proposta da reforma da Previdência, um dos pilares do ajuste fiscal, foi colocada em votação no Congresso. A expectativa de que ela fosse aprovada deixava o mercado otimista e fazia o dólar cair, e notícias no sentido contrário faziam a moeda disparar.

Em períodos eleitorais, o dólar oscila ainda mais, já que é momento de definir o futuro do país nos próximos quatro anos. A própria alta do dólar gera um efeito cascata, uma vez que importadores, empresas com dívidas em dólar e turistas passam a comprar a moeda, com medo de que ela se valorize ainda mais.

“Historicamente, em período pré-eleitoral, sempre se criou esse clima de incerteza, na medida em que se vê um candidato liderando pesquisas que colidem com o que o mercado consideraria o ideal”, destaca o economista Otto Nogami, professor de economia do Insper.
A maior incerteza no momento é a definição de quais os nomes disputarão o segundo turno das eleições, comenta o economista-chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira. “Ninguém absolutamente sabe qual vai ser o segundo turno. Daí fica difícil precificar isso nos ativos”.

Para o operador de câmbio da H.Commcor Corretora, Cleber Alessie Machado, o mercado tem passado o seguinte recado: se o futuro presidente se mostrar comprometido com o ajuste fiscal, ele pode voltar a apostar no Brasil.

“Há muito espaço para o dólar voltar abaixo de R$ 3,80 [em um cenário eleitoral alinhado com as expectativas dos eleitores] porque as nossas contas externas são mais robustas do que de outros países emergentes”, diz.

2. Guerra comercial afeta os emergentes

Com a ascensão do protecionismo, China e EUA estão travando desde março uma disputa comercial que já ameaça reduzir o ritmo da economia mundial. Os dois países têm aplicado uma série de sobretaxas sobre os produtos importados, em resposta a tarifas impostas anteriormente.

“A guerra comercial tende a continuar se agravando porque os EUA não vão recuar”, avalia o economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito.
De um lado, China e EUA estão envolvidos em uma ampla disputa sobre propriedade intelectual que acabou por atingir produtos comercializados entre os dois países. De outro, as sobretaxas sobre o aço e o alumínio, impostas para “proteger a indústria norte-americana”, acertaram em cheio setores estratégicos de grandes economias, especialmente Japão, Europa e o Nafta.

A piora das tensões gerou insegurança e provocou uma busca global por dólares, fazendo a moeda dos EUA valorizar frente a outras, especialmente as de países emergentes como Turquia e Argentina. O temor é que essas economias sejam atingidas por essas disputas, perdendo espaço para suas exportações e reduzindo seu crescimento, já que têm menor “poder de fogo” – com isso, os investidores tendem a tirar seus dólares dessas regiões.

O Brasil, por também pertencer a este grupo – sempre mais vulnerável a todo tipo de turbulência internacional – também sofre os efeitos dessa tensão. Por isso, parte da desvalorização do real pode ser explicada por esse movimento no exterior.

“Esse mau humor com emergentes começa a contaminar o Brasil dado que a gente faz parte dos emergentes”, diz Cleber Alessie Machado, operador de câmbio da H.Commcor Corretora.
Mas analistas acreditam que a situação cambial e monetária do Brasil é mais confortável que a de países equivalentes, como Turquia e Argentina, o que aumenta expectativas de um recuo da cotação do dólar ainda neste ano, passada a volatilidade do período eleitoral.

3. Alta do juros nos EUA fortalece o dólar

As taxas de juros dos Estados Unidos estão subindo gradualmente e isso faz com que os investidores retirem seus recursos de países emergentes e os enviem para a economia norte-americana.

Na prática, os títulos do tesouro norte-americano são considerados os ativos mais seguros e atrativos do mundo, mesmo pagando juros bem mais baixos que em outros países. Quando rendem mais, uma grande parte dos recursos alocados em outros mercados migra para estes papéis.

Este mecanismo cria um círculo vicioso: a moeda local perde valor para o dólar, o custo das importações aumenta de maneira automática e, com este, a inflação, animando os investidores estrangeiros a recuperar o que foi investido.

O Federal Reserve (banco central dos EUA) já subiu os juros duas vezes neste ano e o mercado acredita que outras duas altas virão ainda em 2018, colaborando para este movimento.

Como países emergentes como o Brasil são, de modo geral, altamente dependentes do capital estrangeiro, a saída de dólares destes países faz suas moedas enfraquecerem. Por isso, é comum que o dólar ganhe força quando isso acontece.

Apesar de o Brasil sofrer os efeitos dessa tendência, alguns países têm sofrido mais com a alta dos juros dos EUA, como Turquia, Argentina e a África do Sul. “O Brasil está melhor preparado neste momento porque tem a inflação sob controle, uma reserva internacional gigantesca e balanço comercial positivo”, explica Perfeito, da Spinelli.

Embora todas as moedas de países emergentes estejam sendo pressionadas, o Brasil leva vantagens em relação a outras moedas de países emergentes em razão dos mais de R$ 382 bilhões em reservas e porque, até o momento, não tem sido observada falta de liquidez ou fuga de dólares do país.

Dados do Banco Central mostram que, na parcial de agosto, até o dia 24, houve retirada de US$ 2,9 bilhões do país. No acumulado no ano, entretanto, o saldo ainda é positivo, com uma entrada líquida de US$ 25,4 bilhões. “É um lastro muito grande”, comenta Machado, da H.Commcor Corretora.

4. Crise das moedas emergentes afeta o Brasil

A forte desvalorização das moedas de países enfraquecidos por uma combinação de crises econômicas, alta dos juros nos EUA e a tensão comercial, em especial a lira turca e o peso argentino, acaba contaminando mesmo de que forma indireta outros mercados emergentes, inclusive o Brasil.

A lira turca despencou na primeira quinzena de agosto em grande parte devido às preocupações com a influência do presidente Tayyip Erdogan sobre a economia, suas repetidas solicitações por taxas de juros mais baixas e a piora da relação com os Estados Unidos.

A forte desvalorização da moeda da Turquia provocou turbulência nos mercados e um efeito dominó em outros países emergentes como o Brasil, sobretudo nas economias muito dependentes de capitais estrangeiros.

Do rand sul-africano ao peso argentino, passando pelo real brasileiro e pelo rublo russo, a maioria das divisas emergentes teve forte queda nos últimos meses.

A moeda da Argentina, que obteve recentemente um empréstimo de US$ 50 bilhões do FMI para enfrentar a desvalorização do peso, desabou 35% entre abril e junho, é outro exemplo desse movimento.

A Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil e importante comprador, principalmente, de veículos fabricados em território brasileiro, passa atualmente por uma crise de grandes proporções. Com as contas públicas no vermelho, o país gera dúvidas sobre a capacidade do governo de reordenar suas contas, e sofre com a inflação alta. O temor de contágio nesse caso é maior em relação ao Brasil por conta das relações comerciais próximas entre os dois países.

5. Fraqueza da economia contamina os mercados

Os dados sobre a atividade econômica também impactam o humor dos investidores e têm influência direta sobre o movimento dos mercados. Com a lenta recuperação do país, que tem crescido menos que no ano passado até o momento, o mercado reage com pessimismo e aumenta a procura por dólares.

Após economistas e entidades piorarem suas projeções para o PIB do Brasil, a economia brasileira apresentou um crescimento de 0,2% no 2º trimestre de 2018, na comparação com os três meses anteriores, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado foi sustentado pelo setor de serviços e pressionado por forte queda da indústria e dos investimentos, reforçando a leitura de perda de ritmo e recuperação ainda mais lenta da economia brasileira.

6. Investidores aproveitam incerteza para especular

O forte oscilação do câmbio também acaba favorece um movimento especulativo no mercado de dólar. Segundo analistas, operadores elevaram suas posições de compra ou de venda no mercado futuro, de forma a tentar se proteger ou direcionar a cotação da moeda. Nesse caso, não ocorre a compra ou venda de moeda propriamente dita, mas de contratos que garantem a compra ou a venda de dólares no futuro, por um preço fixado anteriormente. Trata-se, em geral, de uma aposta com a cotação da moeda.

“O cenário de incerteza tira o chão de todo mundo e especuladores tentam movimentar o mercado no sentido que seja mais conveniente para seus interesses e ganhos”, afirma Nogami.
Para o economista, à medida que se aproximar da data das eleições, o dólar tende a voltar a recuar e encontrar um novo piso “mais dentro da realidade”.

“Tem bastante especulação”, diz o professor Alexandre Cabral, da FIA. “Com essa bagunça eleitoral, em paralelo nosso risco lá fora está subindo. E pensam: ‘poxa, com Brasil arriscado e eleição louca, vamos especular no dólar’.”

A projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2018 avançou para R$ 3,80, segundo o último boletim Focus do Banco Central, o que reforça a visão de que boa parte da alta do dólar está diretamente relacionada com a incerteza eleitoral.

Para o economista Jason Vieira, na atual turbulência, não dá para falar nem em piso ou teto para o dólar. “É mistura de um elemento especulatório muito grande com uma incerteza eleitoral. Num contexto assim quem projetar o dólar no final do ano a R$ 4, R$ 4,10 ou a R$ 4,20 pode estar incorrendo a um erro muito grande”, afirma.

 

Fonte: G1.com.br

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